Salve Headbangers, aqui estamos novamente com a coluna do História & Metal e acredito que todo mundo que tenha ao menos um pouco de conhecimento historiográfico, um pingo de decência e bom senso sabe que o Nazismo foi uma mácula na história mundial, sem falar que nunca deve ser esquecido as atrocidades cometidas e o quão é vital o combate a qualquer levante que se aproxime dessa ideologia. Pois bem, hoje na nossa coluna História & Metal vamos abordar um evento que foi um suprassumo dessa crueldade e covardia, conhecida como Noite das Facas Longas, que foi representada na música: Punhais Longos, cortes profundos da excelente banda do Paraná, Sad Theory.
O cenário é a Alemanha, um país que estava arrasado pela primeira guerra mundial. Observava-se com certo furor a ascensão de Hitler ao poder, tanto que em 30 de janeiro de 1933 o presidente Paul von Hindenburg o declara como Chanceler. Com esse poder em mãos ele implanta o Gleichschaltung (alinhamento, em alemão) de maneira bem resumida, o Estado estava sendo unificado no totalitarismo/nazismo.
Nos seus primeiros anos de poder, a Alemanha já é um país unipartidário, a caçada a rivais e opositores ao governo só se intensificavam, porém, ele tinha um problema, na função de Chanceler ele não tinha os comandos do exército e dentro das forças armada, não existia um consenso em apoio ao regime nazista.
Temendo a emersão de forças contrárias, Hitler tinha criado em 1920 a Sturmabteilung (SA- ou traduzindo fica algo próximo a Destacamento Tempestade) uma força paramilitar altamente treinada que tinha como missão intimidar adversários, (leia qualquer um que fique contra o governo e principalmente comunistas) e liderando esse “exército” tínhamos Ernst Röhm apelidado como: Rei da Máquina de Guerra da Baviera
Notou que eu coloquei “exército” entre aspas ali? Isso porque desde o começo, o Hitler não tinha interesse de colocar a SA no seu futuro exército. Conhecidos como camisas pardas, eles eram extremamente violentos e tinham costume de torturar adversários e matar em praça pública sem menor pudor.
Agora no poder, Hitler estava bem descontente com a postura da SA, além disso, ele era cobrado pois a violência das ações do grupo eram ligadas diretamente a ele, soem a isso o fato de que Röhm alegava que era necessária uma segunda revolução (o que entende a derrubada de Hitler) e a redistribuição das riquezas da Alemanha para a população carente.
Outra bandeira defendida por Röhm era integrar a SA ao exército alemão, o que não era nem de longe desejado pelas cúpulas do governo, some a isso o fato da homossexualidade de Röhm vista pela cúpula nazista como uma falha de caráter a ser combatida (Enaltecendo o caráter preconceituoso do movimento).
Então o Führer tinha que agir, na noite de 30 de junho de 1934 acompanhado pelo exercito alemão e a Gestapo, Hitler invadiu um Hotel na Baviera e ordenou a morte de ao menos 85 antigos aliados que poderiam ser vistos como futuros rivais ao governo e tal ato se estendeu até o dia 02 de junho contabilizando centenas de mortes.
Pela narrativa histórica sabemos que muitas das vitimas foram executadas no local, Röhm foi detido pelo próprio Hitler – que, marchando para dentro de seu quarto, gritou “você está preso, seu porco!” – e levado a uma prisão em Munique. Em 1º de julho, Röhm recebeu um revólver e 10 minutos para cometer suicídio, ao que teria dito “se eu serei morto, deixe o Sr. Hitler fazer isso”. Quando o tempo esgotou, um oficial da SS matou Röhm com um tiro à queima roupa.
O regime Nazista provava que não se importava em cortar na própria carne e nada poderia impedir o seu avanço? Será? A história nos conta….
E o som?
O Sad Theory é uma das melhores banda da atualidade, assisti a banda no Maniacs Metal Meeting e me impressionou demais com a complexidade de suas composições que casam totalmente com as letras, também deverás complexas e bem escritas. Vale lembrar que tal apresentação pode ser ouvida no trabalho Audioclastia Humana (Live at Maniacs Metal Meeting 2018).
A banda fundada no ano de 1998 e desde seu primeiro full, intitulado The Lady & the Torch já dava indícios de que sua sonoridade seria algo totalmente fora da curva. A partir do trabalho Descrítica Patológica eles começaram a apresentar letras em português o que na minha opinião só fortaleceu a personalidade da banda. O som que apresentamos aqui está no Entropia Humana Final, seu sexto full lançado em 2017.
Vou deixar a letra na integra e como uma arte ela gera várias interpretações mas desafio o leitor a captar todas as nuances da poesia que relata o horror algo tão vivo na proposta da Sad Theory
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PUNHAIS LONGOS, CORTES PROFUNDOS
(Alysson Irala/Daniel Franco)
De belicoso caos pavimentou-se
O leito vil de um rio austero
Que em implacável purga trouxe
O alvorecer de um novo clero
Avenidas afora, moradas adentro
A nova palavra vai sendo marcada
Brasa na pele em diverso intento
Ou tinta de pena em tábula rasa
Tropa de choque na zona de risco
Ufana utopias em ricas ideias
Afã guerreiro de nobre patrício
Dragonas vãs das massas plebeias
O cânone novo se torna total
Os antagonistas se entocam, à míngua
Tremores de pânico, temor sem igual
Cautela mortal a deslizes da língua
Vícios impuros do caos construtor
Emergem e ofuscam a vitória da fé
Expurgados serão num golpe indolor
Com nenhum ímpio restando em pé
Apagadas da história, obliteradas
Rasgadas as páginas torpes, imundas
Extirpado o cancro de eras findadas
Com punhais longos, feridas profundas
Sad Theory é:
Claudio “Guga” Rovel – vocais
Alysson Irala – guitarra
Wenttor Collete – guitarra
Daniel Franco – baixo
Jefferson Verdani – bateria
