Enfim o Napalm Death desembarcou em Florianópolis. E valeu cada minuto de espera. Quem frequenta shows de bandas de Metal e Punk na ilha de magia sabe que a Célula Showcase é uma das melhores e mais importantes casas no estilo por essas bandas.
Já passaram por seu palco, bandas como Brujeria, Krisiun, Crypta, Black Pantera, Surra, e uma infinidade de bandas covers e autorais do estado e de fora. Mas nada se compara em termos de peso (nos dois sentidos) ao que vimos nessa quinta-feira extremamente quente de outubro. Flesh Grinder, Flageladör, e a lenda Napalm Death se uniram em uma noite, em um Célula completamente lotado, para levar o público a loucura, com clássicos e mais clássicos de suas carreiras.
Flesh Grinder.
Figurinha carimbada da cena underground de SC, os veteranos do Goregrind seguem fazendo aquela mesma prodreira visceral, suja e pesada desde 1993, e não havia melhor escolha pra abrir essa noite. Após algum tempo como duo, agora conta com a entrada do novo guitarrista Douglas Mattos (Zombie Cookbook), trazendo ainda mais peso, solos muito bem executados e cobrindo, em parte, a ausência de baixo no trio.
A temática Splatter/Gore e assassina do Flesh Grinder é muito bem apresentada ao longo de um set extremamente complexo e muito bem executado. O baterista Daniel é um dos destaques da banda, deixando os desavisados de cabelo em pé, com a facilidade com que executa dos tradicionais blest beats, seguindo a tradição da “metranca” do Death Metal nacional. Resultado: queixos caídos nos desavisados, sorrisos abertos nos fãs de longa data. Flesh Grinder é um patrimônio nacional, e foi tratado como tal pelo público em sua completude.
Flageladör.
A segunda banda a entrar no palco foi a Flageladör, de Niterói (RJ). Já iniciando seu set com as mais rápidas de sua carreira, iniciando, imediatamente, uma enorme roda de pogo, onde todos se divertiam, dançavam e curtiam, cada um da sua forma o som da veloz banda. É interessante notar que o Flageladör, apesar de ser uma banda de Speed/Thrash Metal, conserva muito do Heavy Metal dos anos 1980. É possível notar pitadas de Judas Priest, Black Sabbath e Slayer dos primeiros discos.
À medida que a banda avançava seu set-list, o público era agraciado com solos precisos em dueto, melodias incríveis e até algumas coreografias muito bem ensaiadas. O puro Speed/Thrash/Heavy tudo o que tem de melhor no metal. O Armando Exekutor (vocalista/guitarrista), com seu tradicional capuz de executor é o grande destaque da banda, tocando belos solos, e “exekutando” vocais dignos das mais importantes e lendárias bandas dos anos 80. Infelizmente a animação foi cortada antes, pois a produção avisou que não havia mais tempo para um bis, então o Flageladör teve que deixar o palco para dar lugar a grande estrela da noite, mas não sem deixar saudades e expectativas para futuras apresentações maiores.
Napalm Death.
Existem bandas que extrapolam a bolha do Rock/ Punk/ Metal, ou qualquer outro rótulo que possamos adesivar em seus produtos. E o maior exemplo disse, com certeza vem da pacata Birmingham, cidade inglesa que também deu origem ao Heavy metal com o Black Sabbath (talvez tenha algo em sua água? Assunto para outro dia). O Napalm Death poderia estampar no dicionário, o verbete Influência. Desde bandas Punk, Death Metal, Grindcore e até o ator Jim Carrey fazendo caretas em uma entrevista, o prestígio do Napalm Death se apresenta intocado, irrepreensível, e em constante crescimento. Quem tiver dúvidas quanto a isso, pode verificar a quantidade de jovens vestindo camisetas do quarteto inglês. Sim, o Napalm está mais vivo do que nunca.
Começando com a clássica, From Enslavemento to Obliteration, o Napalm Death rapidamente caiu como uma bomba incendiária sobre os sortudos presentes no Célula com lotação completa. Rapidamente uma enorme roda se abriu, diversos jovens se atiravam em Stage Dives nem sempre bem sucedidos, e muitas pessoas cantando e vociferando as letras. Taste the poison e Next On The List seguiram sem deixar muito tempo pra respirar. O Caos estava instaurado, os ares-condicionados pareciam não dar conta, mas aparentemente, ninguém estava ligando para as camisetas suadas, pois estavam todos focados na lição de brutalidade e riffs matadores de John Cooke que estava em curso.
Após uma sequência de pauladas musicais na cabeça, o Napalm para alguns minutos pra conversar. O vocalista Mark “Barney” Greenway, sempre muito comunicativo gastou seu espanhol, na tentativa de criar um vínculo mais próximo com o público. O Napalm death não é apenas sobre musica extrema, pois é visível o interesse em passar as mensagens da melhor forma possível. “com todo o respeito” disse Mark, na tradicional educação britânica. Ao longo da apresentação, somos muito bem situados sobre a época das músicas, motivações, e conceitos e influências por trás delas, tudo sem deixar o público esfriar nem por um minuto.
Seguindo com o set, todos os clássicos e fases da banda foram representados, e a pancadaria fechou mais forte em momentos como The Wolf I feed, Suffer the Children e When al is said and done. O calor do momento era tanto que Barney precisou de dois minutos para tomar um ar. Em Scum, foi difícil não ser atingido pelos praticantes do pogo, mas sem seriedade.
Todos se divertiam e aproveitavam cada segundo do Show, mesmo que fosse literalmente dois segundos como em You Suffer. Nazi punks Fuck off é um evento por si só, e uma ambiguidade de sentimentos, pois todos amam essa versão de Dead Kennedys, mas odeiam saber que a apresentação do Napalm está chegando ao fim. Instinct of survival e Contemptuous cobrem o bis, deixando todo mundo satisfeito, e feliz por ter estado presente de corpo e alma em mais um momento histórico da música pesada.
Sim, foi uma noite histórica, que será lembrada por muito tempo, deixará saudades, diversas fotos com o carismático baixista Shane Embury, algumas palhetas distribuídas (Do Brujeria, vai entender) e a sensação de que estamos um pouco mais letrados em antifascismo, canções de protesto e brutalidade musical. Que venha o próximo!