Eis que chega em minhas mãos o material do Carcadia, banda mineira de Santa Rita do Sapucaí. O detalhe mais interessante para mim foi abrir o press kit e dar de cara com uma imagem do festival Pedrock, que acontece na cidade de Pedralva, o qual eu já tive a honra e prazer de participar!

Deveras saudoso esse momento para mim!



O álbum que ouvirei agora e passarei minhas humildes considerações tem uma capa bastante aflitiva, um braço humano com algumas conexões vermelhas, que num primeiro momento não se percebe se são fitas ou sangue, e diversos itens que remetem à música, como um braço de guitarra, um pedal, cabos de monte, uma cena meio crime meio experiência maluca, enfim. Medo!

Não localizei a conexão da capa com a temática proposta pela banda e nem com a marca d’água deles, que é um círculo com uma árvore, um rio e um caminho de terra. Mas está ok, bora escutar os caras e sacar qual foi a ideia por trás dessa capa!

O disco começa com alguns ruídos de tiro, meio campo de batalha e depois de 40 segundos de tiroteio entra a faixa título do disco, Age of Reason com timbres bastante vintage porém cheio de qualidade. A guitarra automaticamente te transporta para os anos 70 e na cabeça começa um caleidoscópio de cores e formas, é inevitável!

Seguimos com I Got nothing, um pouco mais lenta do que a faixa anterior, mas com a pegada bem característica do estilo proposto. Destaque para o trabalho de timbragem de todos os instrumentos que servem de máquina do tempo para que a experiência seja completa. A voz macia e aveludada completa com maestria as escolhas da banda.

Faixa 3 – Stay Away, opa… aqui o negócio pesou! Começamos com uma virada de bateria e o riff veio pesado, já favoritei a música! Só senti que algo na voz foi modificado e tudo ficou meio abafado, parece que a música tem uma pegada meio megafone na voz e ficou diferente das anteriores.

Próximo som é What To Do. Nesse ponto do disco já estamos mais acostumados coma pegada mais psicodélica, é bem gostoso de ouvir as transições propostas e eu senti nessa música um lance meio videogame e também meio country. Essas coisas sempre são pontuadas nas minhas resenhas, a tal da versatilidade e a maneira que os músicos se comportam com as mudanças. A voz voltou a ser limpa e macia…. realmente na faixa 3 que o efeito foi aquele.

Faixa 5- Deep End começa com a promessa de ser mais light, um pouco mais progressiva talvez. O som desenvolve com um belo arranjo em compasso composto binário (teóricos musicais de plantão, segurem essa aí) e arranjos bastante originais. Esse lance de trazer originalidade com som vintage é fascinante. Objetivo alcançado!

No press kit havia um destaque para o clipe de Burning Eyes, então deixarei aqui o link: 



A música é bem animada e flui tranquilamente, foi uma ótima escolha para fazer clipe e dar ênfase. Destaque em todas as músicas para os arranjos de guitarra mas nesse som quem brilha mais é o baixo. Todas as passagens foram bem acentuadas e ganharam vida graças aos detalhes dos graves.

Continuando, chegamos em Witches’ Stand que tem uma pegada mais blues, um pouco mais lenta e com riff mais marcante. Momento de descanso no disco, porém até então a audição foi bastante natural, as músicas não forçam a barra, todas tem um bom processo de composição deixando o ouvinte confortável.

Estamos nos aproximando do fim, com Water que tem uma pegada mais calma mas não menos empolgante. Todos os sons tem refrões bem definidos e memoráveis, ponto para a banda! Essa música tem uma atmosfera mais rádio e, pensa num guitarrista que trabalha!

Última faixa do álbum, Bells of Warning começa com sirenes, um discurso em português falando de greve e tal, lance mais político depois entramos em discurso em inglês mesclado, rola uma certa aflição de mistura de vozes e os discursos seguem nessa troca de português e inglês, um Lula Luther King (literalmente Companheiro, I have a dream) e aos 2:16 a música começa de fato. A música é leve, bem montada e carregada de vozes de apoio. Novamente temos inversões rítmicas ao longo da faixa e a banda vai lidando com essas mudanças de forma muito profissional.


Parece que o disco todo é como uma reflexão sobre a existência, as diferenças de classe e uma dose de pé no chão. As composições passam as mensagens e o time de músicos é sem dúvida extremamente competente.


O trabalho de produção foi bem executado buscando a sonoridade vintage com a praticidade da tecnologia atual, não estamos lidando com ruídos e estáticas, está tudo mostrando claramente que as sonâncias foram escolhidas e não utilizadas por limitação. Senti falta da apresentação do tecladista, a banda não menciona quem os fez, mas eles estão ali! Eu, como tecladista, senti falta desse detalhe.


A experiência do disco é altamente recomendável, o tempo passa sem que o ouvinte perceba, as músicas são envolventes e diretas, detalhe este que muito me agradou, visto que quando os adjetivos são psicodelia, progressividade, experimentalismo e coisas assim, logo já me vem na cabeça músicas de 15 minutos! A primeira e última músicas são mais longuinhas com 6 e 5 minutos, respectivamente, mas mesmo assim totalmente de fácil digestão.


TRACKLIST:

01) Age of Reason

02) I Got nothing
03) Stay Away
04) What To Do
05) Deep End
06) Burning Eyes
07) Witches’ Stand
08) Water
09) Bells of Warning

FORMAÇÃO:

Pamela Rodrigues – vocal

Hegel Pinheiro – guitarra

Renato Pereira – baixo
Paulo Otávio – bateria
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