Quando determinado individuo nasce com uma aptidão única e a paixão por determinada área não tem jeito, ele pode escolher todas as profissões possíveis e tentar exercê-las à exaustão, mas sempre haverá algo, ou situações, que naturalmente o farão trilhar o caminho pelo qual está predestinado.
Assim ocorreu com o hoje lendário vocalista George Fisher, segundo o relato que cedeu para o jornalista e escritor Joel Mciver em A Bíblia da Carnificina, biografia oficial do Cannibal Corpse, lançada no Brasil pela editora Estética Torta. Na adolescência, o atual frontman de uma das maiores referências em Death Metal da atualidade, até se esforçara para seguir uma carreira comum como qualquer cidadão americano, porém, os primeiros contatos com a música extrema despertaram no garoto a certeza do que ele gostaria de se tornar.
A partir disso, George ingressou no mundo do metal, formando assim as primeiras bandas. Inclusive, o pseudônimo Corpsegrinder veio de um dos grupos que integrara.
Entretanto, a primeira vez em que colocara os pés em um estúdio fora em 1991 participando do álbum de estreia do Suffocation, Effigy of The Forgotten, precisamente, nas faixas Mass Obliteration e Reincarnation.
Pouco tempo depois ele integrou o Monstrosity, gravando os dois primeiros trabalhos da banda, Imperial Doom (1992) e Millennium (1996). Mas a grande virada de chave na carreira de Fisher veio com também em 1996, quando assumiu os vocais do Cannibal Corpse, tendo a árdua tarefa de substituir o carismático Chris Barnes, que gravara os quatro primeiro álbuns do grupo, e passaria a se dedicar ao Six Feet Under.
Não preciso nem dizer o quanto essa parceria funcionou…
Era como se Corpsegrinder tivesse nascido para o Cannibal e vice versa, resultando em 26 anos ao lado do grupo, e 11 álbuns de estúdio, sendo o mais recente, Violence Unimagined lançado em 2021.
Porém, apesar dos projetos paralelos do vocalista, como o excelente Paths of Possesion, uma carreira solo nunca fora cogitava por Fisher, até então. O convite partira do vocalista do Hatebreed, Jamey Jasta, admirador ferrenho de George que há tempos almejava em trabalhar com ele em um projeto.
Assim como ocorreu no Cannibal Corpse, a química entre ambos foi instantânea, resultando em um trabalho incrível que tive o prazer de acompanhar o surgimento, ouvir e agora resenhar.
E essa pedra bruta do Metal Extremo se inicia com Acid Vat, que também fora a primeira amostra que veio à pública deste novíssimo petardo. Aqui, temos a participação do excelente guitarrista Erick Rutan, companheiro de Cannibal Corpse que produzira o último álbum da banda, ao mesmo tempo em que, assumia o posto de novo integrante. Uma abertura digna com riffs acelerados, um refrão pra lá de cadenciado, e breakdowns fantásticos no meio da faixa.
Na sequência temos Bottom Dweller, de sonoridade mordaz e detentora de um refrão poderoso.
On Wings of Carnage, traz um peso e elementos soam de forma épica, porém, sem aquela carga pomposa de bandas como o Flesh God Apocalypse. A canção foi o segundo single de divulgação do álbum, contando com um lyric video interessantíssimo e muito bem produzido. Ao final, as levadas de bateria remetem a uma verdadeira saraivada de socos na cara do ouvinte.
Carregada de um ódio descomunal (não que as outras não possuam tal carga, mas essa aqui se superou em transmitir esse sentimento) a rápida e carregada All Souls Get Torns aumenta ainda mais a dosagem de violência. Se na faixa anterior levávamos socos, aqui a sensação é de um completo esmagamento. A interpretação de Corpsegrinder nos leva a sensação de uma pessoa desferindo golpes incessantes e brutais utilizando-se da mais afiada lâmina.
Death is The Only Key tem encavala mais riffs poderosos de guitarra que fazem qualquer banger que se preze balançar a cabeça instantaneamente.
Eis que chegamos àquela típica música que será a responsável pela abertura dos moshpits nos shows. Crimson Proof é a melhor disparada de todo o álbum, com uma sonoridade perfeita para quem adora jogar um game de tiro, aos moldes do clássico Doom, derrotando hordas e mais hordas de demônios.
A bateria tribal abre a sétima faixa Devourer of Souls, um tanto quanto cadenciada e mais lenta se comparada às demais, porém não menos pesada e com ótimas passagens instrumentais.
Eu sei que já mencionei e destaquei os riffs de guitarra deste álbum, mas é algo tão bem executado, contagiante e feito com tamanha paixão, que é quase um crime não mencioná-los e enaltecê-los. E isso ocorre novamente na “metralhante” Defined By Your Demise que em uníssono com a faixa anterior, são responsáveis pelos momentos de maior calmaria do disco ( e leia-se calmaria com muitas, mas muitas aspas).
Master of The Longest Night traz uma atmosférica dos clássicos filmes de terror e junto ao refrão marcante, me faz colocá-la no posto de faixa mais palatável aos não habituados com o Death Metal.
Encerrando o trabalho com certa familiaridade, Vaguely Human tem um leve sabor de Cannibal Corpse. Não fosse pelo refrão mais melódico, essa faixa poderia ser encarada facilmente como uma espécie de sobra do Violence Unimagined.
Em suma meus amigos, posso afirmar sem medo que Corpsegrinder atendeu a todas as minhas expectativas. O trabalho passa voando deixando os nossos ouvidos transtornados, precisando de novas audições para captar todas as nuances da obra. Foram os 31 minutos mais bem gastos com música deste ano e, por hora, é o melhor lançamento de Metal Extremo. É um trabalho competente que não dá oportunidade para o ouvinte respirar. É porrada atrás de porrada.
Para àqueles que têm tara por firulas e elementinhos mais modernos, o trabalho de estreia de George Fisher Corpsegrinder te expulsará com um pé no traseiro bem dado. Ele é direto ao ponto, rápido e brutal.
É um álbum de Death Metal na essência mais pura, feito para os fãs do gênero por um dos vocalistas que mais possui propriedade no assunto.
Não vejo a hora de por minhas mãos na versão física disso aí!
Tracklist
1)Acid Vat (ft Erik Rutan)
2)Bottom Dweller
3)On the Wings of Carnage
4)All Souls Get Torn
5)Death Is the Only Key
6)Crimson Proof
7)Devourer of Souls
8)Defined by Your Demise
9)Master of the Longest Night
10)Vaguely Human