A banda Quilombo vem com seu primeiro lançamento, o EP “Itankale” (2019), e já abre carreira com uma obra única. O disco é carregado de grandes visões ideológicas mostrando respeito e dando voz à sua filosofia, implementações criativas de elementos folk incomuns ao Metal Extremo, e um som bruto e único que já serve de marca de reconhecimento do estilo da banda por mais que estejam recém começando.



O ponto que de partida já concede grande respeito à banda é o empenho colocado em cada música para homenagear os gigantes dos quais descansamos em seus ombros. Toda música traz algum tipo de tributo às grandes vozes e história da música negra de uma forma ou outra; muitas vezes como instrumentos e elementos particulares da música africana que são exóticos ao estilo, e muitas vezes em forma de introduções em homenagem à gêneros e grandes nomes da música negra (Folk africano, passagens de Capoeiras, e até mesmo Blues com When the Hurt is Over da icônica referência do Soul/Blues “Mighty SamMcClain). Ao invés de simplesmente se aproveitar de uma estética e fazer o mínimo de trabalho, como o ato comum de simplesmente nomear faixas com elementos folclóricos mas nunca realmente tocar nestes ao fazer o som, a banda serve de exemplo à bandas políticas e ideológicas da cena.
Com letras cruas e diretas, a mensagem da banda não poderia estar mais clara. A performance vocal de Panda Reis é cativante e personificada ao ponto de muitas vezes soar como uma “convocação” ou até mesmo “anúncio” a todos. Nada mais apropriado para uma banda com tamanhas intenções.
O som da banda é tão brutal quanto também é dinâmico. Vai de total brutalidade típica do Grindcore para momentos de Groove bem marcados do Death Metal (geralmente então acompanhados de percussividade africana). Uma das mais comuns armadilhas que músicos de Metal extremo tendem a cair é a superutilização das mesmas notas graves tocadas rápidas com uma equalização também voltada ao mais grave o possível: tendo como resultado uma poluição sonora que se aproxima mais do Noise Music do que do Death Metal que tentam reproduzir. O som de Itankale se sobressai por saber impor uma sensação de movimento em seus riffs; A alternância das notas guiam o ouvinte à direção e passo que a sessão da música está seguindo, dando uma sensação de “canção de batalha” para juntar os silenciados em uma grande marcha. Cada acorde é expressivo e a mudança entre os riffs contam uma história de inconformidade, raiva, união e progresso por si só – reforçado ainda mais quando acompanhados das letras de cada música.
Apesar da qualidade de produção não ser limpa, e apenas entendível para um EP de lançamento da banda. Também deixa um ar característico de Grindcore Oldschool que pode servir de nostalgia para muitos admiradores do gênero. Algumas más execuções por parte da guitarra podem ser percebidas; mas pela estrutura das músicas é perceptível que estas poucas falhas se tratam mais de questões de gravação do que da capacidade do instrumentista. Não chegam perto de atrapalhar a experiência e, novamente, esperado de um EP de lançamento.
Quilombo começa sua discografia com o mais puro Grindcore que toca o núcleo fundamental do que o gênero significa e foi originado para servir: medo algum de ser político ou polêmico. A banda entende que sua música pesada tem capacidade de servir como mídia para demonstrar e apontar injustiças históricas e atuais; e não simplesmente ser uma fonte de raiva incoerente e incondicional.
TRACKLIST
01) Melanina
02) Ancestralidade
03) Treze Nações
04) Descendentes de Reis
05) Semideusas
06) Diáspora D.C.
FORMAÇÃO
Allan Kallid – guitarra e baixo
Panda Reis – bateria e vocais