Início Destaque Resenha: Nine Mirrors – No One Spoke (2021)

Resenha: Nine Mirrors – No One Spoke (2021)

Santa Catarina me orgulha muito, principalmente meu coração palpita quando vejo ao vivo bandas como a No One Spoke e depois acompanho o lançamento do seu trabalho de estreia. No River Rock em Setembro de 2019, sobe ao palco uma banda com violino e duas mulheres na formação. São elas Carla Domingues nos vocais e Iva Giracca no violino, que mais tarde vim a saber que faziam parte da fabulosa Camerata Florianópolis, assim como outros membros da banda.

Naquela apresentação eu senti, essa banda vai estourar e fazer coisas fantásticas, fico feliz de não estar errado e quase dois anos após, estou aqui para falar do trabalho deles. Mas não é qualquer trabalho, é a estreia de um vulcão prestes a entrar em erupção. O profissionalismo depositado em cada composição, é impecável. Desde os detalhes da capa, como a execução das músicas beira o inimaginável e encantadoramente vai passando música após música e para quem não gosta de ouvir trabalhos longos, dessa vez achei nove faixas tão pouco, queria ouvir mais e mais, por isso o repeat quase pegou fogo.

Destaco inicialmente a faixa Milonga Para Las Reinas que acho que foi o single lançado com um videoclipe magistral que começou a fincar o nome da banda no cenário musical e também a faixa de despedida do tracklist para a clássica Rainbow in the Dark com participação do Rudy Sarzo, baixista cubano com passagens por Quiet Riot, Dio, Whitesnake e até Ozzy Osbourne, comprovando que grandes artistas cruzam os caminhos, independente da época.

A presença do teclado nas bandas de Metal, deveriam ser mais natural, ainda é raro quando encontramos bandas que investem nas teclas. O tecladista Thiago Gonçalves é quase que o maestro da No One Spoke, que quando você acha que nada pode lhe surpreender surge a maestrina Iva Giracca com sua simpatia, carisma e talento com o violino dando ainda mais brilho as músicas.

Carla Domingues e seus vocais arrepiantes, alcança notas precisas que casam perfeitamente com tudo aqui construído e quando você acha que com tantos instrumentos o guitarrista ficaria um pouco mais preso, André Medeiros consegue tanto riffar quanto solar em alto padrão em determinado tempo que a música necessita. A cozinha da banda trabalha incessantemente para criar um casulo no qual todos se sintam favorecidos a executarem o que tem de melhor. No baixo temos Artur Cipriani e na bateria Gabriel Porto. Enquanto um executa notas precisas com um baixo pesado e estalado, o baterista executa linhas inteligentes sem enfiar viradas atrás de viradas, incluindo essa mesma linha de pensamento nos pedais duplos quando aparecem, geralmente para quebrar um groove ou iniciar estrofes.

Para realizar o sonho de lançar seu debut, a No One Spoke contou com a ajuda de um financiamento coletivo, que foi abraçado por muitas pessoas, sendo possível realizar um trabalho deste nível. Coisas assim, parece natural para a banda, lembrando que reuniram mais de 30 mulheres para o clipe de Milonga Para Las Reinas e divulgaram o single Blue Way para impulsionar a campanha de financiamento coletivo. Neste pequeno grande mundo em que vivemos, nada pode ser feito sozinho e ter amigos, fãs, admiradores ou investidores que acreditam no seu trabalho, fazem com que tudo flua na maior naturalidade possível.

Acredito que Nine Mirrors por mais sútil que pareça ser, chega como um soco pesado na fuça dos tr00zão, que a cada dia que passa e a pandemia os afetam, ficam cada vez mais insuportáveis. O debut da No One Spoke, apresentam os vocais líricos que migram para facilmente muitas vezes para o Rock ‘n Roll, trazendo aquela voz rasgada e robusta, assim como o instrumental navega pela calmaria e técnica, chegando a explodir com riffs pesados e impactantes. Tudo aqui é noção musical do mais alto nível, estamos falando de professores, de profissionais reais da música que respiram praticamente 24hs do seu dia a música e não por hobby, como profissão, alcançando feitos grandiosos mesmo ainda sendo considerados do ‘underground’. Caso você não tenha ouvido, ouça.

TRACKLIST
01) Bridge to Sanity
02) Blue Way
03) Fear of Regret
04) Sigh
05) Rise Again
06) Trust Yourself
07) Final Breath
08) Milonga para las Reinas
09) Rainbow in the Dark (Dio Cover)

FORMAÇÃO
Carla Domingues – vocais
Thiago Gonçalves – teclado
Gabriel Porto – bateria
Iva Giracca – violino
André Medeiros – guitarra
Artur Cipriani – baixo

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.