O Topfive deste fim de semana vem carregado com um conto do boxe nacional. Você consegue comparar o cenário atual do underground com uma luta de boxe? É possível com uma bela imaginação. No dicionário, o conto é uma narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação, unidade de tempo, e número restrito de personagens. Depois de estarmos conceituados a prática da leitura, uma boa audição a todos.
01) Ossos Cruzados – Hardcore – Taboão da Serra/SP
Ergueu-se na penumbra, no canto direito da lona, um senhor vestido igual a um pinguim com sua camisa branca e sua gravata borboleta preta contava pausadamente até 10 olhando fixo aos olhos do lutador. Chegou a 8 e pausou, verificou as luvas e deu sequencia a luta. Paulo Sacomã, ”O Martelador do Peruche” era seu adversário, e que adversário! Suas incríveis vitórias por nocaute lotavam os ginásios e muitos de seus adversários nas categorias dos médios e meio-pesados jamais voltaram a lutar após ter pela frente seus punhos poderosos.
02) Surra – Crossover – Santos/SP
O lutador nocauteado, e recuperado, era o europeu Júlio Neves que resistia bravamente aos golpes contundentes de seu adversário, provando ter raça e vontade imensa em meio a loucura de vencer. Acabou o terceiro round, olho direito roxo e fechado, apenas a visão periférica e o vulto a frente guiavam o europeu na disputa dentro daquele Ginásio do Ibirapuera, em 11 de abril de 1958, lotado e com o brasileiro cada vez mais superior na luta. Soa o gongo, quarto round, e a consolidação da vitória estava por vir. Um, dois, três socos diretos, o brasileiro dançava encaixando um golpe mais brilhante que o outro, até que sua canhota, a mais temida de todas, encontrou o queixo de Júlio Neves que nada pode fazer, foi a lona novamente.
03) Atria – Pop Punk- Erechim/RS
Olhos vidrados, com o braço enroscado na corda superior, ficou parado, grogue, pronto para receber o golpe de misericórdia. A torcida vibrava, gritavam pelo golpe final, mas Paulo parou. O seu treinador, José Nicoló ordenou que ele continuasse o ataque, mas Paulo se negou e disse: ”Não posso, não posso…Olha, ele está mal.” O treinador do brasileiro insistiu para que Paulo seguisse no ataque, mas ele se recusou a atacar mais uma vez. O juiz se dirigiu até Júlio Neves, completamente tonto, ergueu seu braço e declarou vitória ”por abandono”.
04) Desert Crows – Stoner Rock – Goiânia/GO
O público estava calado por um instante, e logo se revoltou com a atitude do juiz. Paulo deixou o ginásio como herói. Este talvez tenha sido o primeiro lance de fair-play do esporte mundial.
A cada round, uma disputa mais densa e cansativa vai integrando ao corpo do lutador. Normalmente na cena underground, a banda que desiste cedo sofre o nocaute, mas aquela que segue a carreira, cada álbum pode ser considero um novo round. Essa luta sem fim pela música realmente é muitas vezes cruel, porém gratificante ao músico sempre que conquista um novo fã a cada show. O underground é sim um verdadeiro boxe atemporal.
05) Tchandala – Heavy Metal – Aracaju/SE