Desta vez não mencionarei o isolamento e suas dificuldades, seremos otimistas e pensaremos em como lidar com nosso público depois de tudo isso.
O tema é algo que surgiu batendo papo com amigos e analisando uma afirmação deveras triste: “Como compor pra agradar um público que insiste em gritar “toca Raul” e pedir “Psycho Killer” em todos os eventos que frequenta?”
Pois é, não tem nada errado com Psycho Killer, longe disso, muito menos com Raul…
O que pega aí é o famoso mais do mesmo, a incrível arte de viver preso no passado e ter medo de curtir um som novo.
As bandas queimam a cabeça pra compor, trabalham duro, montam um evento fantástico pra ouvir… Toca Raul!
Ainda no mesmo raciocínio, de que adianta montar playlists elaboradas com bandas novas e material novo de bandas consagradas se o grande público prefere aquela playlist de clássicos batidos?…
De novo, nada errado com os clássicos, longe disso, mas o que fazer para atingir esse ouvinte?
O cenário já foi exposto, mas vamos colocar a banda discutindo como preparar seu material e eventos pensando exatamente nesses pontos.
A primeira pergunta é: “Devemos revisitar o passado o tempo todo?”
Não, definitivamente. Existem bandas fazendo sucesso desse modo, com certeza, mas é algo passageiro e nada além de “one hit band”. O ideal é visitar o passado e assim identificar o que a sua banda melhor consegue usar de referência. Pode ser um timbre, uma atmosfera, uma temática, uma levada, etc. Só lembrar que a identidade precisa ser sua, nova!
A segunda pergunta: “Mas eu sou fã demais do “Old Grannys” e quero tocar igualzinho, deixa?”
Pra tocar igualzinho monta banda cover meu rapaz! A minha experiência em bandas cover foi absurdamente útil para formar meu jeito de tocar, minha presença em palco, minha maneira de conduzir uma banda. Sou grato, mas é isso, pra autoral eu quero o meu som.
Compor é muito diferente de copiar, as ideias não são simplesmente copiáveis, o máximo que você vai conseguir é que alguém comente que seu som é um plágio, mas aquele fulano que pede Psycho Killer não vai ficar feliz com o semi Psycho Killer, entendeu?
Então a pergunta mais importante: “Esse cara que se diz fã, merece minha preocupação?”
O que precisamos entender é que sem público não tem banda. Pode ser virtual, pode ser real, pode ser o que for, não adianta colocar pão à venda sem ter ninguém pra comprar.
Logo, a resposta é sim, obviamente o fã merece sua preocupação.
Nosso raciocínio precisa ser muito claro e voltado para a realidade.
1- Estou tocando no lugar certo?
2- Minha banda tem semelhança com qual ou quais bandas que eu gosto?
3- Parece muito ou pouco?
4- Eu já mostrei de fato o meu som autoral pra esse público?
Essas quatro perguntas te levarão ao processo de auto crítica que é fatalmente o que vai te fazer crescer como banda.
Legal, temos uma sequência de perguntas para gerar reflexão e ajudar a moldar sua relação música autoral vs público relutante a coisas novas. Agora eu já posso enfiar goela abaixo o meu som?
A reposta é… simplesmente não adianta!
Esse ouvinte relutante precisa de muito cafuné pra te colocar na playlist sagrada, não é assim tão simples!
O ideal a se fazer é entender o que seu estilo tem como os pilares da criação, quais são as bandas mais icônicas e assim, trazer um mínimo de influência a cada momento. Seu som jamais pode perder a identidade para agradar o fã, mas ao mesmo tempo precisa ter elementos que agradem esse mesmo fã para que, aos poucos, ele se interesse por seu material.
Pode ser algum detalhe visual?
Pode, isso ajuda muito na assimilação do som. Quem nunca comprou um disco pela capa?
Resumindo, o processo de engajamento só vai acontecer se a banda souber mostrar ao fã que ela também é legal. Todos nós temos bandas favoritas e alguns de nós podemos até beatificar algumas bandas, colocar como inatingíveis e etc, mas é necessário entender que cada banda tem seus encantos, independente de os integrantes serem semideuses ou semimendigos.
Isso não é de todo ruim (a parte de ter bandas favoritas, não de ser semimendigos), mas precisa haver espaço nesses coraçõezinhos malvados para as bandas novas. A conquista desse espaço é árdua, mas pode rolar se for algo bem trabalhado.
O que eu não mencionarei aqui é a o trabalho de assessoria. Vamos entender que o investimento de uma empresa desse setor é algo muito particular e eu não quero induzir ninguém e nem fazer propaganda de nada, falarei apenas de condutas particulares.
Quando pensamos em criar músicas, sempre pensamos em atingir algum público, ninguém faz música para arquivar. Todos queremos compor algo que, no mínimo, nos agrade.
Essa pensamento deixa muito claro que o seu maior e mais crítico fã é você mesmo! Sendo assim, acredite no seu som, primeiramente.
Para fechar, o seu trabalho deve buscar, em termos de composição:
– Ser de alguma forma inovador, original e ao mesmo tempo trazer elementos de referência;
– Não perder identidade na busca por agradar a todos;
– Ser convincente dentro de um estilo;
– Evitar ficar igualzinho a sua banda favorita;
– Gradativamente, trocar as marcas de influência no seu som por algo totalmente com a sua cara;
– Ter paciência com o público relutante e conquistar devagar.
A boa relação da banda com o público é uma grande parcela de o som ser bem aceito. Claro que não adianta ser legal e ter som ruim, sejamos sinceros, mas o inverso também não leva a nada.
Sejamos gente fina, vamos mostrar que a banda é boa, só temos a ganhar com isso.
A maior dica de composição que eu já ouvi na vida foi: “Ninguém fez perfeito de primeira”.
Nem comentarei isso, deixarei para reflexão.
Nos próximos dias deverei gravar o podcast sobre esse tema, fiquemos atentos!