Há quase 30 anos, de uma vontade de juntar bandas e uma galera para ouvir um som, nascia um dos eventos que podemos chamar de um dos dinossauros dos festivais na ativa na era moderna do Underground.

Produzido por Bob Kuter e sua equipe, o Bob Rock Festival é um dos mais tradicionais eventos da região Sul do país, que, mesmo após um período “sabático”, ainda houve edições menores e nunca deixou a chama do Underground se apagar, e neste ano retorna com todas as forças, inclusive com direito a uma atração internacional.

No clássico formato de camping com 2 dias de baile, possui estrutura completa para estacionamento, acampamento, além de bar e cozinha para deleite dos presentes. Mas falaremos desses detalhes na análise técnica, na segunda parte desta cobertura.

Vamos ao que interessa: A 11ª edição do Bob Rock contou com 17 bandas das quais 11 subiram ao palco no sábado, e as outras 6, no domingo. A primeira banda a se apresentar e iniciar oficialmente o rolê, começou o som às 16:00, e O SubSolo acompanhou todos os shows para trazer os detalhes para vocês, inclusive com a estreia do nosso novo correspondente para coberturas de festivais, Gustavo Martin, cobrindo o show da banda Enkrenka. Vamos nessa!

Soco HC

Foto por Sidney Oss Emer

Incumbidos da missão de abrir o festival, não haveria um nome que combinasse tanto quanto a porrada que foi iniciar os trabalhos, com um Hardcore agressivo para deixar os nervos dos presentes já preparados para um fim de semana de som intenso.

Como de costume, a banda abre o show com Não Vai Rolar, uma de suas músicas que tem sido muito aclamada em suas apresentações. E seguiu o show com canções cantadas em português, e como todo HC que se preze, suas letras tecem duras críticas sociais e políticas.

Abordando temas como discriminação em Vermelho, desigualdade social em Cabô, cuja plateia teve participação ativa e reativa no refrão, acompanhando a banda, até temas mais objetivos como Sem Oxigênio, Com Ódio fazendo menção direta a acontecimentos políticos da história recente do país (inclusive o que dá nome ao seu mais recente trabalho Filhos da Pandemia) o qual foi tocado na íntegra, além de outras canções mais antigas.

Embora o festival estivesse apenas começando, a banda conseguiu extrair uma boa dose de energia do público que estava presente, se aproximando, interagindo e iniciando os primeiros moshs.
Por: Sidney Oss Emer

Enkrenka

Foto por Sidney Oss Emer

Diretamente de Gaspar/SC, a banda Enkrenka chegou com tudo para animar o público com o melhor do Hardcore nacional trazendo para perto do palco do 11º BobRock Festival, através da sua introdução marcada pelo toque do Hino Nacional interrompida com uma bomba mostrava aos presentes o que vinha logo à frente.

A banda formada por Vinicius Vincent (Baixo), Duda Santos (Bateria), Vinicius Procelli (Guitarra), Leonardo Bruno e Daniel Silva (Vocalistas), realizou uma apresentação com um setlist pesado para deixar qualquer um de pé, fazendo os ouvintes baterem cabeça a cada música, principalmente com as batidas ecoadas no tambor centralizado no palco com o logo da banda.

Podemos citar como principais momentos da apresentação individual de cada membro e as músicas autorais da banda como: Enkrenka, Desordem e Regresso (logo logo vai ter o lançamento do clipe nas plataformas oficiais da banda), e Sedentos Pelo Poder (E se eu fosse você, não se iludiria com as mentiras que contam por ai).
Por: Gustavo Martin

Agony Voices

Foto por Sidney Oss Emer

Possuindo uma longa estrada percorrida no Underground, inclusive nos palcos do Bob Rock, uma das mais antigas bandas de Doom Metal do estado, Agony Voices sobe ao palco para trazer o seu metal sombrio, que combinou com o anoitecer que se aproximava. Porém, antes de mais nada, fizeram um discurso, dedicando o show in memorian de Charles Hwizdalek, um grande apoiador da cena, que estava sempre presente nos festivais, e que, este que vos escreve também teve a satisfação de conhecer.

Um aspecto que muitas bandas não dão muita importância, mas Agony Voices mantém desde o seu início, é a performance visual, na qual Jonathan Feltz (vocais) faz questão de manter a tradição da indumentária e as famosas velas acesas no palco. Isso certamente traz uma característica a mais para a banda, o que acaba dando uma certa “identidade”, somada ao movimento dançante contínuo, criando uma atmosfera ainda mais imersiva, mesmo que o som por si só, já faça boa parte do trabalho.

Somando isso às exímias guitarras de Diego Valgas e J. Stolf (Barasko) e a cozinha de Valda Hilbert no baixo e Isaque Strapazzon na bateria, criam uma sonoridade que se acopla perfeitamente à sua temática lírica que trata de vida, morte, sentimentos humanos e existencialismo, adentrou à noite em grande estilo.
Por: Sidney Oss Emer

Magnólia

Infortunadamente, após uma série de questões técnicas e tentativas de ajustes sem sucesso, que estavam impedindo a banda de performar sua apresentação, e 20 minutos passados no palco, Magnólia anunciou sua saída do palco, devido ao tempo decorrido, dos quais nenhuma música fora tocada na sua totalidade.

Com uma grande plateia aguardando, a vocalista Joana Guimarães declarou apoiar o Underground, e demonstrou grande respeito às demais bandas, ao abdicar de sua apresentação em respeito ao cronograma, em um horário já considerado “nobre” para os eventos deste tipo.
Por: Sidney Oss Emer

Gestos Grosseiros

Foto por Sidney Oss Emer

Outro grande nome do Underground, a banda Gestos Grosseiros (para os íntimos, Gestos), sobe ao palco para trazer uma dose sem moderação de seu Death Metal cru e enraizado.

Pudemos apreciar os poderosos vocais de Andy Souza ao mesmo tempo que conduz a bateria, e é acompanhado de Kleber de Oliveira na guitarra e Ronald Amadeu no baixo, que, mesmo tendo integrado ao grupo este ano, provou que o entrosamento de uma banda não se mede pelo tempo, mas sim por variados aspectos que nos mostram o que músicos experientes podem fazer quando bem alinhados no seu propósito.

Com exceção da música Where the Eyes Don’t See, a setlist apresentada foi a execução de todas as demais faixas do seu último full-length Blasphemous Words (2023). A banda, que data de 1996, possui um nome consolidado no metal nacional, e trouxe muito de sua bagagem para o palco do Bob Rock, satisfazendo a ânsia do público que clamava por um metal extemo e violento.
Por: Sidney Oss Emer

Overblack

Foto por Sidney Oss Emer

Por ser uma banda com boa proximidade (geográfica e relacional) da organização do evento, frequentemente a vemos nas edições “menores” do Bob Rock. E não é à toa, pois o som apresentado pela Overblack é muito apreciado pelo público que acompanha o evento.

Com um Thrash Metal oitentista, direto, e com fortes influências de bandas como Metallica, Paulo Borget, além de manter os vocais, aguenta a bronca da guitarra solo, enquanto César Rahn no baixo dá o peso necessário para acompanhar a performática bateria de Jonathan Muniz, como dito antes, em um Thrash Metal raiz, sem firulas e direto ao ponto.

Sua setlist foi composta por algumas faixas do seu último full-length Still Burns, além de apresentarem seu novo single Eye for an Eye. Tivemos também um cover de King diamond (Halloween), e fechando a apresentação com Platinum Soldier e Violent Mosh que sempre rendem várias rodas diante do palco.
Por: Sidney Oss Emer

Ossos

Foto por Sidney Oss Emer

E por falar em Thrash Metal cru e pesado, a banda Ossos veio diretamente de Caxias do Sul/RS para mandar aquele Crossover que a galera gosta para se bater na frente do palco. Sob a performance do frontman Marciús Pezzi nos vocais, que além do excelente vocal, sempre faz questão de estar em contato constante com a plateia, o que aproxima ainda mais a banda do público.

Tive a oportunidade de presenciar outros shows da banda recentemente, e é sempre uma satisfação acompanhar um trabalho feito com tanto apreço, seja no palco ou fora dele, pois além dessa interação com o público, a banda esteve junto com os headbangers nos moshs dos seus colegas de palco, além de trocar ideia com o pessoal. E o mesmo acontece nas redes sociais, onde são muito ativos em divulgar seu material e rotina estrada/estúdio.

Como de costume, tivemos nosso vocalista banhado em sangue, e a pedrada na orelha foi garantida com a setlist que foi equilibradamente distribuída com músicas do seu último full-length Contos de Necrotério (2022), onde cabe um destaque para Igor, que conta a história do assassino em série que friamente assassinou dezenas de pessoas com seu facão enquanto solfejava assobios. Também tivemos Vitrine de Satã de Caos Vivo (2020), a qual já é um hino do Crossover nos festivais, e encerrando de forma matadora a apresentação com Fuck Noise, single lançado em 2018, mas também constante em Contos de Necrotério.
Por: Sidney Oss Emer

 

V.I.D.A.

Foto por Sidney Oss Emer

A banda oriunda do nosso país vizinho, Argentina, apesar de ter um nome aparentemente inofensivo, se trata de um acrônimo para Victimas Inocentes de Argentina, se apresenta pela primeira vez no Brasil em uma tour junto com a Ossos, passando pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo o Bob Rock, o seu único show no nosso estado.

Formada em 2002, a banda apresenta um Death Metal, mesclado com um toque de Thrash e Groove para fechar a receita que não tinha como dar errado. O power trio composto por Jorge Cybula no baixo e vocais, Javier Cybula na guitarra e vocais e Javier Cuello na bateria, é daquele tipo de banda que se você não estiver olhando para o palco, pensa que tem uns 4 ou 5 tocando, tamanha a pressão produzida por seu som, que se alia à sua forte presença de palco, onde é possível ver cada música sendo executada de forma viesceral, mostrando que uma viagem tão longa foi aproveitada em cada quilômetro rodado.

Os vocais são perfeitamente complementados pelo peso do baixo e os riffs altamente técnicos e pesados, que alternam com solos virtuosos, e terminam fechados pelos blast beats e pedal duplo extremamente rápido e agressivo.

A diferença de idiomas não foi um empecilho para que se comunicassem com o público, uma vez que muito do espanhol era totalmente compreensível, e vez ou outra, arriscando algumas palavras em português, e que foi respondido à altura pela galera que se encontrava extasiada por tamanha sonoridade.

V.I.D.A. possui letras que abordam críticas sociais e políticas, além de filosofias existenciais acerca da mente humana e suas batalhas. Sua setlist foi um misto dos álbuns Memorias (2021), Mentes Enfermas (2018) e Sombras de la ignorancia (2010). Após o show, era possível ver a banda interagindo tranquilamente com o público, onde era possível ouvir conversas em espanhol, português e inglês.
Por: Sidney Oss Emer

Orthostat

Foto por Sidney Oss Emer

Descobri esta banda no mês passado, onde fiz a cobertura de outro evento, o Otacílio Rock Festival, e foi uma grata surpresa, ou como eu costumo chamar: os “achados” dos festivais. Obviamente, mesmo que estejamos muito imersos na cena, nunca temos tempo e/ou possibilidade de conhecer tudo, de modo que às vezes as bandas nos chamam a atenção devido à sua proposta ou características específicas.

Deixando a subjetividade de lado, a banda aborda temas sobre conflitos históricos, civilizações e divindades ancestrais e cósmicas. Tema este que casa muito bem com a sua sonoridade, que apesar de apresentar um Death Metal denso, flerta com toques de Doom e experimentalismo, o que dá um ar ainda mais místico para combinar com suas letras.

A banda oriunda de Jaraguá do Sul/SC é composta por Eduardo Rochinski no baixo, Igor Thomaz na bateria, David Lago nos vocais, porém neste dia não esteve presente devido a questões pessoais, o que incumbiu ao guitarrista Rudolph Hille a responsabilidade de executar, além das linhas melódicas, os vocais, que foram muito bem mantidos.

Encaminhando-se para o fim da apresentação, a banda convidou Larissa Meurer vocalista das bandas Spiritus Diaboli e Alocer, (esta última também presente no evento e que logo se apresentaria), que já nos deu uma palinha do que viria pela frente, porém, interpretando as canções Hydrogen e Chemistry.

Malice Garden

Foto por Sidney Oss Emer

Já perdi a conta de quantas vezes vi o show dessa banda. E como sempre, tem extrema dedicação e competência envolvida entre os membros, que vieram de Criciúma/SC para apresentar o seu Black Metal pesado e ríspido.

Suas músicas, tratam de blasfêmia, e profanação, onde agressivamente declama com insolência e revolta, tanto à religião quanto ao ego humano, de forma visceral. O andamento das músicas alterna entre lentos e arrastados riffs que se interligam a rápidas passagens agressivas que precedem os solos.

Com os vocais de Orland Jr., temos a interpretação das suas letras que são acompanhadas de seus incessantes movimentos no palco, ao lado de A. Neto (Spok) nas guitarras, John F. Kucera no baixo, João Acordi na bateria e Henrique Chá na guitarra. Embora pareça difícil imaginar, uma música com tamanha carga de distorção instrumental é equilibradamente distribuída entre os 5 músicos, que faz com que cada elemento seja absorvido de maneira notória.

Sua setlist contou com músicas dos principais trabalhos e se encerrou com aquela pedrada que é a sua marca registrada desde a sua clássica demo datada de 2000, Revenge Against Jesus Christ.

Alocer

Foto por Sidney Oss Emer

Para selar a primeira noite do evento, nada mais justo que trazer um som que arraste as almas sobreviventes pelas escuridão da madrugada no palco do Bob Rock. Alocer também é uma banda que já está na estrada há algum tempo, e tendo variado sua formação ao longo do tempo, atualmente apresenta um Black Metal raiz adicionado de elementos atmosféricos, que são intensificados através da marcante presença de teclados.

Como dito na review da banda Orthostat, a vocalista Larissa Meurer (Scarlet) já deu uma palinha do que viria pela frente, e cabe aqui um destaque, em função do seu vocal marcante, executando guturais precisos que parecem sair sem o mínimo esforço.

Além de despedida da noite, este também foi o show de despedida do baterista L. Cruz (Necroblast) que também conduz as baquetas da banda Tressultor, outro grande nome no underground Catarinense. E mesmo tendo sido a última banda a se apresentar, onde geralmente os fortes sobreviventes são poucos, a frente do palco contava com algumas dezenas de pessoas que resistiram ao sono e cansaço, para ficar até quase 05:00 da matina, curtir o som, e assim encerrar o primeiro dia de evento.

 

 

Então, bora dormir porque daqui a pouco, às 10:00 da manhã, teremos mais bandas!

Clique aqui para ver a segunda parte da cobertura, onde detalhamos tudo o que aconteceu no domingo.

Especialista em cybersegurança, acordeonista e tecladista. Entusiasta de fotografia, já foi fotógrafo e redator nos projetos Virus Rock e Opus Creat. Não limitado a um subgênero do metal, tem como preferências: folk metal, doom/sinfônico, death metal, black metal, heavy metal. Gaúcho de coração, valoriza a cultura tradicionalista gaudéria, a qual inspira suas composições nas bandas em que toca. Interesses globais: Música, ciência, tecnologia, história e pão de alho.