Chamar Pussy Riot de “punk rock feminista” é reducionista e pura ignorância, já que temas como monopólio da indústria farmacêutica, armas, policiais abusivos, política internacional – especialmente russa e norte-americana – são alguns dos muitos problemas levantados pelo coletivo em suas músicas e performances, apresentar a banda parece ser explicar o óbvio.
O que mais impressiona é que mesmo ganhando notoriedade mundial através do movimento Free Pussy Riot por conta da prisão de membros da banda em 2012, ao menos em São Paulo, os tickets não deram sold out. O motivo é simples, mas terrível – e vem sendo posto em holofote há algum tempo em comunidades nas redes sociais, festivais e aqui mesmo no Subsolo: bandas punks ou hardcore com integrantes majoritariamente do sexo feminino ainda são negligenciadas por seu próprio público. Há um sexismo gigante enraizado na cena underground brasileira escancaradamente assustador, que posso afirmar que poucas pessoas tenham sequer ouvido as contestações que Pussy Riot vem fazendo desde seu começo, em 2011.
Se o movimento punk é contracultura, manifestação, questionamento e luta por igualdade de direitos, então esta é uma das bandas que mais estão conectadas às suas raízes punks quando se trata de letras e atitude, mesmo que sua sonoridade hoje em dia esteja caminhando para vertentes distantes do estilo. Pussy Riot faz com que a gente relembre o real motivo de ter ouvido punk a primeira vez e ter continuado até hoje.
Particularmente, cada vez que eu me conformo com o mundo e a sociedade como está, lembro que tem gente que luta pra mudar alguma coisa, que apanha, sofre, vai presa, assim como o Pussy Riot e meu conformismo me envergonha, fazendo com que eu volte a levantar do sofá e fazer a minha parte, mesmo que isso seja escrever um texto ou ajudar alguma instituição na minha cidade.
Pussy Riot faz com que a gente queira voltar a tentar ser o punk dos sonhos dos anos 70.
Quem faz acontecer, mais uma vez, é a Powerline, que vêm se destacando como uma das mais competentes produtoras da cena underground, proporcionando ainda no mesmo evento (Garotas à Frente) o lançamento do livro de Sarah Marcus sobre a história do movimento Riot Grrl nos EUA.
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