Um de meus passatempos favoritos aqui n’O SubSolo é reler materiais que escrevi a anos atrás. Alguns, lembro quase de cada palavra usada, enquanto outros me surpreendem como se fosse a primeira vez que li. O primeiro caso eu posso exemplificar com a resenha que escrevi em 2015 para o EP Mutáv3l, da banda santista Depois da Tempestade.
Seja pelo contexto que vivi na época, ou pela sonoridade que foi direto em meu coração, aquele disco, e, consequentemente, a resenha, se tornaram parte de minha memória. E por isso, em um dia de #TBT nas redes sociais, nada mais justo do que revisitar esse material, mais de cinco anos depois, conhecendo muitos outros trabalhos da DDT e tendo, eu mesmo, uma ótica totalmente diferente sobre música, quando comparado ao mesmo eu de dezembro de 2015.
Leia aqui: Resenha: Depois da Tempestade – Mutáv3l (2015)
Minha intenção com essa nova visita ao antigo trabalho da DDT nem é mesmo falar de faixa a faixa. Mas sim, sentir o quanto a banda progrediu desde então, e mesmo assim, sendo possível amar cada trilha de “Mutáv3l”. Desde esse EP, a baixada santista seguiu sendo berço de novos trabalhos do grupo, que rompeu barreiras de gêneros e, com novas formações, adquiriu sonoridades diferentes e ousadas. Com destaque para o álbum “Multiverso”, de 2017, e diversos singles, a banda provou uma grande maturidade em suas composições, mas isso apenas traz um brilho especial para meu xodó de 2015.
Em tempos em que a Depois da Tempestade apostava muito forte em suas veias de Metalcore, mas também bebendo diretamente de suas inspirações de Post-Hardcore, as faixas caminham totalmente nesse sentido, sem nunca deixar suas eternas influências emo.
É curioso notar que, por mais que a sonoridade tenha seguido outros passos ao decorrer dos anos, deixando os guturais e riffs mais graves para situações mais precisas, a verdadeira alma da DDT manteve-se na mesma alta qualidade: as letras. Ou seja, uma banda de fato mutável, mas sem perder jamais sua verdadeira essência.
As poesias cantadas em Mutáv3l são atemporais, e poderia trazer inúmeras citações das maravilhosas composições de Victor Birkett, vocalista e mente livre da DDT. Inclusive, por mais que os guturais me agradem, a banda evoluiu de forma inteligente ao expandir seu leque de possibilidades nos anos seguintes. Com a adição da voz de Mily Taormina, baixista que enriqueceu as composições que vieram após o álbum de 2017, novos recursos puderam ser explorados para alternar e experimentar ainda mais na musicalidade da DDT, com as qualidades únicas, versáteis e admiráveis de ambos vocalistas.
Falando em adições e mudanças, as mutações na formação da Depois da Tempestade nunca deixaram o nível cair, e ajudaram a tornar Mutáv3l ainda mais único na história da banda. A tal época, toda a sonoridade que deu vida ao trabalho era a ideal para a fase da DDT, diferente em inúmeros aspectos de singles recentes.
E tratando, enfim, das trilhas de Mutáv3l, ainda me encontro dividido em escolher minhas favoritas nesse EP de cinco maravilhosas faixas, bem dosadas e equilibradas entre si. Ouvir os pouco menos de 20 minutos de disco é ainda uma experiência plena e satisfatória, e digo isso com a propriedade de ter testado isso em diferentes estados de humor e espírito nestes mais de 5 anos entre a primeira vez que ouvi e hoje.
Mas, ouvindo de novo e de novo, sinto que a saideira Infinita Maré seja aquela que mergulha em meus ouvidos e transborde minha imaginação sempre com as melodias e, especialmente, com poesias que cativam e se prendem na memória. Em 2015 descrevi ela como uma faixa que dava um gostinho de “quero mais”, e, felizmente, fomos agraciados por todos os anos seguintes, graças a essa banda incansável que ama compor e surpreender.
Por fim, olhando para trás e por tudo que acompanhei da banda, podemos verificar uma trajetória admirável de progresso, mas sem desvalorizar a beleza do antigo. Dito isso, ouça Depois da Tempestade, ouça a discografia inteira, valorize esses músicos maravilhosos e criativos que lapidaram uma carreira merecedora de todos os elogios.