Esse é o tipo de assunto que já está batido, mas que, vez ou outra, precisamos retomar para verificarmos como as coisas mudaram (para melhor ou para pior).


Eu acho muito curioso quando vejo (ainda) uma galera criticando a cena. Muitos músicos e muitas pessoas envolvidas na cena se expressando publicamente para criticar todo o entorno do Rock e do Heavy Metal no Brasil. 

Ora o problema é o público, ora são as estruturas das casas de show, ora são os outros estilos musicais, e muitas vezes é a falta de união entre as bandas e músicos… Isso é, na prática, um desserviço.

Vamos ser sinceros. Não, a cena não é um mar de rosas. Nem deveria ser. Que tipo de riffs faríamos se fosse tudo confortável, bonitinho e sem dificuldades a serem superadas? rsrs

Mas tem muito motivo de orgulho em todo o circuito do Rock e Metal nacional!

Temos diversas casas de show que lutam diariamente para continuar de portas abertas que abrem espaço para bandas, temos diversos jornalistas e veículos de imprensa sem nenhum fim lucrativo que estão na ativa apenas por amor ao Rock e Metal, cada dia novos programas de web rádio e podcasts de alto nível discutindo o tema.

(A discussão sobre público é complexa demais para esse artigo e não é o objetivo aqui, então vamos passar com apenas um comentário: O público existe.)

E as bandas. Ah, as bandas!

Eu já fui do tipo que acreditou que era cada um por si e não havia nenhum tipo de união entre as bandas. E todos os dias fico feliz de ter mudado de opinião.

Vejo, Brasil afora, diversos exemplos opostos. Bandas caminhando juntas, unidas, produzindo eventos por livre e espontânea vontade. Diversos exemplos de confraternização entre músicos de diversas bandas.

Para citar alguns exemplos: 
Fenrir’s Scar elaborou uma excelente playlist no Spotify na qual divulga diversas bandas com vocais femininos. 

Edu Falaschi convida, sistematicamente, vocalistas menos conhecidos para duetos nos shows dele.

– Os músicos da banda Rygel organizam, anualmente, uma jam com diversos músicos da cena paulista tocando clássicos do Metal.

– Os músicos da banda Ancesttral tem um projeto semelhante, juntando músicas para uma jam que visa arrecadar brinquedos para crianças carentes. 

– Existe um movimento nacional de união entre as vocalistas mulheres de metal (concretizada em um grupo de Whatsapp) que forma uma rede de apoio para todas elas.

– A banda Final Disaster, toda 2a feira, posta nos seus stories do Instagram a #MetalMonday, divulgando bandas nacionais para o público.

– A banda Aneurose produz um evento em sua cidade sempre trazendo bandas de outras regiões, dando oportunidade para as bandas viajarem pelo Brasil e mostrando sua música!


Silent Empire todos os seus integrantes divulgam todos os cartazes, quando falo todos é realmente todos, até mesmo os que não tocam!

– Diversas bandas, recentemente, tem realizado lives, conversando convidando para suas redes, mostrando para seu próprio público, músicos de outras bandas. Alguns exemplos de bandas que andaram fazendo isso recentemente: Apokrisis, Anama e Voccatus.

Sem contar as dezenas de músicos que conheço que atuam em veículos de imprensa, podcasts, entre outras atividades além de suas próprias bandas e que ajudam a divulgar outras bandas e projetos.

E ainda existem os muitos coletivos de bandas.

Meus feeds de redes sociais são repletos de músicos que compartilham trabalhos de outras bandas quando são lançados. E isso é algo espetacular!

E esses foram exemplos nos quais não demorei nem 5 minutos para pensar. Se cavarmos mais fundo, vai ser fácil encontrar mais coisas.

É difícil dizer se eu vivo em uma bolha, em que esse cenário de solidariedade e apoio às mais diversas bandas aparece de forma predominante. Difícil dizer se isso é uma exceção completa à uma regra de individualismo e tapetes puxados. 

Mas, em um cenário com tantas dificuldades como o que vemos pelo Brasil, não é de se espantar que justamente as bandas que mais trabalham em conjunto com outras, são as que costumam obter resultados e destaques nas mídias e nos eventos. Quer você queira, quer não, estamos todos no mesmo barco. Bandas, produtores, imprensa, fotógrafos, roadies, lojistas, todos. E se não nos ajudarmos, o barco afunda.

Então não haver união no underground é suicídio.

Que bom que eu vejo, e mostro, neste artigo, alguns exemplos de que há uma luz no fim do túnel.  E que talvez essa luz seja um pouco maior do que muitos imaginam.

Para deixar claro. Estamos longe, muito longe do ideal. Temos muitos problemas na cena nacional, muitos MESMO!

Mas, aos poucos, vamos melhorando, evoluindo para, quem sabe, alçar vôos maiores. Todos nós. Juntos.

Aproveitando o ensejo, para celebrar o metal nacional, criei uma playlist com bandas que lançaram material inédito em 2020. São bandas com todos os tipos de estilos, influências e experiência. Em um ano complexo como esse, sem shows, é importante apoiar as bandas de todas as formas que pudermos.




E, com essa reflexão, me despeço.