Andressa Lé, 26 anos, nascida em São Paulo/SP, fundou em 2013 a Anfear junto de Nan Marconato. Andressa trabalha como professora de música e designer, porém seu foco principal é cantar e compor. Iniciou sua carreira na música com apenas dez anos de idade cantando em igrejas e aos doze anos já tocava bateria. Confira essa história e conheça um pouco sobre o trabalho com a Anfear:

Olá Andressa, obrigado por tirar um tempo para nós d’O SubSolo. Como começou sua carreira na música até chegar ao Anfear?
Andressa Lé: Olá Maykon! Obrigada pelo convite. Comecei cantando e tocando na igreja católica aos 10 anos. Estudei bateria alguns anos da minha vida e só depois dos 20 anos fui estudar canto. No ensino médio tive um projeto de final de ano e resolvi fazer três canções, cada uma delas falava de uma obra de literatura que deveria ser lida para as provas de vestibular. Eu fui estudar design gráfico e conheci o meu parceiro, o Nan Marconato. Juntos nós montamos um projeto a partir da ideia dessas três músicas e mais algumas composições dele, e então nascia a Anfear. Mas nós ainda não éramos músicos. Então fomos estudar para poder realizar nosso projeto. Estudamos percepção musical, composição e arranjo e tivemos até formação de músicos educadores. E até hoje a gente não consegue parar de estudar música. Trabalhamos na área de design um tempo enquanto montávamos a banda. Eu me formei na Etec de Artes como técnica em Canto e cantei de tudo lá. Também comecei a minha profissão de cantora e atriz como personagem vivo na Fazendo Arte Produções. Tudo aconteceu muito rápido. Há 7 anos não sabíamos sequer escrever partitura e hoje estamos lecionando. Sobre música, mesmo tendo três empregos, a Anfear é meu foco principal. Eu me formei para estar preparada para subir ao palco quando chegasse a hora, pois eu sabia que não seria fácil. Nunca é fácil.

A Anfear compõem desde seus primórdios? Como foi as primeiras apresentações da banda comparado aos dias atuais?
Andressa Lé: Sim, a Anfear sempre foi um projeto de banda autoral, antes mesmo de se chamar assim. Nosso foco foi bem definido em compor sobre algo que despertasse a curiosidade a respeito da cultura brasileira, com alguns fatos históricos e personagens de folclore. Temos muitas canções já compostas e algumas estão até arranjadas e prontas, daria para gravar uns tres CDs, mas a grana que a gente tem só permitiu um EP até agora. A primeira apresentação da Anfear com a primeira formação foi em 2013 em um bar no Belém, na cidade de São Paulo. Já éramos em seis integrantes e naquele dia nós cantamos 3 ou 4 canções autorais, foi uma participação no aniversário da baterista Gabi Albuquerque. Naquele palco do bar percebemos que ocupávamos muito espaço, principalmente por causa de termos um tecladista que utiliza dois teclados e mais dois guitarristas fora a bateria, o baixo e a vocal. Não foi fácil, mas tirou um pouco o nervosismo de se apresentar. Também chegamos a tocar covers uma vez na vida e foi uma loucura, tiramos em um mês umas 40 músicas, e ficou bem legal, mas percebemos que não era aquilo que nos faria felizes e resolvemos focar nas autorais. Depois de dois shows a banda mudou de formação: saíram duas pessoas: a batera e um guitarra. Então nós continuamos o projeto e começamos a gravar as canções que já tínhamos arranjado enquanto procurávamos duas pessoas para a nova formação. Quando finalmente fechamos a formação, nós terminamos também o trabalho de gravação do nosso primeiro EP e fizemos nosso primeiro videoclipe com a faixa tema do EP, a canção “Plays Of Destiny”. Lançamos tudo de uma vez no dia 13 de julho de 2016.  E fomos convidados pela Gabi que já estava com a banda dela “Gabi e os Supersônicos”, para o nosso show de estréia em comemoração ao mês do rock na Fábrica de Cultura do Belém. Foi uma festa linda e um show diferente e muito superior ao que fizemos no bar da primeira vez. O palco era gigante, tivemos passagem de som e tinha uma técnica de som super fofa que nos ajudou muito. O show foi demais! E ganhamos fotos e vídeos que nem sonhávamos neste dia. Foi incrível.  Aproveitamos os materiais e fizemos nosso site e também recheamos as redes sociais. E foram surgindo mais convites e convites para shows. Alguns com cachê, outros apenas para divulgar. Mas nossa sintonia cresceu muito e sempre ouvimos do público nos shows “Esse foi o melhor show da Anfear”.  É claro que temos muito o que aprender, mas é gigante a diferença do nosso primeiro show para o último que fizemos. A cada show a banda se torna melhor e a gente aprende com os erros, nossos e dos outros. 

Muitos optam por focar em covers, não tiro a razão ou julgo, apenas não gosto, me sinto incomodado tocar arte dos outros. Queria que você falasse um pouco, como é sua visão sobre compor e como é o processo de composição da Anfear.
Andressa Lé: Eu gosto de covers, também não julgo. Apenas fico triste quando alguém desvaloriza o nosso trabalho por ser autoral. Antes de se fazer um cover, alguém teve a ideia original. Alguém compôs a canção para que outros a gravassem a sua maneira. Isso é especial. Eu escolhi compor porque sempre canto e crio melodias. Mas também consigo sentar e compor sobre um determinado tema, faço isso em parceria com o Nan. A gente compõe de várias formas. Muitas vezes ele cria uma melodia ou dedilhado e faz uma harmonia, então eu canto e improviso algo, e vou repetindo aquilo. Quando a gente gosta, a gente grava e depois escreve a melodia na partitura para não esquecer. Quando conseguimos colocar a letra no mesmo dia, a gente grava já com a letra. Então temos o embrião, a melodia já com letra e a harmonia base. Nós dois mostramos para o resto da banda, as vezes já com algumas ideias para arranjo. A galera vai fazendo junto no estúdio ou na casa um do outro, sempre gravando quando algo vai se concluindo.  Era um processo demorado quando não tínhamos o nosso estúdio. Agora temos nosso cantinho para fazer mais à vontade. Nossa última experiência de arranjo foi mais rápida e assertiva. Fizemos uma música muito bacana em pouco tempo e já até apresentamos no show. Depois de prontas, resta a parte mais trabalhosa: na verdade, escrever a partitura e registrar na Biblioteca Nacional não é a parte mais trabalhosa, só é cansativa… É isso, ás vezes começamos a compor porque queremos falar sobre determinado tema, então a letra vem junto com a melodia. E às vezes a inspiração vem e a gente nem dorme enquanto não escreve ou grava aquilo. E a ideia fica martelando na memória até a gente concretizar.

Quais são as maiores influências da Anfear?
Andressa Lé: A Anfear tem muitas influências, somos em seis integrantes e cada um agrega com seu repertório. Temos influências de outras bandas de rock e metal como Nightwish, Evanescence, Kamelot, Angra, Sepultura, Iron Maiden, Lacuna Coil e Epica. Também temos influencia de outros estilos musicais brasileiros como maracatu, baião, forró e por aí vai… e nosso batera curte muito fusion, jazz e música instrumental, estilos que agregam na sonoridade da banda.

Estar no palco e passar sua arte para pessoas que estão ali para lhe assistir é gratificante, porém, você da aulas e ensinar pessoas sobre música é ainda mais especial. Como foi encarar isso? Um dia nos palcos e no outro dando aula.
Andressa Lé: Estar no palco num dia e poder ensinar música no outro para mim é um ponto de equilíbrio. Ao mesmo tempo que estou ensinando e aprendendo ao ensinar, nos palcos eu pratico e também tenho a chance de aprender mais e mais.  Mesmo assim, são duas coisas diferentes, como se eu precisasse assumir duas personagens, ora sou a professora Andressa e ora sou a vocalista da banda Anfear, com figurinos e abordagens diferentes. E além dessas tenho as personagens das princesas que eu interpreto nos eventos. São públicos e experiências diferentes que me completam muito e me fazem feliz, pois eu amo lecionar e poder ajudar outras pessoas e amo estar no palco compartilhando nossa arte. Eu me tornei professora por acaso. Quando eu estudava canto na Etec algumas pessoas vinham me perguntar sobre coisas e eu acabava marcando um tempinho pra tirar dúvidas e para ajudar. Até que um dia uma amiga me disse que gostava muito do meu jeito de explicar e de esclarecer, que eu poderia fazer isso. Então mais e mais pessoas queriam estudar comigo e eu acabei virando professora. E busquei o curso de Formação de Jovens Músicos Educadores, o “JME”, no Espaço Musical, onde estudei junto com o Nan durante uns 3 anos. Neste curso eu estagiei durante um ano e até lecionei lá na escola. Mas com tantos alunos indo em casa eu senti necessidade de ter um espaço pra dar aula. Foi quando eu e o Nan tivemos a ideia de fazer um estúdio-escola. E assim nasceu a LéM7 Studio Escola de Música, outro projeto nosso concretizado com salas de aula e uma sala com tratamento acústico para a Anfear e que também alugamos para outras bandas.

Acho inevitável fazer esse tipo de pergunta, temos diversas mulheres no Rock/Metal inclusive. Você ainda vê muito machismo por parte do público?
Andressa Lé: Eu tenho amigas que relatam coisas que me chocam, mas eu sempre tive a sorte de conhecer e conversar com pessoas e não sofrer com o machismo ou simplesmente não perceber. Aconteceu de eu receber olhares antes do show ou alguns comentários como: “Ah você só pode ser a vocalista né?” como se o fato de eu ser mulher me limitasse a saber tocar outros instrumentos além de cantar. Como a Anfear é uma banda independente nós temos muitas funções e eu ajudo a carregar e a montar a bateria nos shows e por isso ganhei um apelido carinhoso de “braço de pedreiro”, que também surgiu nos primeiros shows quando eu fiz uma cena simbólica no palco de “quebrar as correntes da escravidão” numa das canções que temos que fala da abolição da escravatura. Eu não sofri muito com o machismo, mas não ser machista ou não reproduzir o machismo ainda é um exercício diário que temos que fazer nas pequenas atitudes. Apesar de termos tantas mulheres no rock/metal ainda somos em menor número. Lembro-me quando eu era mais nova e tocava bateria, as pessoas se admiravam: “Nossa! Uma menina tocando bateria, não acredito! Você não tem cara de ser baterista”  Isso só porque eu era menina, e sempre reagi com bom humor. Agradeço muito a minha família que sempre me apoiou nas coisas que eu queria fazer sem me podar por eu ser mulher. E agradeço muito aos meus colegas de banda que me admiram pela pessoa que eu sou, acima do gênero, nem inferior e nem superior, mas iguais e na mesma luta.

Bacana sempre a ajuda da banda em casos assim, quem tem banda sabe como é crucial o apoio do pessoal do grupo. Sobre os shows da Anfear, como vocês fazem para cuidar da agenda da banda?
Andressa Lé: Geralmente os convites para shows chegam até mim ou até alguns dos meninos, e nós sempre repassamos para o grupo do WhatsApp da banda onde conseguimos nos contactar rapidamente para saber da disponibilidade de cada um. Organizar seis agendas não é nada fácil por isso nos mantemos em contato sobre compromissos pessoais que possam interferir futuramente na agenda da banda. Quando todos dizem sim, nós fechamos o show e começamos a divulgar.

Os planos futuros. O que podemos esperar da Anfear?
Andressa Lé: Temos muitos planos, alguns que vão muito além dos recursos que dispomos, mas vamos sempre priorizando resolver o que está ao nosso alcance. Atualmente estamos trabalhando na gravação do nosso novo single da canção “Iracema”, composta a partir da obra de literatura brasileira Iracema de José de Alencar, uma canção em português com influências brasileiras na sonoridade e que já executamos ao vivo desde nosso primeiro show. Além disso estamos planejando o nosso primeiro Álbum que já possui todas as canções arranjadas e prontas para o processo de gravação.

Gosto da forma como caracteristicamente você se veste e pinta o rosto. Isso faz parte dos shows também, ou só nos videoclipes? Como surgiu essa caracterização?
Andressa Lé: Esta caracterização eu utilizo tanto nos clipes quanto nos shows e foi resultado de algumas pesquisas que fizemos quando estávamos montando o projeto, no começo a ideia era ter alguma identidade que expressasse as nossas raízes mas sem ser tão explícita e que ao mesmo tempo mostrasse que tocamos metal. No início eu fazia a pintura facial apenas para os clipes e depois comecei a utilizar também nos shows. 


O que você acha que difere a Anfear de outras bandas? Quais as caractetisticas ímpar do grupo na sua visão?
Andressa Lé: Na minha visão a Anfear possui canções que trazem conteúdo que explora ou oferece reflexão sobre a nossa cultura, além de ter influências da música brasileira na nossa sonoridade. Mas eu acho que nosso principal diferencial está nas composições, na maneira de pensar, de escrever e arranjar as músicas. Fazemos o que gostamos de ouvir e o resultado sai interessante devido à contribuição de cada integrante nas canções.

Andressa, obrigado pela disponibilidade e foi um prazer conhecer ainda mais sobre o seu trabalho e da Anfear. Que tal deixar uma mensagem para os leitores?
Andressa Lé: Eu que agradeço esta oportunidade. Gostaria de dizer aos leitores que, independente de quem você seja, se deseja realizar algo na sua vida, vá em frente. Não se limite ou desmotive pelo que os outros vão te dizer, aceite as críticas e aprenda com elas. Apenas acredite de verdade no que você ama, tenha foco e determinação para trabalhar pelo seu ideal e vencer as dificuldades e assim poderá realizar seus projetos para alcançar seus sonhos. Aproveito para convidar o pessoal a conhecer o trabalho da Anfear ou indo nos shows ou nos acompanhando nas redes sociais. Se inscrevam no nosso canal do youtube e curtam a nossa página no facebook para acompanhar as novidades que estão por vir. Obrigada!

Formação:
Andressa Lé – (vocal);
Nan Marconato – (guitarra);
Caio Balestra – (guitarra);
Junior Soares – (teclado);
Geovani Rodrigues – (bateria).
Mais informações:
Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.