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Entrevista: ANTRVM (São Paulo/SP)

A banda ATRVM teve seu início no final de 2020, na capital paulista. Seu intuito foi dar ao Metal Extremo mais um projeto sólido que fundisse a sonoridade pesada com as temáticas do universo de horror. Seu nome é uma derivação do latim ‘an-trum’ que significa cavidade ou caverna, refletindo assim a profundidade de sua proposta artística.

Encabeçado pelos amigos Victor Cutrale (ex-Furia Inc) e Victor Henrique, que tem uma longa história de mais de 15 anos, o projeto de fato ganhou forma durante o reencontro destes músicos e amigos, marcando o início focada em criar música autoral.

Tivemos o prazer de entrevistar a banda em uma conversa sincera e íntegra, confira a seguir:

Antes de iniciarmos, gostaria de agradecer a disponibilidade e a atenção que sempre dão para nosso portal, é gratificante contar com o apoio de vocês. O ANTRVM nasceu com a proposta de movimentar o cenário do metal extremo no Brasil. Como vocês enxergam a atual cena nacional e quais desafios enfrentaram para se estabelecer dentro dela?

Victor Cutrale: Primeiro lugar, muito obrigado pelo espaço. Esse tipo de trabalho ajuda demais bandas como o Antrvm, que dependem de uma divulgação orgânica. É difícil falar sobre uma cena quando ela não acontece em um lugar físico. Acho que quando você frequenta bares, casas de eventos, locais onde as mesmas pessoas se reúnem, é fácil entender a cena que está acontecendo ali. No caso do metal, acaba se tornando muito mais virtual essa cena. Então, partindo do princípio de que operamos em uma cena virtual, nunca temos certeza do que está acontecendo de verdade. É muito barulho, muita zoeira e a arte sempre em segundo lugar. Não gosto de ser pessimista, mas a verdade é que estamos todos perdidos. Não temos grandes eventos de bandas nacionais acontecendo e, com a enxurrada de shows internacionais, acabamos ficando reféns da oferta gringa. O mercado brasileiro apresenta alguns lampejos de mudança, mas a verdade é que a coisa não está legal para ninguém. Hoje em dia você não entende mais o que é uma banda de verdade ou um meme musical. As pessoas não se relacionam mais com a arte e sim com o rostinho carismático do seu influencer favorito.

A trilogia de EPs tem uma forte conexão com o horror cinematográfico. Como funciona o processo criativo para traduzir a atmosfera desses filmes em música, e há alguma obra específica que serviu como principal referência?

Victor Cutrale: Para nós sempre foi natural a conexão entre o metal e o mundo do horror cinematográfico. Tanto por serem estilos marginalizados e até mesmo underground, creio que seja comum você ter fãs de ambas as coisas. Mas para nossa surpresa, não é bem assim. Nem todo fã de metal gosta de filmes de horror (risos). Adotamos a temática muito mais para guiar nossas composições do que apenas para decorar o layout do nosso som. Sobre referências diretas, pegamos três filmes que consideramos fundamentais para o universo do horror e colocamos o sabor deles em nossa música. Não são músicas 100% baseadas nas obras, mas o espírito da coisa está lá.

A transição temática de “Defiler” para “Social Death” reflete uma mudança do individual para o coletivo. Como essa nova abordagem influenciou as letras e a construção sonora do próximo EP?

Victor Cutrale: Quando compusemos o “Defiler” durante a pandemia, era muito fácil ter acesso a sentimentos e presenciar ações egoístas. Foi natural abordar esse tipo de assunto, ainda mais com o filme “Hellraiser” como inspiração. É muito importante ter essa evolução no discurso, pois isso mostra nossa percepção sobre o mundo. O que também se torna um pouco arriscado, pois toda expressão pode ser vítima da interpretação alheia.

O videoclipe de “The Way of the Saw” explora a dualidade entre normalidade e brutalidade. Como foi o desenvolvimento do conceito visual e qual a importância da narrativa audiovisual para complementar a identidade da banda?

Victor Cutrale: O desenvolvimento foi do jeito de sempre: “pra ontem!” (risos). Precisávamos de uma ideia que conseguisse traduzir a ideia da música. Esse EP aborda como pessoas perigosas circulam por aí, usando máscaras de pessoas normais. Queríamos algo que não fosse tão explícito, mas que trouxesse o peso da realidade de muitos sociopatas.

Vocês já tocaram ao lado de bandas como Project46, Emphuria e Hatematter. Como essas experiências moldaram o ANTRVM, tanto musicalmente quanto na forma de se conectar com o público?

Victor Cutrale: Infelizmente ainda não tocamos tanto quanto gostaríamos, mas todo show é muito importante para nosso desenvolvimento. Essas bandas com as quais dividimos o palco têm o mesmo tipo de filosofia que nós: amar música pesada e destruir ao vivo. É muito gratificante termos amigos queridos nessas bandas, pois são as melhores bandas do Brasil.

Com a entrada de novos integrantes, a banda passou por uma renovação sonora. Como foi a adaptação desse novo time e de que forma cada músico contribuiu para a identidade do próximo lançamento?

Victor Cutrale: Independentemente de quem esteja na banda, eu e o Vitor somos os “capitães” do barco. Isso facilita a divisão de responsabilidades e não deixa ninguém insatisfeito com seu papel no grupo. Não obrigamos ninguém a participar financeiramente e não cobramos exclusividade, mas existem responsabilidades a serem cumpridas. Gava e Kevin são músicos bastante talentosos e pessoas muito legais, é um prazer ter esses caras a bordo. Bruno, apesar de estar conosco desde os shows de divulgação do primeiro EP, finalmente registrou seu talento nesse novo trabalho. Com certeza são caras que trazem um novo jogo de ideias para nós e a contribuição eleva nosso nível musical. As músicas estão mais brutais e pesadas do que nunca.

Além das influências literárias e cinematográficas, o ANTRVM mistura elementos de Groove, Thrash, Death Metal e Metalcore. Como vocês equilibram essas referências para criar uma sonoridade própria e autêntica?

Victor Cutrale: É muito difícil tentar criar algo novo sendo que ouvimos as mesmas bandas sempre (risos). Mas acho que o grande lance é trabalhar a composição e não um estilo em si. Quando você se prende a um estilo de composição, você se torna seu próprio inimigo. Uma sacada nossa, que considero bem esperta, foi justamente mudar a sonoridade de EP para EP conforme a inspiração de cada tema. Isso nos dá liberdade de brincar com os estilos do metal sem perdermos nossa identidade, que é um metal mais obscuro na essência.

A experiência de gravação de “Defiler” durante a pandemia trouxe desafios e aprendizados. O que dessa vivência foi incorporado ao processo de criação e gravação de “Social Death”?

Victor Cutrale: Nosso primeiro EP foi 80% gravação caseira e apenas voz e alguns outros instrumentos gravados em estúdio profissional. Foi muito legal ter essa experiência bem ‘do it yoursel’, mas nos limitou demais. Dessa vez tivemos mais calma e fomos acompanhados pelo Wagner Meirinho, que ajudou a chegar em um resultado fantástico. A captação de bateria foi feita por Adriano Daga, então estávamos realmente muito seguros de que teríamos um som incrível de bateria também.

O conceito de “morte social” aborda ideologias distorcidas e disfunções na sociedade moderna. Vocês enxergam essa abordagem como uma forma de crítica direta ou como uma interpretação artística dos tempos atuais?

Victor Cutrale: Acho que as pessoas não enxergam que as coisas andam muito doidas há muito tempo. Só que agora potencializamos todas nossas inseguranças divulgando nossos pensamentos na internet. São milhares de pessoas afetadas todos os dias pelo que outras pessoas produzem. Todos nós vivemos um estado de ansiedade insana, não tem mais ninguém tranquilo. A impressão que passa é que a qualquer momento o mundo vai pirar de vez, porque nada mais faz muito sentido. São mentiras rebatidas com mais mentiras, são líderes proféticos de procedência duvidosa surgindo a todo momento. Crianças se tornando coaches financeiros sem nem saber limpar a própria bunda. São tempos sinistros e nosso EP aborda exatamente isso.

Gostaria de agradecer, gosto muito do ANTRVM e nós d’O SubSolo desejamos todo sucesso do mundo. Queria deixar esse último espaço para deixarem uma mensagem para nossos leitores e fãs do ANTRVM. Obrigado!!

Victor Cutrale: Muito obrigado pelo espaço, é esse tipo de trabalho que ajuda inúmeras bandas independentes. Meu recado é simples: curtam e apoiem as bandas que vocês gostam. Ajudem esses grupos a se tornarem campeões locais. Saiam da internet e vivam a intensidade de um show ao vivo. Deixem o celular no bolso e caiam no mosh. Vivemos a época mais sintética de todas. Está na hora de sair de casa um pouco.

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.