Jairo Guedz é guitarrista e deu  início sua carreira no metal com o Sepultura em 1985, passou por outras grandes bandas como o Overdose e Eminence,  e hoje segue sua carreira com o The Mist, The Southern Blacklist  e Metallica Cover Brazil.  Na entrevista abaixo, ele fala um pouco sobre sua carreira, música e equipamentos. Confiram!


A imagem pode conter: 1 pessoa

Fonte: Jairo Guedez Facebook.

O que te motivou a dar início à carreira musical?  
Jairo: Eu tive uma infância extremamente musical, rodeado de discos de vinil, na minha casa tinha uma radiola de móvel, e dentro uma divisória com todos os vinis da minha mãe. Ela dançava muito, tinha coleção de discos clássicos, bolero, tango e adorava Elvis Presley. Logo que me mudei pra Belo Horizonte, eu morei com minhas irmãs, e tinham uma coleção de vinis muito legais. Conheci Sweet Fanny Adams, Peter Frampton, Supertramp, Pink Floyd, Aerosmith, entre outros, com minhas irmãs. Elas colecionavam revistas pop, jornais musicais, etc…Logo depois encontrei meu irmão do coração, Rogério Rocha (Pepeu) que, futuramente seria guitarrista do Chakal e do Easy Rider. Ele me apresentou aos 12 anos de idade coisas como Kiss, Alice Cooper, Asia, Rush, etc… Kiss passou a ser minha maior influência no rock.
Gostaria de saber um pouco mais sobre seus equipamentos. Poderia nos contar um pouco sobre o que você tem usado?
Jairo: Eu sou muito comedido com equipamento… Não sou um cara muito tecnológico, gosto de som cru, direto do amplificador. Mas com a necessidade de ter um mesmo som em todos os shows e o antigo problema de encontrar bons equipamentos no Brasil, nas casas de show, etc… Eu resolvi montar meu pedalboard com um set de pedais mínimo e que me garantem um som único (para cada banda que estou tocando). E posso com isso, garantir uma qualidade de som mínima pro meu público também. Eu tenho 3 guitarras que têm a mesma parte elétrica (captação emg 81) – uma Les Paul Esp – uma Epiphone SG – uma Flying V Epiphone. Meu set de pedais é simples: um super Overdrive Boss + wahwah dunlop signature Andreas Kisser + Delay Reecho Mooer + Super Shifter ps-5 boss + pedal Tube Station valvulado (pré do 5150). Ao vivo uso apenas as caixas JCM Marshall.
Quais bandas brasileiras você tem escutado ultimamente e o que recomenda?
Jairo: Escuto muito pouco música em casa – procuro não me influenciar demais com outras bandas. Mas gosto muito do Oceania, Ego Kill Talent, Eskröta, Ratos de Porão, Losna e Desalmado.
O  mundo é bem globalizado e digital hoje em dia, há quem diga que lançar álbuns é coisa do passado, porque a maioria das pessoas consomem músicas individuais nos dias de hoje. Como você enxerga o atual cenário musical e qual sua visão para o futuro da música?
Jairo: Eu não acho que tudo isso vai simplesmente desaparecer. Existe uma febre no início de cada novidade, de cada processo, mas depois a poeira abaixa, as coisas se normalizam. E você tem tribos de pessoas que querem colecionar os vinis, os cds, até VHS e fitas K7. O “Phantasmagoria” do The Mist mesmo foi lançado em K7 nos Estados Unidos há pouco tempo atrás. Tenho vários amigos na Europa que compram álbuns de vinil e fazem questão de ouvir esses álbuns. Acho que a internet, o stream, o digital, tudo são ferramentas que vão facilitar o acesso ao seu trabalho, mas a sensação em ter um disco de vinil nas mãos, ou um livro de papel, é insubstituível, porque não está mais ligada ao fim, ao resultado, está ligado ao processo, ao prazer.
Por  estar nesse meio do metal há tempo tempo,  como você vê a cena hoje? Sente falta  das peculiaridades dos anos 80/90 ou acha que está muito melhor agora?   
Jairo: Sem dúvida está bem melhor hoje. Como músico, hoje posso exigir um equipamento decente pra fazer meus shows, posso pesquisar a linha profissional de um produtor pra saber se ele é ou não um bom pagador, antes mesmo de assinar um contrato. Temos todos os meios de divulgação necessários pra fazer um evento, patrocinadores de todos os tamanhos e modelos, o heavy metal não é mais a ovelha negra do mundo da música – é um negócio tão rentável quanto outros estilos de música – e isso nos trouxe pra um patamar muito maior e mais exigente que antigamente. Depois de passar fome, ser preso, ser enxotado de restaurante, de hotel, ficar sem cachê no meio de um território desconhecido, etc, etc… Não tem como sentir falta disso rsrsrs… Sinto falta da bagunça, mas isso era bom quando eu era um adolescente que ainda morava com os meus pais. Hoje não acho graça nenhuma em passar por esse processo novamente.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e show, possível texto que diz "THEMIST THE HE-SCARECROW TOUR XXI UPCOMING TOUR 2020"
Fonte: Jairo Guedez Facebook.

O The Mist está de volta e foi muito bem recebido pelo público, como surgiu a ideia dessa turnê com a banda?
Jairo: O Korg e o Chris Salles me procuraram no meu bar um dia. Me trouxeram essa ideia de tentar voltar. O combinado era simples, voltar apenas se tivéssemos certeza de duas coisas: teríamos maturidade suficiente pra fazer do processo um prazer pra todos da banda? E teríamos capacidade profissional pra entregar pro nosso público o que ele merece? Depois de muito ensaio e muitas reuniões, decidimos que era hora de sair pra estrada. E acredito que tenha funcionado muito bem. O público adorou esse retorno aos palcos e estamos felizes com os resultados também.
Após essa sequência de shows, você acha que em um futuro próximo  o the mist pode lançar material novo ou não está nos planos?
Jairo: Acho possível, eu mesmo continuo criando muita coisa, brincamos nos ensaios, etc…Mas o foco não é esse por enquanto. O foco são os shows. Paramos por causa dessa quarentena, mas assim que isso passar queremos voltar pra estrada.
Olhando para toda sua trajetória e carreira , se pudesse voltar ao seu passado, haveria algo que você teria feito diferente?
Jairo: Teria feito muita coisa diferente. Não acho que tudo o que fiz estava certo, que fui justo, que fui inteligente o bastante. Fiz muita besteira, ofendi algumas pessoas que não deveria, algumas pessoas me fizeram de trouxa por algum tempo, deixei escapar algumas chances boas, abracei algumas chances furadas… Isso acontece. Mas esse é o processo, é assim que vou pavimentando minha estrada, com os acertos e com os erros, me sinto muito mais capaz hoje de continuar nessa estrada. Muito mais maduro.

A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas em pé, sapatos e atividades ao ar livre
Fonte: Jairo Guedez Facebook.

E para finalizar, poderia nos contar uma história engraçada que você tenha presenciado em alguma tour, gravação ou show? 
Jairo: Agora pode parecer engraçado, mas na época não era nem um pouco kkkkkkk. Uma vez, saindo do metrô no Vale do Anhangabaú em SP indo pra Woodstock Discos eu, o Max e o Igor fomos assaltados, na escadaria do metrô. Igor tinha acabado de comprar um pedal duplo caríssimo e não tínhamos mais dinheiro nem pra comida. Ao chegar chorando na Woodstock, desolado, uns caras do ABC vieram falar com a gente, perguntaram pro Igor como eram os marginais que roubaram ele (eles ameaçaram com faca inclusive), e onde tinha ocorrido o fato. A gente explicou e um ou dois desses metaleiros do ABC desceram correndo as escadas do metrô. A gente ficou na loja vendo os vinis, conversando com os fãs e amigos, por uma hora e meia quando os dois caras voltam carregando a sacola com o pedal do igor nas mãos! kkkkkk Foi muito bom isso! A sensação foi de felicidade e alívio. Quando perguntamos pros caras o que eles fizeram, se estavam bem, se rolou treta etc, eles disseram: “Não, os caras que te assaltaram são lá da nossa quebrada. A gente conhecia eles. Tá tranquilo.”