O Khorium mistura Rock e Hardcore, mescla Rap, adiciona pitadas de Metal, mas acima de tudo, é uma banda de opinião forte e não fica em cima do muro. Não apenas na sua vida fora dos palcos e sim, principalmente neles, a banda deixa sua opinião e visão. 


Suas composições são fortes e notáveis, e portanto, a banda vem se destacando. Conversamos desta vez com a banda inteira e o bate-papo foi bacana, você pode conferir agora:








Como se originou a Khorium?


Glaydson Moreira: O Khorium surgiu no início de 2017. Iniciei o projeto convidando dois amigos, Dré Almeida para o baixo e Shalon Webster na bateria, que eu já conhecia de outros trabalhos que passaram pelo estúdio que possuo. Uma curiosidade é que ao contrário da maioria das bandas que começa tocando covers primeiro para só depois partir para autorais, o Khorium já nasceu direto com autoral. A banda já nasceu junto com o 1o single “Quem vai pagar” (que fez parte da coletânea O Subsolo vol. 3). 

Shalon: Exatamente isso! Em 2016 conheci o estúdio do Glaydson ensaiando com outros projetos que participava na época. Cheguei a gravar lá e a sintonia foi boa. O resultado foi o convite em 2017 pra tocar na Khorium. Não só a musicalidade, as idéias, e muito do que pensamos hoje sobre música casaram bem. 

Sobre o que gostam de compor? O que inspira vocês?

Dré Almeida: Acredito que as letras com conteúdo de política revelam a época em que vivemos. Vivemos em um mundo de caos onde os valores são invertidos. A corrupção moral virou tema comum. Acredito que a melhor forma que nós como músicos podemos expressar são através de uma temática pesada e letras de protesto. Isso facilita o processo de criação das músicas.

Glaydson Moreira: O EP tem uma temática que expressa nossa insatisfação com o estado atual das coisas, a superficialidade que é o zeitgeist dos tempos atuais, e sempre sem preocupação de desagradar quem quer que seja. A arte deve provocar alguma sensação, reação ou reflexão, nem que seja causar um incômodo. E como misturamos elementos de vários estilos, rap, metal, hardcore e punk, temos liberdade para abordar qualquer tema. 

Como a banda se comporta fora dos palcos? Como é o planejamento interno de vocês?

Glaydson Moreira: Nosso planejamento é feito pensando na qualidade. Nosso interesse é sempre apresentar o melhor, seja em músicas, arranjos, arte de capa, vídeo clipes ou produtos de merchandising. Também atuamos sempre na divulgação da banda. Mesmo quando nós não estamos nos apresentando, os trabalhos não param. Nessa questão as redes sociais tem ajudado muito a alcançar um número maior de pessoas. 

Vocês tem umas letras muito fortes contra o sistema. A ideia foi essa desde o início? Em quais bandas vocês se influenciam?

Glaydson Moreira: Sim. A banda já nasceu com essa intenção de expressar uma visão crítica e provocar uma reflexão. Isso influenciou inclusive na decisão de cantar em português, ainda que isso reduza nosso espaço aos países lusófonos. Quanto às influências, são muito diversas, até pela diferença de idade entre nós. São gerações diferentes de músicos, com gostos e trajetórias bem diferentes. Dré Almeida e Shalon Webster podem detalhar suas influências e gostos. Quanto a mim, eu tenho intencionalmente procurado colocar no Khorium uma série de referências que trago dos anos 90 como Pavilhão 9, Cambio Negro, Stuck Mojo, Prong, Clawfinger, Ratos de Porão, Pantera e RATM. 

Shalon: Com relação as influências realmente existe um leque muito grande. Gostaria primeiro de frisar que a vida em si é muita inspiradora. Um café com um amigo, uma conversa no ponto de ônibus com um desconhecido, um filme, um livro, o dia-a-dia, tudo influencia na vida e isso acaba se refletindo na musicalidade de alguma forma. Mas claro, há também as influências musicais mais diretas. Pra não ficar muito abrangente citarei minhas principais influências dentro do universo do rock, que vai um pouco da escola do new metal dos anos 90 como P.O.D, Blindside, Korn, Creed até o post-hardcore e metal-core com bandas como Killswitch Engage, Demon Hunter, Alexisonfire, Bring Me The Horizon. Lembrando que isso é só dentro do rock, existe vida fora também (rs)!  

Dré Almeida: Tenho influência diretamente de rock mais leve. Amo Red Hot Chilli Peppers, Muse, Green Day e por aí vai. Gosto muito do Groove que temos criado na banda. Essa liberdade enquanto a composição deixa tudo mais fácil de trabalhar e desenhar a sonoridade da banda.

Com a atual situação política e econômica do nosso país, acham importante os artistas se posicionarem?

Glaydson Moreira: Sim. Não dá pra simplesmente fingir que nada está acontecendo. Com todo respeito à quem faz música tratando de desilusões amorosas ou seres mitológicos antigos, mas o nosso interesse é provocar reflexão, instigar o questionamento da ordem estabelecida e a estrutura social vigente. Sem ser panfletário ou partidário quanto a qualquer lado (até porque vemos falhas e extremismos alimentados por superficialidade em ambos os lados). A massa tem sido cada vez mais manipulada, e os poderosos se garantido cada vez mais impunes. O maior sinal de que estamos conseguindo causar desconforto e reflexão são as ofensas  que recebemos de extremistas de todos os lados: liberais, conservadores, de direta e de esquerda. Se eles estão se doendo é porque estamos acertando as feridas. 

Shalon: Com relação as letras, realmente a ideia desde o início foi apontar as mazelas do nosso país. Estamos tão cercados por essa triste realidade que fica até difícil fazer uma música onde a veia não seja de rebeldia e protesto. É um assunto que não fica batido! Mas acredito que em outros trabalhos poderemos abordar outros temas, sem problemas. 

Como vocês enxergam a “evolução” da música, analisando antigamente com os dias de hoje?

Glaydson Moreira: Ao mesmo tempo que hoje existe uma diversidade muito maior, tudo ficou ainda mais segmentado.
O fato de existir acesso amplo à musica através da Internet reduziu a cadeia produtiva necessária para chegar até o ouvido das pessoas. O desafio hoje é outro: como ser relevante com uma massificação tão grande de novos lançamentos todos os dias? Um aspecto positivo e que nos ajudou é que hoje existe muito mais abertura para misturas. O  Khorium encontrou público entre ouvintes de metal, de rap e até de punk. Pessoas sem preconceitos com a mistura. Coisa impensável no passado.  Claro que tudo isso dentro desses nichos. Mainstream ainda continua nas mãos de poucos. A música das massas ainda é produto comandado por interesses meramente financeiros. Mas isso sempre foi assim. Não melhorou nem piorou. 




Pelo fato da internet dar maior acesso as bandas, vocês acham que o cenário já não é mais tão “underground” assim? Pois antigamente eram a base de fanzines impressos a xerox, cartazes pelos muros e postes e etc.

Glaydson Moreira: Isso é uma evolução natural. Os meios hoje são outros. E profissionalizar o underground é algo positivo. Inclusive ainda há muito o que avançar nesse ponto. O lado ‘ruim’ é só o exagero. Não é difícil encontrar bandas que antes mesmo terminar de compor a primeira música, fazer o primeiro show ou sequer  completar os integrantes da formação já tem business plan, estratégia de marketing etc. A moda do momento são os gurus de music business e marketing para bandas. Mas é muita teoria pra pouco case de sucesso. A música deveria vir sempre em primeiro lugar. 
Quais as maiores dificuldades de ter banda independente no Brasil?

Shalon: Ser uma banda independente, significa que você tem que fazer tudo! Essa é a glória e também a maior dificuldade! Pessoas que não valorizam isso, e não dão o devido respeito ao seu trabalho, atrapalham a evolução da caminhada do artista. Mas não deve ser motivo pra parar. Quem quer fazer, da um jeito. Vá e faça você mesmo!

O que falta para termos uma cena mais justa e unida?

Glaydson Moreira: A cena brasileira tem muita gente boa, muitos bons músicos com trabalhos de qualidade. Mas falta incrementar e interligar a “cadeia produtiva” do setor. O mainstream hoje é praticamente todo dominado pelo sertanejo, e que se mantém forte porque existe toda uma indústria ao redor dele que gira muito dinheiro. Os produtos e shows tem muito consumo. Dentro do underground é preciso  pensar formas de ligar quem toca com quem produz eventos, com quem notícia, com quem tem casas de entretenimento e a partir daí, criar um ciclo que se sustente. Não dá pra manter uma imagem ‘romântica’ das coisas, falando em união e etc se a cena não se sustenta, se não tem grana girando. E criar esse “consumo” das bandas no underground passa pela melhoria dos eventos, das posturas das bandas, enfim de tudo que é oferecido ao público.  Sempre vejo músicos reclamando da falta de valorização das bandas underground pelo público. Mas é uma postura esdrúxula. Se você abre uma sapataria e o consumidor compra sapato em outro lugar o erro é do cliente ou da sua sapataria? A galera das bandas precisam se reinventar, agir diferente. O mesmo vale pra quem produz shows etc. Reclamar do público não resolve. Atuar com mais inteligência e criatividade sim.

Quero agradecer por terem topado essa conversa. Alguma mensagem aos leitores?

Glaydson Moreira: Nós que agradecemos pela oportunidade da entrevista e pelo espaço que O Subsolo sempre abriu para o Khorium. Para nós foi uma honra poder integrar a coletânea vol. 3 do portal, o que nos trouxe excelentes resultados na divulgação da banda. E agradecer a todos que tem nos apoiado através da internet, nas redes sociais e pessoalmente. O EP tem sido muito bem recebido e o público tem nos encorajado a cada vez mais produzir novos materiais e seguir em frente!

Shalon: Agradecemos o espaço, parabéns pelo trabalho!


Colaboração na matéria de: Caio Botrel.

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.