Salve Headbangers!

Nessa mais recente edição do História & Metal vamos apresentar para vocês, prezados leitores, um dos
maiores nomes do Pagan Metal que utiliza suas letras como uma forma de arte e
resistência contra o colonialismo e o eurocentrismo, o Miasthenia. Desde o seu
primeiro trabalho, Para o Encanto do Sabbat (1995) a horda vem
aperfeiçoando sua temática e suas letras, e, na minha opinião, o ápice de sua
sonoridade está presente em Antípodas, trabalho lançado em 2017 e onde
encontramos a saga das Amazonas Coniupuyaras.




O conceito de Antípodas:

Antípodas são regiões
diametralmente opostas, traduzindo o termo, seria como o outro lado do mundo.
No contexto do trabalho, a América antiga era antípoda ao continente Europeu,
na verdade, esse termo não se referia apenas a distância geográfica como
também, às formas de sociedade, pois de acordo com a Europa cristã, os povos
ameríndios eram bárbaros incivilizados.

As expedições amazônicas:

A região amazônica é um
grande patrimônio biótico mundial (nem preciso citar a necessidade de
preservação, mas enfim, maldito Leonardo de Caprio incendiário!) e por
ser uma mata densa e higrófila, dificulta muito o acesso à mesma, fato é que
desde a descoberta do novo mundo por Colombo, muito se viu o potencial
exploratório dessas regiões, por isso aconteceram diversas expedições, como a
de Alonso de Ojeda em 1499 e a de Vicente Yanez Pinzón em 1500,
que penetraram no estuário do Amazonas.

Entre esses exploradores
(não vou utilizar o termo colonizadores por motivos de acreditar que o
território brasileiro foi usurpado e não colonizado), dois nomes são de   vital importância para entendermos a lenda
das Amazonas, Francisco Orellana e Gaspar de Carvajal.

Em 12 de fevereiro de 1542,
o explorador espanhol Francisco Orellana vindo do Peru por via fluvial,
atingiu o Rio Amazonas, então chamado de Rio Grande, ele foi o primeiro europeu
a navegar este rio. Orellana participou com Francisco Pizarro
(1476-1541) da conquista do Peru, submetendo o Império Inca ao domínio espanhol
em 1532-1535. Então eles já tinham a habilidade em explorar, a vinda para essas
regiões era uma busca pelo lendário El Dorado, a “terra do ouro”.

É quase certo que nunca
existiu uma cidade coberta de ouro na América do Sul. Mas a simples
possibilidade de haver algo parecido com El Dorado mexeu com a imaginação de
aventureiros por quase 500 anos, que defendiam e esperavam encontrar os
tesouros do império Inca.

As tropas de Orellana
já enfrentavam o território anecúmeno, mas mal sabiam que teriam à frente deles
uma resistência muito maior, as Icamiabas ou Coniupuyaras.

A forma como elas duelaram
não só expulsou os colonizadores, como recriou o imaginário das Amazonas
inspirada na mitologia grega, é daí que vem o nome do grande Rio Amazonas. 

Muito do que sabemos desse
conflito está presente nos registros de Gaspar Carvajal. Nós mesmos
vimos essas mulheres lutando como líderes femininas na linha de frente de todos
os índios. As mulheres são muito claras e altas e usam cabelos compridos que
trançaram e enrolaram em torno de suas cabeças. Elas são muito fortes e ficam
completamente nuas, mas suas partes púbicas estão cobertas. (CARVAJAL, 1992.)

O próprio cronista foi
vítima do exército feminino, Carvajal recebeu uma flechada na coxa e
outra nos olhos. Além de se assustarem com a ferocidade do ataque, o que chamou
a atenção deles foi também, a presença feminina, pois temos que lembrar que a
Europa vivia um regime cristão patriarcal. 

O legado das mulheres
guerreiras é até hoje lembrado como uma das maiores resistências contra a força
do homem branco cristão, e essa saga é narrada na letra de Coniupuyaras

 

Nos domínios sombrios do grande rio-mar
Unimos ao círculo de poderosas guerreiras
Na rota do Eldorado
No reino das Coniupuyaras
Por suas próprias leis
Resistir e lutar
Eis aqui as guerreiras do Thermidon
Do Reino de Resmacoron
Herdeiras das Fúrias
Guardiãs do fogo sagrado
Do templo dourado
Último avatar de deusas guerreiras

Correm as amazonas
Nas fronteiras do possível
Heranças de um mundo antigo
Eis o mundo de Gaboymilla
Rainha Céu de Ouro
Cacicados de deusas guerreiras
Soberanas
Coniupuyaras
Iamaricumã
Icamiabas
Coñori
Soberanas
Resistem as amazonas
Resistem as amazonas
Contra a idolatria de um deus inimigo
 

Fontes:

CARVAJAL, Gaspar de.
Relatório do novo descobrimento do famoso Rio Grande descoberto pelo capitão
Francisco Orellana. Rio de Janeiro: Scritta, 1992. 

CARVAJAL, Gaspar de; ROJAS,
Alonso de & ACUÑA, Cristobal. Descobrimentos do Rio das Amazonas. Companhia
Editora Nacional, 1941 (Coleção Brasiliana).


LANGER, Johnni. As
indestrutíveis amazonas. Revista de História da Biblioteca 
Nacional, n. 34,
julho 2008. PORRO, Antônio. As crônicas do Rio Amazonas. Petrópolis (RJ):
Vozes, 1992. PAPAVERO, Nelson et alii. O novo Éden. Belém (PA): Museu Paraense
Emílio Goeldi, 2000.
 


OLIVEIRA, Jo (adaptação). As
Amazonas. A conquista do rio-mar pelo capitão Francisco de Orellana segundo
Frei Gaspar de Carvajal. São Paulo: Cortez, 2010.


https://ensinarhistoriajoelza.com.br/linha-do-tempo/francisco-orellana-chega-ao-rio-amazonas/
– Blog: Ensinar História – Joelza Ester Domingues