Começo com repertório de covers, ascensão na cena regional, reconhecimento nacional e um show inesquecível no Palco Mundo do Rock in Rio. A trajetória dos sonhos de qualquer banda aconteceu na história da Kiara Rocks, mas os passos seguintes foram longe do esperado. Se o céu parecia o limite em 2013, foi bem abaixo dele que a banda passou a andar. Pouco mais de um ano após a memorável noite no maior festival de música do mundo, a Kiara Rocks anunciou seu término, jogando um balde de água fria em seus fãs. No entanto, a banda não nasceu para ter uma história fácil ou retilínea, e após o seu retorno, em 2015, muita coisa mudou, mas a luta por levar Rock n Roll autoral e de qualidade nunca acabou.


O ano era 2007 quando Kadu Pelegrini (na época, Cadu) traçou a banda que viria a ser seu projeto de vida, fruto de suas experiências anteriores e praticamente seu laboratório para novas ideias, mas sempre em torno de levar o Rock n Roll, que naquela altura estava em baixa no Brasil, para o público, independente se fosse com covers sempre lindamente executados de bandas gigantes de Hard Rock (como Guns n’ Roses, Aerosmith e AC/DC) ou com suas primeiras músicas autorais sob esta nova banda. A Kiara passou a aparecer constantemente na cena paulistana e aos poucos ia colocando seu nome em diversas casas do estado de São Paulo.

Após um início agitado na cena estadual, a banda deu as caras na televisão pela primeira vez nos anos seguintes. Foi no programa Astros, nas edições de 2008 e 2009, que o grupo ganhou reconhecimento nacional, mesmo batendo na trave de ganhar os programas. A Kiara obteve boas avaliações e seu desempenho permitiu que sua atitude em palco fosse conhecida no país e ganhasse fãs em todo país, nascendo fã-clubes de norte a sul do Brasil.

Em 2010, a banda deu seu passo definitivo no caminho de se tornar um grupo de referência no novo movimento de Rock n Roll do país. Trazendo influências das bandas clássicas e também se adequando as sonoridades contemporâneas, a Kiara Rocks lançou seu disco self-titled, que depois veio a ser chamado de “Últimos Dias”, mesmo nome da faixa de abertura e que se tornou um dos hinos da banda e também uma das grandes músicas da cena nacional. Além dela, “Todos os Meus Passos” e “Invisível (L.C.E.)” ganharam grande destaque popular. O disco foi produzido inteiramente por Kadu Pelegrini, e contou com a formação original da Kiara no estúdio para a gravação, tendo ele nos vocais e guitarra, Anselmo Fávaro na guitarra solo, Juninho Caetano no baixo, Greg Weber na bateria e Markão na percussão. Além destes, houve participação especial de Marcello Pompeu e Heros Trench da gigante Korzus, na faixa “Nada a Perder”.
Matt Sorum, Kadu Pelegrini e Tracii Guns. Os ex-Guns n’ Roses foram fundamentais no álbum de 2012.

O disco foi base para a trajetória seguinte da banda, que passou a arrebanhar novos fãs e estender seus contatos, principalmente por começarem a tocar com mais frequência fora do estado, principalmente no Paraná, onde a Kiara construiu uma base sólida de admiradores e confiança das casas de show do estado, principalmente da capital, já que os shows eram repletos de covers complementando ao repertório autoral do grupo, o que agradava o público das casas por onde a Kiara passava. E um seleto grupo de pessoas foi especialmente agraciado nas andanças de Kadu e seus companheiros de banda: Matt Sorum, Tracii Guns e Sebastian Bach se tornaram próximos da Kiara Rocks e isso viabilizou uma parceria inesperada e que criou grandes expectativas para os próximos passos da banda.
Após realizar um show com a banda em 2011, Matt Sorum foi o que mais se aproximou de Kadu, e juntos trabalharam na produção de um álbum mais fincado no Hard Rock: “Todos Os Meus Passos”, que contou com releituras de três faixas do disco anterior e faixas inéditas, incluindo um cover de “Careless Whispers”, de George Michael, contando com participação de Sebastian Bach. Já Tracii Guns esteve presente na regravação da faixa-título e em outras duas. Além destas,  a single “Marcas e Cicatrizes” teve grande visibilidade, ainda mais em vigor do video-clipe produzido para promoção desta e do álbum, que foi lançado em outubro de 2012 e abriu ainda mais portas para a banda. E quando digo portas, na verdade quero dizer um portão.

Pouco menos de cinco meses após o lançamento do segundo disco, a notícia que colocou a Kiara Rocks num novo patamar foi dada: a banda estava confirmada para o Palco Mundo do Rock in Rio, para tocar no mesmo stage que Slayer, Avenged Sevenfold e Iron Maiden, que encerrariam a edição 2013 do maior festival de música do planeta. A essa altura, a Kiara Rocks já era uma banda respeitada por seu repertório autoral e tinha sua atitude em palco já definida e marcada. Além disso, a banda contou com uma reformulação de formação, e passou a contar com três guitarras em palco. Além de Kadu e Anselmo, Phil Bonaño passou a integrar a banda, além do baterista Marcos Grevy. O quinteto seria o responsável pelo disco seguinte: “Daqui Por Diante”.

Para acompanhar o ritmo que seria imposto no Dia do Metal do Rock in Rio, a banda resolveu se reinventar e fez isso com sucesso. Tomou um direcionamento voltado para o Metal contemporâneo, apostando em afinações dropadas e distorções mais agressivas, o que obviamente seria recheado de riffs mais pesados e andamentos mais groovados e intensos. O terceiro álbum foi produzido pelo próprio Kadu Pelegrini e seguiu a ideia do álbum anterior: algumas releituras de músicas antigas e alguns covers para somar com as novas autorais, das quais se destacaram “Sinais Vitais” (que foi lançada no dia seguinte ao anúncio do Rock in Rio, como single), “In Coma” e “Alice”, além das regravações de “Nada Vai Adiantar”, “Com Ódio e Gasolina” e “Últimos Dias”, que tomaram um boost e ficaram ainda melhores. A banda voltou a contar com participações especiais, como Dinho Ouro-Preto e Rafael Bittencourt, na faixa “Mr. Scarecrow”, de Herbert Vianna. O disco foi lançado em julho de 2013 e seria, até agora, o último lançamento da banda.

85 mil pessoas à frente da Kiara Rocks no Palco Mundo do Rock in Rio de 2013. O ápice da banda.
(Foto por Guilherme Fernandez)

Todo o ano de 2013 foi planejado em torno do Rock in Rio. Os shows incluíam as novas músicas, a nova pegada voltada pro Metal (como a inclusão de “Toxicity” do SOAD e “Ace of Spades” do Motohead no repertório) e as versões mais pesadas das músicas antigas. No palco, a banda estava em seu auge e os shows mostravam o melhor desempenho dos músicos, principalmente com a grande fase vocal de Kadu Pelegrini, inserindo exibições soberbas de seu alcance vocal nas execuções de “Últimos Dias”, sempre responsável por encerrar as apresentações.
Bastidores de um dia inesquecível para a Kiara Rocks, quando Marcão e Paul Di’Anno fizeram parte do grupo.

E então, o ápice da história da Kiara Rocks chega. A banda chegou no dia 22 de setembro com uma legião de fãs entusiasmados espalhados pelo país, a grande maioria conferiu a distância a performance que 85 mil pessoas presenciaram pessoalmente na Cidade do Rock. Tocando onze músicas na abertura do Palco Mundo, a Kiara não esteve sozinha lá em cima e contou com a participação do lendário Paul Di’Anno e do ex-guitarrista do Charlie Brown Jr. Marcão, que juntos a banda tocaram “Highway to Hell”, “Blitzkrieg Bop” e “Wratchild”. O excesso de covers (além de “Ace of Spades”) foi alvo de críticas por parte da “mídia especializada”, mas poucos entendem a premissa básica de um show: entreter. A banda, mesmo tendo ganho reconhecimento nos ultimos anos, ainda não era unanimidade, e soube apresentar um repertório com músicas populares (que funcionaram absurdamente com o enorme público presente) e suas próprias composições (que foram bem digeridas e receberam ovação dos presentes). A Kiara Rocks esteve por aproximadamente uma hora no paraíso do Heavy Metal e soube sim aproveitar sua estadia por lá.


Marcelo Pompeu, ao lado de Kadu Pelegrini, em show comemorativo de 2017. Nome importante na criação da Kiara Rocks


Os frutos provenientes do Rock in Rio eram óbvios: shows e mais shows e agendas cheias por um longo tempo. A banda viajou por Sul e Sudeste do país com uma data atrás da outra, até que chegou 2015 e um ponto final foi colocado de forma inesperada na história da banda. Após algumas trocas de formação em vigor das saídas de três membros daquela line up ao longo do final de 2014, a Kiara Rocks anunciou seu término, trazendo tristeza a todos seus fãs. 


No entanto, este não foi o fim da história, mas era o início de um período turvo. Kadu Pelegrini trouxe a Kiara de volta a vida em maio, com Greg Weber novamente na bateria, Bruno Carmo na guitarra e Raul Barroso no contra-baixo. Essa formação fez algumas apresentações no segundo semestre daquele ano e em 2016 começou a colocar em prática o que viria a ser o novo álbum da banda, mas apesar de terem ensaiado algumas composições e ido a estúdio, a gravação não vingou naquele ano, assim como a formação, que foi remodelada em março de 2017, com Kiko Shred na guitarra e Junior Van Loon na bateria. Essa foi a formação que fez os shows de comemoração de 10 anos da Kiara Rocks, contando com casas cheias e exibições das novas canções (que ficou apenas para os presentes nestes shows). A banda demonstrou retomar o estilo direcionado ao Hard Rock nessas apresentações, o que criou expectativas de que o novo disco seria novamente inclinado mais ao que a banda apresentou nos primeiros discos e, consequentemente, mais distante da faceta Metal apresentada em “Daqui Por Diante”.


No final de 2017, através de uma live no Facebook da banda, Kadu anunciou que, mesmo com um ritmo mais moderado de shows, a banda não iria parar, mas que as composições para o novo álbum estavam pausadas por não conseguir firmar a formação ideal para banda. Nesta mesma, confirmou o desligamento de Kiko Shred da banda por incompatibilidade de agenda.


Alexi Souza, Hicaro Danelle, Kadu Pelegrini e Raul Barroso: A versão 2018 da Kiara Rocks.

A banda entrou em hiato até outubro de 2018, quando retomou as atividades com Hicaro Danielle na guitarra e Alexi Souza na bateria, além de Raul Barroso que continuou no baixo da Kiara Rocks. Essa formação esteve no palco pelo ultimo show do grupo, em Itápolis, no dia 13, e é a mesma até o dado momento. E então entramos no tempo atual e vem a grande pergunta: por onde toca a Kiara Rocks?

Atualmente, a notícia que temos diretamente deles é que a Kiara Rocks se encontra ensaiando e trabalhando sim em um novo material, sendo inclusive esse o principal foco da banda para poder retomar a rotina de shows. A banda tem tido maior atividade em seu perfil no Instagram, e por lá deu pistas de que havemos atividade na rotina da banda. Ainda em 2017, já haviam muitas composições a serem trabalhadas e só faltava encontrar os músicos ideais para grava-las. Por hora, não há nenhuma data marcada ou prevista, então a tendência é que as coisas andem no seu tempo e que sim, na hora certa teremos notícias sobre a banda que “já voltou dos mortos mais de uma vez”.

Kiara Rocks em sua última aparição em palco, em outubro de 2018.
Todas as fotos provenientes do Facebook oficial da banda.
Onde há espaço para escrever, tenha certeza que irei deixar minhas palavras. Foi assim que me tornei letrista, escritor e roteirista, ainda transformando minha paixão por música em uma atividade para a vida. Nos palcos, sou baixista da Dark New Farm, e fora deles, redator graduado em Publicidade e Propaganda para o que surgir pela frente.