A capa é o semblante da personagem principal encarando o próximo leitor a quem suas palavras contarão a história da transição de gênero mais comentada no meio punk: “Tranny – Confissões da Anarquista Mais Infame e Vendida do Punk Rock” é a autobiografia de Laura Jane Grace, vocalista da banda de punk rock Against Me!, que foi lançada no mês passado pela Powerline, responsável pela tradução e distribuição do livro no Brasil.
Quem vê Laura Jane Grace hoje, cuja leveza e educação parecem fazê-la flutuar e brilhar naturalmente entre outras pessoas, não imagina como Tom Gabel poderia ser, na melhor das definições, um completo “embuste”: segundo o livro, ele era um junkie insuportável, egocêntrico e problemático, que nem os colegas de banda conseguiam conviver.
Tranny delineia como Laura desvendou o melhor caminho para vencer com a sua banda, não arrumar mais problemas com a polícia, quitar suas dívidas e aceitar sua disforia de gênero, com relatos íntimos sobre sua infância, relação com a sua família (cujo pai era militar), descoberta do punk rock, formação da banda e a experiência de turnês, contratos com gravadoras grandes, casamento e nascimento de sua filha.
É um livro que não se lê, mas devora-se. Seus relatos tão fortes quanto um soco no estômago são extremamente diretos e crus, cujas palavras parecem ter sido escolhidas a dedo de acordo com a intensidade da personalidade da própria protagonista, com trechos de diários e fotos de arquivos pessoais.