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Resenha: Roses from the Deep – Marko Hietala (2025)

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19/03/2025

Lançado em 7 de fevereiro de 2025 pela Nuclear Blast, Roses from the Deep é o segundo álbum solo do renomado músico finlandês Marko Hietala, conhecido por seu trabalho com as bandas Nightwish e Tarot. Neste trabalho, o músico transita principalmente entre uma mistura de Hard Rock com alguns elementos de Folk e Blues dos anos 70 e 80, com uma bela distribuição entre músicas rítmicas e energéticas e poderosas baladas carregadas de emoção. Comparado ao seu trabalho anterior, Pyre of the Black Heart (2020), este novo projeto apresenta uma abordagem mais leve, que não reflete o árduo e vulnerável momento em que o músico se encontrou enquanto lutava por sua saúde mental contra a ansiedade e a depressão presentes no último álbum, mas certamente ainda carrega profundos conteúdos a serem expostos através de seu lirismo e ritmo.

Mas, sem dúvidas, será pego desprevenido aquele que ouvir o repertório do músico esperando um contato com uma veia mais “Heavy Metal” ou até mesmo mais melódica, característica de seus trabalhos de maior sucesso até aqui. Algo já mostrado em Pyre of the Black Heart, mas que passa a se consolidar, reforçando a versatilidade do músico e sua vontade de explorar a si mesmo e seus gostos através daquilo que compõe.

Roses from the Deep contou com produção por Tuomas Wäinölä, que também contribui com as guitarras e que não é nenhum estranho para o público brasileiro, tendo servido como dupla para Hietala em sua turnê em conjunto com Tarja Turunen, que teve passagem pelo Brasil em 2024. As baterias ficam a cargo de Anssi Nykänen, e os baixos e o vocal principal, por conta do próprio Marko.

O álbum foi gravado priorizando uma sonoridade orgânica e autêntica, mas sem medo de experimentar, como é o caso do uso de sintetizadores analógicos e vocoders, com uma mixagem equilibrada, habilmente amarrando todos os instrumentos e destacando os vocais potentes de Hietala – ora agressivos, ora suaves – sem ofuscar os arranjos instrumentais.

Isso já fica bem claro logo no início, com uma das faixas mais energéticas, Frankenstein’s Wife, um título com aquele ritmo e refrão marcante que ficam na cabeça e que explora esses elementos eletrônicos que dão um ar oitentista, ao mesmo tempo aguçando a curiosidade sobre o que se pode esperar do restante do álbum.

Na sequência, temos talvez o grande trunfo do álbum, que liga nostalgia e futuro através de um dueto entre Marko e Tarja em Left on Mars, uma poderosa música com destaque para os vocais de ambos, com direito a coro e uma letra intrigante que desperta a curiosidade dos amantes de sci-fi. Proud Whore, terceira faixa do álbum, já leva o ouvinte para outro lugar, com talvez a sonoridade mais agressiva do disco, refletindo bem o título provocativo da música, que não deve ser levado ao pé da letra, mas sim em um sentido figurado.

Two Soldiers chega então para recarregar as energias como uma forte balada, destoando levemente do ritmo presente até então, mas que evidencia o quão bem se harmonizam as vozes de Marko e do segundo convidado do álbum, JP Leppäluoto, ao som do violão, conferindo dramaticidade e peso à história sobre a guerra e a perspectiva dos soldados que se agarram à esperança.

A quinta e mais longa música do álbum, The Dragon Must Die, também se destaca como a composição com as estruturas e elementos mais complexos, flertando do Progressivo ao Power Metal e transmitindo a sensação de uma narrativa épica, como se estivesse sendo contada em uma taverna, expressa nos timbres vocais e nas mudanças de ritmo ao longo da música.

The Devil You Know vem na sequência com uma pegada mais folk/blues, muito ritmo e a voz marcante de Marko, em um refrão extremamente cativante, com uma letra simples, porém poderosa, sobre a responsabilidade diante das escolhas humanas.

Em Rebel of the North, outra música lançada previamente como single, retornamos a um ritmo mais Rock’N’Roll, com um dos destaques logo em seu início, onde ouvimos diferentes variações vocais de Hietala, surpreendendo pela diversidade de formas com as quais ele pode interpretar uma música. A mensagem fica a cargo do rebelde que existe em nós e que, por consequência, traz consigo um movimento impulsivo pela vida e pelo novo, buscando a reinvenção.

Impatient Zero, outro título lançado como single, apresenta-se como uma música profunda e rítmica, trazendo letras introspectivas que remetem a um processo mais íntimo, como o vivenciado por Marko em sua luta contra seus próprios demônios, o olhar para si e a impaciência e indiferença daqueles próximos. Ainda que lidando com temáticas pessoais e sensíveis, a música traz um ritmo energético, com ótimas linhas de guitarra, que acabam sendo o carro-chefe da faixa.

Tammikuu talvez seja o título que mais se diferencia no álbum, e não por uma questão rítmica, mas pelo idioma. Única música cantada em finlandês, ela também aborda questões de luta e relação com problemas de saúde mental, com momentos da música que chegam a ser até incômodos, através das linhas de guitarra e baixo, que despertam esse sentimento, seguido de rompantes que remetem a um processo de superação e ressignificação dessas questões.

E, fechando com um grande toque de melancolia, temos a segunda balada do álbum, que carrega seu nome, Roses from the Deep, trazendo em suas letras a perspectiva de quem sofre com uma doença mental: se, por um lado, existe uma percepção do sentido das coisas, o que se vê materializado é um cinza, mas ainda assim há um sentimento de possibilidade e esperança, seja em relação a outra pessoa ou a si mesmo. Os arranjos impactantes e dramáticos conferem à música toda a força de sua mensagem.

O álbum ainda conta com uma 12ª faixa, sendo ela uma versão editada de Impatient Zero, mas que é totalmente dispensável em relação à produção mais elaborada de sua versão completa. De um modo geral, Roses from the Deep continua a consolidar a carreira solo do músico de uma forma criativa, na construção de músicas que transitam por diversos ritmos e energias, mas que, ainda assim, lidam com sentimentos complexos e fazem referência direta às lutas que ele enfrentou, amarradas pela cativante e poderosa voz deste músico que há muitos anos cativa a tantos.

Tivemos a oportunidade de participar de uma coletiva de imprensa com o próprio Marko Hietala como parte da promoção de seu novo álbum, onde você pode conferir algumas das perguntas feitas ao músico sobre sua carreira, processo criativo e álbum, clicando aqui.

O músico retorna ao Brasil em maio deste ano junto a Tarja Turunen para mais quatro apresentações, seguindo o mesmo formato do último ano, em que tivemos a abertura por conta de Marko, que provavelmente trará seu material mais novo, e posteriormente participará junto a Tarja na performance de músicas do Nightwish e de sua própria Left on Mars. Para mais informações sobre os shows, confira o serviço abaixo.