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Conferência de Imprensa: Marko Hietala

Ao ouvir o nome Marko Hietala, quase que instantaneamente somos transportados a uma era do Nightwish, marcada por clipes na MTV e um sucesso mundial que ecoa até os dias de hoje. Atuando como baixista e vocalista na banda, o músico dedicou 19 longos anos de estrada até sua saída em 2021, motivada principalmente por problemas de saúde mental em uma batalha contra a depressão e a ansiedade.

Mas esse certamente é apenas um recorte de um prolífico músico que, ao longo de sua trajetória, encabeçou e participou de diversos projetos, como: Tarot (fundado em 1984 com seu irmão), Northern Kings (contando com outros grandes nomes, como Tony Kakko, do Sonata Arctica) e Sinergy (onde participou do primeiro álbum, Beware the Heavens). Nos últimos anos, ele iniciou sua carreira solo, além de participar de shows de Tarja Turunen, reavivando a boa e velha nostalgia em nossos corações.

Ainda que o saudosismo exista, o momento presente continua sendo plenamente construído. Recentemente, Marko se preparou para o lançamento de seu segundo álbum de estúdio solo, Roses from the Deep, que estreou neste mês de fevereiro, no dia 7, contando com quatro singles lançados, sendo um deles Left on Mars, música que traz a participação de Tarja.

Em preparação para o lançamento, somado a uma agenda cheia de shows ao redor do mundo ao lado de Tarja — que tem passagem marcada pelo Brasil em maio, com quatro apresentações, incluindo uma em São Paulo, acompanhada de uma orquestra sinfônica (Phantom of the Opera, que se prepare!) — participamos de uma coletiva de imprensa virtual com o músico, mediada pela Nuclear Blast e a Shinigami Records, onde cada correspondente pôde realizar duas perguntas ao artista.

Dentre todas, separamos algumas que julgamos as mais interessantes, entre as feitas por outros correspondentes (incluindo as nossas), que giram em torno de seu momento atual, expectativas para a turnê e algumas curiosidades sobre o espirituoso finlandês descalço, que há muitos anos move milhares de fãs pelo Brasil para acompanhar sua trajetória.

COLETIVA DE IMPRENSA

De onde veio a ideia de fazer um álbum solo em vez de algo com o Tarot, por exemplo?

Marko: A ideia do álbum solo surgiu de forma natural. Enquanto trabalhava em Pyre on the Black Heart, eu já tinha reunido um grupo de músicos com quem adorava trabalhar, e isso acabou se tornando quase como uma banda. Estávamos em turnê e fazendo música juntos, então o projeto já estava em andamento.

Ao mesmo tempo, eu estava saindo de um longo período de depressão e ansiedade. Conforme fui melhorando—dormindo bem, escrevendo letras e compondo música—o pessoal da banda me procurou dizendo: “A pandemia acabou, os festivais voltaram. Vamos começar a fazer música?” Mas, naquele momento, eu já tinha começado a trabalhar em novo material. Não foi exatamente uma decisão planejada de fazer um álbum solo—simplesmente aconteceu porque as músicas já estavam surgindo e eu tinha as pessoas certas para dar vida a elas.

Quanto ao Tarot, tivemos alguns ótimos shows de retorno em festivais recentemente, e no próximo verão vamos revisitar algumas músicas antigas para ver o que temos guardado nos nossos discos rígidos. Se nos sentirmos inspirados, podemos até fazer algo em estúdio, mas, por enquanto, isso ainda é incerto.

Um dos principais motivos para seguir com o trabalho solo foi a liberdade musical. Meu projeto solo não é tão rigidamente Metal quanto o Tarot—ele mistura Rock Clássico, Metal Moderno, elementos Progressivos e até influências Folk. Parecia o momento certo para esse tipo de projeto, e tudo aconteceu de forma muito natural.


Uma das faixas mais fortes do álbum é a “Impatient Zero”. Quais foram suas inspirações específicas para essa música?

Marko: Especificamente, acho que essa música foi minha tentativa de colocar em palavras a escuridão pela qual passei. Também reflete experiências com alguns amigos que não tiveram energia, tempo ou nem mesmo vontade de entender o que eu estava vivendo. Alguns simplesmente assumiram que eu tinha enlouquecido—seja achando que eu estava maluco, drogado ou algo assim.

Algumas dessas experiências foram realmente difíceis e, sem dúvida, influenciaram minha decisão de me afastar de tudo por um tempo.

Não sei se essa música é sobre “exorcizar meus demônios”, como as pessoas costumam dizer sobre canções assim. É mais como se eu tivesse colocado tudo no papel—talvez tanto para mim mesmo—para olhar para essa fase da minha vida de uma forma mais compacta e deixá-la ir. A letra termina em um tom de arrependimento, mas, claro, todos carregamos alguns arrependimentos conosco para o futuro.


O Subsolo: O novo álbum, assim como o anterior, tem um foco muito maior no rock e hard rock—seguindo um estilo mais hard e heavy do que o que você costumava fazer com o Tarot, Nightwish ou outros projetos. Como surgiu a ideia de fazer algo mais voltado para os anos 80 ou nesse estilo?

Marko: Sim, em alguns momentos, acho que ele é até mais anos 70. Mas com Frankenstein’s Wife, definitivamente tem essa pegada dos anos 80—e foi algo intencional.

Foi meio que a mesma coisa de sempre: tentamos fazer algo nessa linha, mas nunca de forma forçada. Acabamos naturalmente combinando aquele som clássico e poderoso do Hard Rock e do Rock de estádio com elementos progressivos e de Metal. Dá para perceber bem esse lado em Impatient Zero e Dragon Must Die, que tem alguns riffs bem metálicos em certos trechos.

Então, sim, isso simplesmente acontece de forma natural, principalmente com os músicos envolvidos. Eles conhecem muito bem a música e a história por trás dela, então esse foi o resultado que criamos.

E você tem razão—Tarot é puramente Heavy Metal, sem dúvidas. Se nos reunirmos no próximo verão para trabalhar em novas músicas, tenho certeza de que será nessa linha. Mas com esse projeto solo—bom, os caras sugeriram que usássemos apenas meu nome, porque as pessoas já o reconhecem mais do que algum nome de banda obscuro (mesmo que eu tivesse algumas ótimas ideias, haha).

Com essa banda, temos a liberdade de explorar um espectro muito mais amplo de influências, incorporando todos os diferentes estilos musicais que me marcaram ao longo dos anos.


O Subsolo: Suas letras e inspirações parecem explorar temas profundos e introspectivos. Quais são as principais mensagens ou sentimentos que você espera que os ouvintes levem do álbum?

Marko: Acho que o principal objetivo da minha música é criar uma história, um clima e uma atmosfera que envolvam o ouvinte. Quero que ela te leve para algum lugar—um lugar onde você possa esquecer, nem que seja por um momento, o que está passando, especialmente se estiver enfrentando momentos difíceis.

E se você estiver em um momento bom—talvez em uma festa ou apenas se divertindo—então as músicas mais energéticas e voltadas para o Rock também estão ali para isso. A ideia é proporcionar essa sensação de escape, assim como eu sempre encontrei na música em seus melhores momentos.

O mundo cotidiano e suas duras realidades estão sempre ao nosso redor, mas a música—e, na verdade, qualquer forma de arte—tem o poder de nos afastar disso por um tempo. Quando algo realmente te captura, seja pelo som ou pelas imagens, ele te dá um respiro da vida diária. E se eu conseguir alcançar isso com minha música, então acho que ela pode ser terapêutica—não apenas para mim, como músico e cantor, mas também para quem a ouve.


O Subsolo: Quais foram os momentos mais marcantes na criação deste álbum, desde o início até agora? Os melhores e mais divertidos momentos do processo?

Marko: Um dos melhores momentos foi provavelmente quando já estávamos a caminho da Suíça para um festival. Eu já tinha combinado com a Tarja de cantar Phantom of the Opera novamente depois de 18 anos, e falamos sobre fazer um dueto. Eu mencionei que estava trabalhando em um álbum e perguntei se deveria levar um demo.

Ao mesmo tempo, estávamos gravando a versão demo de Left on Mars, e eu estava fazendo todas as partes vocais. Cheguei até a comprar uma voz genérica de IA por €7 ou €13—algo assim—para preencher as linhas harmônicas que tínhamos a ideia para a Tarja cantar. Foi um momento muito divertido e empolgante, que levou ao festival onde tocamos juntos e também trouxe a música para a Tarja.

Eu diria que esse foi um dos melhores momentos do verão—trabalhando nos demos e tendo uma visão real do que o álbum se tornaria. No final do verão, em agosto, já estávamos no estúdio gravando tudo.

O Subsolo: Parece que teve um efeito bola de neve—uma coisa levando à outra, e assim por diante. 

Marko: E isso acontece bastante. Eu sou um grande fã de ciência, então sei que muitas vezes acreditamos que tomamos decisões conscientemente—como decidir ir ao mercado ou fazer certas coisas. Mas, na realidade, a maioria das nossas decisões é influenciada por coisas que já aconteceram ou estão acontecendo ao nosso redor, moldando nossas ações.

Essa ilusão de controle? No melhor dos casos, é de uns 40%. Na maior parte do tempo, é ainda menos—nós apenas reagimos à vida conforme ela acontece.

Ah, e Illusion of Control—isso daria um ótimo título para uma música de metal. 

O Subsolo: Anota isso agora! Hahaha.

Marko: Eu vou me lembrar, haha. 

O Subsolo: A capa do álbum traz muitos elementos que apresentam uma dualidade visual, transmitindo múltiplas emoções e sentimentos.

Durante essa jornada, você precisou confrontar—ou como foi confrontar—algumas emoções desafiadoras e complexas, para que as rosas pudessem surgir do profundo, por assim dizer?

Marko: Sim, há definitivamente coisas bem pessoais ali. Como escritor, às vezes você para e se pergunta: Será que estou dizendo demais? Mas eu também conheço o outro lado da moeda—o medo é o inimigo de todas as grandes emoções, grandes decisões e da grande arte.

Se começo a sentir que posso estar me expondo demais, tento olhar de outra forma. Pergunto a mim mesmo: E se alguém mais tivesse escrito isso? Como eu me sentiria lendo? Uso muito essa abordagem para ver se meus pensamentos—às vezes vindos de um fluxo vago de consciência—realmente carregam um significado e uma emoção genuína. E, na maioria das vezes, eles carregam.

Então não, eu não vou me deixar intimidar ao ponto de ficar em silêncio. Isso seria pura besteira.

No fim das contas, acredito que esse medo de expressar o que sentimos está por trás da maioria dos problemas que temos em qualquer tipo de relacionamento. Se não temos coragem de dizer o que realmente pensamos para as pessoas ao nosso redor, talvez estejamos no lugar errado ou não estejamos sendo verdadeiros conosco mesmos.

Para mim, é essencial ter coragem para ser completamente autêntico. Esse é o meu código, é assim que eu vivo. Então, sim, se há emoção profunda na minha música e isso faz alguém me achar “sensível”—que seja.


*Vale destacar alguns momentos da coletiva, como a participação de Nora Louhimo, do Battle Beast, em algumas das primeiras datas da turnê para o dueto em Left on Mars. Além disso, o evento marcou o ano de celebração dos 40 anos de carreira do músico, que foi pego de surpresa por essa constatação.

Durante toda sua participação, Marko se mostrou engajado e atento, dando um verdadeiro show de carisma e arrancando diversas risadas ao longo da noite.