A resenha de hoje é em parceria com o Som do Darma, uma das minhas fontes de descobertas de novas bandas do nosso vasto e prolífico cenário underground.
E a banda que trago hoje entra para essa seara das novas descobertas. Formado em 2008 na cidade de São Carlos, São Paulo, o ASKE é um duo integrado por Felipe Salvini (baixo e voz) e Lucas Duarte (guitarra). O primeiro registro do grupo veio em 2017 com a chegada do EP Broken Vows. Já o primeiro trabalho completo, Once veio à tona em agosto de 2015.
Mas o trabalho que este texto se dedica, assim como inúmeros outros, é um dos famigerados filhos da pandemia. Então sem mais delongas, adentremos uma vez mais ao caótico e profano univerno do Black Metal, com Vol.II.
O disco se inicia sem cerimônias, com a cativante e cadenciada Sinner. Pelo menos neste primeiro contato, pude presenciar que o Aske não se limitará aos famigerados Trêmulo Pickings e mixagem abafada características do Black Metal tradicional. A banda não demonstra receio em mesclar sonoridades de outras vertentes, proporcionando momentos de melodia e peso, no melhor estilo Blackened Death Metal.
E este argumento ainda se mostra válido em No Soul to Sell, que flerta dessa vez com passagens mais rápidas, trazendo nuances do Thrash Metal, com elementos mais épicos.
Mas calma, jovem discípulo capirotiano, os trêmulos também se fazem presentes com a chegada de Music Knows No Allegiance, porém, com a abordagem mais moderna que a banda proporciona.
Represente Satanás traz um quê do bom e velho Venom, porém, com a pegada tupiniquim e a letra em português. É com certeza uma daquelas músicas que de imediato vão fazer o ouvinte começar a balançar o pescoço de forma involuntária com este ótimo espécime do Black N’ Roll.
The Origin of Satan sem sombra de dúvidas é um dos pontos altos do disco. Ela se inicia com um belo e solitário lick de guitarra, que desemboca em uma faixa repleta de cadência.
Royalist se inicia com o rufar de tambores, como se estivessem presentes para uma batalha prestes a se iniciar. Já a letra parece oferecer uma visão trôpega sobre a relação entre os que detêm o poder e os que sofrem perante a eles.
A breve e lamuriosa guitarra de A Bruxa e o Cardeal logo se torna em uma rápida e furiosa traulitada. Aqui temos uma belíssima composição em termos líricos, um verdadeiro poema, provavelmente sob a visão de um clérigo na inquisição francesa se regozijando em júbilo vendo uma ‘bruxa’ queimar na fogueira.
Não sei ao certo se a letra é um texto original ou uma musicalização de um poema já existente. Mas se a primeira opção for a verdadeira, então curvo-me ao talento de Salvini, pois se trata de uma das melhores letras que já vi na vida!
Eva (Tears of Sodom) possui um título pertinente, uma vez que os riffs aqui presentes e até mesmo a levada vocal me remeteram diretamente ao excelente M-16 dos alemães do Sodom. Dúvida? Ouça a faixa-título do trabalho de 2001 e me diga se estou viajando.
The Woodcutter é outra rajada sonora, regada com momentos épicos, onde mais uma vez os trêmulos lamuriam de forma belíssima.
E fechando o disco com a brilhante Pazuzu (Lost in a Valley of Rot), o Aske dá a cartada final, trazendo ainda mais epicidade, mesclada ao peso blasfemo e demonstrando mais do que nunca a versatilidade sonora do grupo.