Guilherme Caiaffa é um paulista 28 anos de idade que desde seus cinco anos de idade toca bateria. Suas influências musicais passam por Queens of The Stone Age, Foo Fighters, Alice in Chais até Clutch, já seus bateristas que se espelha tem nomes como John Bonham, Mitch Mitchell, Jean Paul Gaster, Joey Castillo e Gene Krupa.
Quando o assunto é superação, Guilherme tira de letra. Diagnosticado com a Síndrome de Apert, nada o impediu de viver o sonho de ser músico. Gui Caiaffa topou bater um papo com exclusividade para O SubSolo resgatando uma coluna importantíssima, a Superações do Underground. Confira essa conversa e conheça um pouco da história deste grande guerreiro:
Como nasceu a tua paixão pela música e mais precisamente o Rock/Metal?
G. Caiaffa: Eu não venho de uma família de músicos, mas desde pequeno meus pais me colocavam para ou assistir um show pela televisão, ou ouvir um disco. Um dos primeiros discos que eu ouvi, foi uma coletânea que tinha Killing Joke, The Cure, David Bowie, entre outros artistas de rock alternativo. Lembro que foi a primeira vez que eu ouvi um som mais pesado e naquele instante eu pirei com aquelas músicas. Mas foi só quando eu tinha uns 14, 15 anos, que descobri mais coisas como Led Zeppelin, Black Sabbath, Foo Fighters, e cada vez mais o rock foi entrando na minha veia, hehe.
Com que idade você passou a entender que sua síndrome te limitava a algo e como superou isso?
G. Caiaffa: A síndrome nunca foi um fator limitante no meu aprendizado. Entre muitos casos de pessoas com a minha síndrome, o meu foi um dos mais leves, tanto que só tive que fazer cirurgias nas mãos. A maioria das crianças quando nascem, além das mãos, também fazem cirurgia no crânio para abrir espaço para o cérebro crescer. Em alguns casos, isso acarreta algum tipo de déficit cognitivo. Como comecei a tocar muito novo, Usei baquetas mais leves que coubessem na minha mão (Modelos 7A ou 5A). Hoje em dia minha mão ainda é pequena, porém maior do que antes e hoje em dia já toco com uma 5B. Em termos de aprendizado, só tive dificuldades com alguns rudimentos e técnicas como todo mundo tem. Mas fazendo os rudimentos lentos e adequando minha postura da melhor forma na bateria, consegui atingir todos os níveis técnicos e a melhor postura para mim atrás do kit.
Acho os seus vídeos fantásticos e inspiradores, como surgiu a ideia de faze-los e como você escolhe as músicas a serem tocadas?
G. Caiaffa: Tinha recém trancado minha faculdade de música e estava meio solto sem saber o que fazer com relação a profissão. Como eu não tinha quase nenhum vídeo meu tocando para poder mostrar para alguma banda ou artista, resolvi criar o canal do Youtube para servir só como uma espécie de portfólio. Porém, amadurecendo a ideia de que eu poderia falar da minha síndrome e juntar a questão da inclusão social no meu canal, hoje eu misturo os covers que faço com assuntos relacionados a música e entrevistas com músicos com ou sem algum tipo de Síndrome/Limitação. Desde o começo minha idéia foi escolher as músicas de modo que eu pudesse mostrar minha versatilidade tocando. Por mais que eu transite mais pelo Rock/Metal, procuro sempre estar escutando e tocando outros estilos também e ter cada vez mais diversos tipos de influências para o meu estilo de tocar.
Você sempre estudou bateria? Poderia falar um pouco da importância de nunca parar de estudar?
G. Caiaffa: Comecei a fazer aulas de musicalização aos 5 anos. Porém, fui estudar mais seriamente só quando eu tinha meus 15 anos que foi quando eu comecei a me dar conta de que era com música que eu gostaria de seguir carreira. A partir dai, fui me desafiando cada vez mais a fazer técnicas e tocar músicas cada vez mais complicadas. Ao longo dos meus estudos, sempre me deparo com algum rudimento ou frase que, no primeiro momento, me fazem deixar o estudo para depois e fazer algo mais fácil. Mas é nesse momento, que insisto em sair da minha zona de conforto e atingir a meta que eu quero.
Já sofreu algum tipo de preconceito ou passou por alguma situação inusitada?
G. Caiaffa: Essa é uma questão interessante. Quando pequeno, era cercado de olhares curiosos de crianças na escola querendo saber da minha diferença. Mas era só uma questão de tempo, ou de eu responder falando sobre o que eu tinha, que elas já se acostumavam comigo e me olhavam de outra forma. Nunca sofri nenhuma espécie de bullying de terceiros. Na fase da adolescência que a gente começa a ter mais noção de nós mesmo, passei por uma fase de eu mesmo não me aceitar e querer mudar algo fisicamente para esconder minhas características físicas. A partir do momento que a gente consegue enxergar o que a gente tem de melhor em nós mesmo, todos esses auto-preconceitos somem.
Você já tocou em alguma banda independente/autoral? Se não, tem interesse e pensa sobre isso?
G. Caiaffa: Sim. Aos 18 anos me profissionalizei e comecei a trabalhar com música. Na época, morava em Florianópolis com minha família e tocava em uma banda de hardcore que começou a ganhar espaço na cena musical da cidade. Foi um grande aprendizado para mim tanto com relação a criatividade no meu instrumento para compor, tanto com relação a respeitar a respeitar os outros membros. Um dos meus principais objetivos, é voltar a tocar com bandas ou artistas e poder contribuir nas composições com tudo que aprendi até hoje.
Quais os seus sonhos com a música e o que não sai da sua playlist?
G. Caiaffa: Meu sonho já está sendo realizado, hehe. Poder influenciar, ajudar a outras pessoas a superarem seus medos e preconceitos e mostrar que os “limites” só existem dentro de nós, é muito gratificante. Com relação a playlist, sempre estou buscando e ouvindo coisas novas de diversos gêneros e praticamente não tenho uma música que fique sempre na minha playlist, Ouço desde o Clássico até o Metal.
Qual a importância da inclusão social dentro da música?
G. Caiaffa: Com 23 anos conheci um projeto aqui em São Paulo que chama Alma De Batera. O projeto oferece aulas de bateria para crianças com algum tipo de deficiência (Síndrome de Down, Autismo, Paralisia Cerebra, etc), Tive a oportunidade de trabalhar como voluntário auxiliando o fundador nas aulas, e posso dizer que a gente acaba aprendendo muito mais do que ensinando. Além de bateria, muitas trocas de aprendizado sobre empatia, amor e respeito são passadas. Acho que são os principais pontos que ainda faltam para o ser humano se tornar melhor.
Agradeço ter topado participar desta matéria, Saiba que eu sou um grande admirador do teu trabalho, deixa uma mensagem para nossos leitores.
G. Caiaffa: Eu que agradeço demais o convite e faço das suas as minhas palavras, hehe. Para quem estiver lendo, nunca deixem que nada faça te jogar para baixo. Principalmente durante esse momento que estamos vivendo, é muito comum que muita gente se desanime e acabe entrando num ciclo vicioso. Procurem estar sempre focados no que buscam e mantenham uma rotina para não deixar com que a mente te jogue cada vez mais para baixo. É isso. Valeu!