Acreditem que são capazes de fazer o inimaginável. Acreditem que aquele menino que nasceu rodeado de Sertanejo, música tradicionalista e pagode, pode ser sim um bom amante do Heavy Metal e todos os seus derivados futuramente. O que era para ser uma ovelha negra, se tornou um incentivador da música autoral dos gêneros que tanto amamos e quando ele fazer dois eventos e levar prejuízo, o correto era desistir, mas o destino fez ir um pouco mais além. 




Alex Pizzeti, dono e proprietário do Colher de Chá em Içara/SC. Rodrigo dos Santos, guitarrista e advogado de São Paulo. Maykon Kjellin, baterista  e fundador d’O SubSolo. O que esses três nomes tem em comum? Apenas o amor pelo Rock e Metal e juntos, cada um com suas determinadas funções trouxeram o Angra para a pequena cidade de Içara/SC e o evento, teve sucesso e nada de prejuízos.

Antítese (por Vinicius A.-Saints)


Abrir um festival deste porte e para um público eufórico não é uma tarefa fácil, mas a Antítese não foi escalada para esse posto a toa. Banda da região e com um domínio admirável de palco, o grupo enfileirou clássicos do Hard Rock como é de seu costume, e logo conquistou os olhos e ouvidos dos presentes. A verdade é que o palco ficou pequeno pra banda que conta com seis músicos, mas isso deixou ainda mais concentrada a reação incendiária que é o show da Antítese. Além de puxar hinos de bandas como Queen e até mesmo Iron Maiden, a banda soube aproveitar o espaço que tinha para mostrar o que eles tem de verdade, e inclusive encerraram o show com “Ser Igual”, uma de suas autorais executadas, e foram com elas que veio a maior aprovação do público.

Syn TZ (por Vinicius A.-Saints)


Confesso que se tinha uma banda desse cast que eu estava curioso para conhecer ao vivo era a Syn TZ. A reputação que o grupo vem construindo me fez travar minha atenção no palco no instante que a banda de Balneário Camboriú subiu no palco e logo compreendi a razão desta banda já ter admiradores por todo o estado. O Heavy Metal intenso e autêntico do grupo é explosivo e lhe obriga a bangear cada vez mais conforme o show se desenvolve. O som não é nada inovador, mas ainda assim, conquista, pois apela pra uma visceralidade estonteante nos instrumentos e ao poderio vocal que impressiona desde o primeiro grito, que é absurdamente natural para o vocalista Jay Heart, fazendo parecer fácil performar as músicas da Syn TZ. Foi um show pesado e com um final épico, contando com participação de diversos presentes para entoar os refrões de “Headbanger”, música que conta com todos os requisitos para ser um verdadeiro hino de Heavy Metal.

AlkanzA (por Maykon Kjellin)

Nunca me canso de ver a AlkanzA tocar e foi por isso, que foi uma das bandas que estava no topo dos meus convites para integrar o time que abriria o evento para o Angra. AlkanzA pode não ter nada a ver sonoramente falando com o Angra, mas é a banda de Metal que mais cresce no sul do país e é natural que todos os produtores queiram a banda em seus eventos. Um dos motivos ficou claro no evento, mesmo com problemas no equipamento e na montagem, Renato Lopes (guitarrista) e com um vasto currículo em eventos independentes, conseguiu se sobressair e fazer uma excelente apresentação. Como todas as bandas de abertura, o repertório foi curto e bem escolhido, foi uma paulada atrás da outra e logo se formaram os primeiros mosh’s no meio do público. Além disso, muita gente com a camisa da banda durante o evento, portanto, AlkanzA é uma banda que tem um futuro promissor, basta manter a pegada nos shows e a cabeça no lugar, impossível não ver apresentação da banda sem sangue no olho e veias saltando de tanta raiva misturado a técnica instrumental. Os vocais de Thiago Bonazza evoluem a cada apresentação e isso só tem a ir mais além.

Nekrós (por Maykon Kjellin)

Primeira vez que vi a Nekrós e já esperava muito, por conta de ter na guitarra um dos caras mais exemplares, Robson Brigido. No começo não entendi muito a troca de equipamento que a banda fez, que não estava no script, mas no fim, felizmente deu tudo certo. O pessoal conhecia a banda e foi para a frente do palco e isso criou uma energia entre banda x público, que não tem como descrever. Quando desenhamos o evento, estava estipulado que teríamos no minimo duas bandas “da casa” e essa foi uma banda escolhida pelo Alex Pizzetti como sua parte da sociedade no evento, isso agradou muito o público, o restante dos organizadores e com certeza a mídia especializada. Como os shows tiveram que serem curtos, ficou um gostinho de quero mais e almejo ver uma apresentação completa da banda futuramente.

Dark New Farm (por Rodrigo Santos -guitarrista, Vox Ignea)

A banda Dark New Farm apresentou em seu show um som extremamente pesado e denso, executando composições que tornam difícil rotular de forma imediata o seu estilo musical, que perpassa por diversas vertentes da música pesada, indo do New Metal, até o metal mais tradicional, com pitados de Doom e Death Metal em determinados momentos. A performance da banda chama bastante a atenção pela disposição pouco usual dos integrantes no palco, com o vocalista Luiz Harley Caires do lado direito e o guitarrista Sol Portella ao centro. O timbre de voz do vocalista é bastante agressivo, combinando com a pegada áspera da guitarra e o peso sólido da cozinha, que é fornada por Vini Saints no baixo e Maykon Kjellin na bateria. A densidade do som da Dark New Farm se fez presente ao longo de todo o show e combina bastante com a temática das letras da banda, que, dentre outros temas, tratam de violência contra a mulher e se posicionam contra a homofobia. O show da Dark New Farm foi um pouco mais curto que os demais da noite, mas a banda foi bastante competente em apresentar de forma concisa e contundente o seu material ao público, que, ao final da apresentação, teve uma ótima amostra do que é a banda.


Vox Ignea (por Maykon Kjellin)


A Vox foi parte crucial do evento, principalmente pela figura do Rodrigo Santos, guitarrista e fundador do grupo, não é atoa que carrega em seu braço uma tatuagem com o logo da banda. Sair do seu estado natural para tocar em terras desconhecidas, sempre tem um toque de nervosismo, mas a banda soube aproveitar cada segundo e portanto, fizeram uma apresentação que deixou o público sem ar e ainda mais, energizados positivamente para o Angra. Os caras saíram de São Paulo e deixaram muitos novos fãs e admiradores da banda em terras catarinenses, principalmente pela energia e a presença no palco. Destaco que em uma banda onde não existe duas guitarras, o baixista sempre carrega o fardo de ter um poder defensivo, fazendo toda a cama para o guitarrista solar, ainda mais no Hard Rock. Evandro Gomes é um baixista sensacional, o cara toca com clareza e desfila as mãos pelo baixo como se estivesse acariciando, mas quem ouve na frente das caixas, vê uma paulada nas cordas e isso faz com que a cozinha seja fortemente sólida, junto de André Martins na bateria. Raquel Lopes, é uma vocalista versátil. Bom contato com o público, boa presença de palco e quem vê a baixinha no microfone, se assusta com sua voz e quem dirá quem conhece a história da banda após e sabe que ela é a dona das letras. Vox Ígnea, voltem logo, SC amou vocês!


Angra (por Vinicius A.-Saints)


Eu esperei muito por esse momento, mais do que para meu próprio show, admito. Perdi as contas de quantas vezes tive chances de ver Angra ao vivo e sempre alguma coisa me impedia. E dessa vez, quase que fui impedido de novo, mas nem mesmo um problema clínico poderia me impedir, ainda mais tendo de subir aos palcos pouco antes com meus irmãos da Dark New Farm. Era todo um sonho montado das maneiras que menos esperei, mas enfim, acontecendo.


E o sonho chegou a sua escalada para o ápice com o iniciar da trilha que precede “Newborn Me”, faixa que abre o disco de 2016 Secret Garden. Já considerada um clássico da banda, a música fez o Colher de Chá tremer e ecoar o poderoso refrão da música, lindamente entoado por Fábio Lione e repetido em alto e bom tom pelos presentes, que logo em seguida foram agraciados com outra música que em pouco tempo se tornou um clássico da banda: “Travelers of Time”. Um começo impactante e feito principalmente para os novos fãs da banda, mas já era hora de agradar os “das antigas”: “Waiting Silence” e “Nothing to Say” explodiram nos corações que estavam ali e foram devidamente apreciadas.


A essa altura já era nítido: o Angra é impecável em palco. Banda que crava cada nota com desenvoltura. Não só isso, possuem sinergia entre si e entre o público, principalmente por conta do maestro Lione, que não perdia uma oportunidade de interagir com seu povo, praticamente colocando cada um em cima do palco para fazer parte do espetáculo. Uma aula de domínio de massas e, principalmente, domínio vocal, por que o que esse italiano canta é um absurdo.


Com nove álbuns gravados, é uma missão sempre difícil para o Angra elencar o repertório a ser apresentado, e tentaram ser o mais justos possível com os novos trabalhos e com os clássicos. Foram sete faixas do “Omni” e duas do “Secret Garden” -sendo deste o momento mais “fraco” da noite, na execução de “Upper Levels”, que poderia dar espaço para a lindíssima “Final Light”, do mesmo disco-, enquanto o restante do repertório foram de tributos prestados ao passado da banda, incluindo lindas execuções de peças que a muito não eram tocadas, como a lindíssima “Millennium Sun”, que desde 2014 não era executada ao vivo, e as provectas “Silence and Distance” e “Time”, que pegaram no coração, especialmente, dos fãs mais antigos do Angra.


As lembranças deste show é de uma apresentação linda, uma palestra musical regida pelo mago Fábio Lione, mas que só é possível graças a banda espetacular que constrói a nova essência do Angra. A precisão e técnica soberba e vistosa de Marcelo Barbosa é de encher os ouvidos, enquanto Felipe Andreolli é um monstro sagrado no contra-baixo, e as vezes tenho a impressão de que poderia apreciar o show apenas com o som de seu instrumento. O eterno-jovem Bruno Valverde é uma máquina por trás da bateria da banda, e tem seu momento de grande brilho no meio do show, ao fazer um solo que mistura uma demonstração magistral de categoria e desenvoltura com público. No entanto, tudo isso gira em torno da inspiração cosmo-astral de Rafael Bittencourt, que cruza sua história com a do Angra e vice-versa, e isso é muito sentido em palco. E após momentos alegres, momentos tocantes, instantes de euforia e quase todos de emoção, sabemos que a balada “Rebirth” é o prelúdio para o final, e com isso, traz em sua mensagem revigorante um certo tom de melancolia, afinal, nunca é fácil aceitar que o show está chegando ao fim. Mas ele termina da forma que todos esperam e amam: a dobradinha “Carry On” e “Nova Era”, que move e colide os corpos presentes para os últimos momentos de apreciação a essa banda mágica e fantástica chamada Angra.


A execução de “OMNI – Infinite Nothing” no som da casa marca o fim do espetáculo e o início das últimas palmas para o grupo que não se cansa de ser fenomenal. Com todas as mudanças, com todas as fases, o fato é que o Angra nasceu e sempre foi gigante, e no Colher de Chá isso apenas foi atestado por outras pessoas, como eu, que voltam para casa com a sensação de ter vivenciado um show mágico e raro, e que sabe que ficará registrado para sempre nas mais profundas de suas memórias.


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Essa matéria já estava concluída quando fomos devastados com o falecimento de André Matos. Pouco tempo após a espetacular noite que tivemos com o Angra, somos então arrasados com a perda de um musicista, maestro e pessoa incrível, que fora fundamental para a existência dessa banda que amamos. Além de nossa homenagem, publicada na terça-feira, 11, deixamos esta matéria como tributo a André, já que se falamos de Angra, somos obrigados, com gosto, a recordar a obra imortal do eterno vocalista e compositor de Angels Cry, Holy Land e Fireworks.

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.