No passado, Laguna ganhou destaque nacional com o lendário Rock Laguna, que contou com diversas atrações de grande nome no país e fez da cidade um ponto de encontro de todos os apreciadores da boa música dos anos ’80. Mais de vinte anos depois, surgia o Agosto Negro, evento fruto da produtora de mesmo nome e que prometia voltar a reunir em Laguna os entusiastas da música alternativa. Neste final de semana, nos dias 18 e 19 de agosto, ocorreu a 8ª edição deste evento que torcemos que nunca encontre um capítulo final, apenas novos episódios e temporadas dessa incrível história de resistência e luta dos rockers e headbangers da região.
Sabemos que a edição de 2016 foi a que deixou o Agosto Negro mais próximo de seu fim, mas a persistência de Danniel Bala e toda sua equipe foi maior e mais forte do que o baque de uma edição de pouco sucesso. Com novo planejamento e uma tentativa de renovação da proposta, apostaram numa nova edição e chegaram perto do êxito de ter todos os ingressos vendidos. O Clube de Campo de Laguna foi tomado pelo público que estava com saudades de um ambiente propício para encontrar amigos e fazer novos contatos, apreciando ótimas bandas e comendo e bebendo até dizer “chega”. Foi realmente extasiante ver o espaço tomado por barracas e por gente, principalmente quando vimos que desde as primeiras bandas o público se fez presente e não deixou nenhum grupo “tocar para ninguém”.
Desde o momento em que chegamos fomos bem-recebidos por toda a equipe. Aliás, antes de falar sobre as bandas é bom enfatizar a estrutura e recebimento para nós, da imprensa. Tivemos uma área reservada para podemos nos instalar e realizar entrevistas (que estarão em breve em nosso canal!), além de espaço e respeito para podermos fazer nosso trabalho. Como público em geral, um boa praça de alimentação com músicos tocando de forma mais intimista nos horários de almoço (tanto sábado quanto domingo). Tudo quanto a isso foi bem planejado e bem executado, o que são pontos positivos para a produção.
Agora, quanto ao que mais esperávamos: música. Afinal, Agosto Negro é feito de várias variações e vertentes do Rock e Metal, e a prova disso ficou por conta das bandas que fizeram a abertura do evento. Attitude, banda da casa, apresentou seu repertório composto de tributos a Matanza e Raimundos, e fez valer seu nome ao mostrar muita energia logo as 13h35, conseguindo trazer pra dentro do galpão das primeiras dúzias de espectadores, que já ficaram para a sequência, com a Mountauk Project, que vai na direção oposta ao hardcore da banda anterior ao investir em músicas consagradas do Metal melódico e progressivo, fazendo o público se animar e cantar junto a hinos de bandas consagradas como Shaman e Avantasia. A “pior banda do sul do mundo” deu sequência ao cast, e estamos falando a Redneck e seu Country/Southern Rock também construído em cima de clássicos que pegam nas pernas e na alma das pessoas, como de Lynyrd Skynyrd e até Dire Straits, e se eles se auto-denominam como dito anteriormente, que somos nós para dizer o contrário?
The Undead Manz, de Criciúma |
A dupla seguinte foram as primeiras a investirem em um repertório próprio e autoral. Skombrus veio de São José e já era esperada desde 2016, quando iria participar do 6º Laguna Metal Fest (também obra da Agosto Negro Produções), mas infelizmente viu o evento ser cancelado e não pode estar no cast da 6ª edição que fora realizada posteriormente. Para compensar, estiveram neste Agosto Negro e fizeram valer a espera, sendo a primeira a trazer a brutalidade do Thrash e Death Metal aos palcos. Já a Undead Manz veio para apagar a primeira impressão que tive com eles. Com um ótimo equipamento sonoro a sua disposição, a banda deixou pra trás qualquer problema técnico que tivera em outros eventos e mostraram seu verdadeiro som e conseguiram me ganhar. Existe um compromisso muito grande da banda em fazer algo bem diferente e único na região, e eles conseguem entregar um espetáculo realmente diferenciado e isso é algo que traz pontos para qualquer festival.
A dobradinha de covers que veio a seguir foi de arrepiar. Nunca tinha presenciado Na Veia da Velha anteriormente, e fiquei realmente surpreso com a qualidade dos músicos. Diversos clássicos foram executados de forma impressionante, com destaque para as execuções de Deep Purple e Rush, que incendiaram ao público. Red Wine é consagrada na casa, já tendo tocado em diversos eventos da Agosto Negro Produções e sendo sempre um tiro certo. São músicos qualificados executando músicas consagradas. Não tem erro, é certeza de uma apresentação sempre contagiante.
Agora eu sou obrigado a separar um parágrafo unicamente para a Alkanza. Antes do show, tivemos a oportunidade de entrevistar a banda e soubemos que o show iria contar com cinco músicas inéditas e que, segundo o vocalista e baixista Thiago Bonazza, seria o melhor show da história da banda. E quem diria, aquela banda que a algumas edições atrás estava abrindo o Agosto Negro para um pequeno público, no sábado tinha a casa cheia para presencia-la como headliner do cast, e por merecimento próprio. Foi uma apresentação estonteante e devastadora. Mais uma vez a Alkanza me impressionou, mas dessa vez foi além de não deixar pedra sobre pedra em cima do palco, foi exatamente por essas cinco músicas novas que me deixaram extremamente ansioso pelo próximo álbum da banda, que já está em produção. É absurdo como o grupo evoluiu e chegou a um novo patamar, e ainda tem muito o que conquistar, sem dúvida nenhuma.
Alkanza, de Laguna |
Axecuter era outra que veio com o garbo de atração principal do evento, e fez jus ao título. A banda é forjada no Metal tradicional e raiz, e faz se deu show uma verdadeira ode ao Heavy Metal. O power trio não foge as tradições que conhecemos do gênero, e traz ao show músicas para headbangers dispostos a se entregarem de verdade a um show verdadeiro de Metal. O som veloz e nervoso de “Attack” e “No God, No Devil” foram perfeitos para as rodas e balanças de cabeças e cabelos. O público ainda suplicou para que a banda ficasse para mais uma música mesmo após terminarem o set. Foi impossível não atenderem, pois assim como o público estava conectado a banda, a Axecuter também estava conectada ao público e resolveu executar sua apresentação com “Metal is Invincible”.
Ainda não era hora de poupar a cabeça e corpos dos presentes, pois a insanidade maior ainda estava por vir. A lendária banda Rhestus vinha pra não deixar nada pelo caminho e drenar todas as energias dos presentes. Foi Thrash e brutalidade do início ao fim, mesmo com a primeira música tendo problemas técnicos, mas nada que impedisse o vigor do grupo de Indaial. Iniciando as celebrações de seus 25 anos de estrada, a Rhestus literalmente incendiou o público de cima do palco e provou o porquê de ser uma das bandas de maior confiança da Agosto Negro Produções para liderar os casts da produtora. A banda foi cirúrgica com seu repertório, incluindo as ótimas “Bullet in Point” e “Insane War”, e apresentou pra Laguna mais uma vez o poder de destruição do Death Metal.
Depois de mais ou menos três horas de marretadas, era hora de pegar mais leve. A Molitium não tem por sua característica apresentar um som pesado e muito menos extremo, mas é de longe uma das mais qualificadas em termos de som que nosso estado já produziu. A banda apresentou as músicas de seu debut, lançado neste ano, o que mostra a mudança da banda que a quatro anos atrás se apresentou como a promissora e energética Diemordinate, que deixava bons covers ao redor de suas três autorais principais. Hoje, com outras diferenças além do nome, a Molitium se apresenta com mais autenticidade e uma personalidade diferente da sua antiga faceta, mas manteve um show de encher os ouvidos.
Depois de recarregar as energias, já era hora de voltar ao stage. 10h em ponto a Chicospell deixou seus acordes arrastados e densos levarem tons psicodélicos aos recém-acordados. A banda fez uma bela apresentação para os guerreiros que se arrastaram até a frente do palco para presenciar as talentosas músicas do grupo de Imbituba. Um pouco mais de agito veio em seguida, com a Antítese, que apostou numa mescla de autorais (muito boas por sinal, merecem mais espaço no repertório) com covers de verdadeiros hinos do Rock e Metal, e foi justamente aí que me encheram os olhos de lágrimas. Não podia esperar que logo após da animada “Detroit Rock City”, do Kiss, o grupo iria puxar “Bohemian Rhapsody”, obra-prima antológica do Queen. Por trás do cara que toca em bandas de Metal há um fã de Queen e admirador das obras de Freddie Mercury, então ver um tributo a uma de minhas bandas favoritas foi uma surpresa emocionante. A música teve ainda “Tie Your Mother Down” no meio, criando um mash-up para homenagear o Queen. Sem dúvidas, foi um belo tributo e que agregou muito a apresentação da banda.
Em seguida fomos brindados com um trio que bebeu dos melhores canecos do Rock n Roll old school. A Muddy Boots era uma banda que até então eu não conhecia, e nesta banda da capital de nosso estado muito talento e energia. O público respondeu o som entregue pelos caras e ficou em bom número a frente do palco durante a apresentação. A banda apresentou algumas de suas músicas próprias e tiveram bom feedback, o que fez a passagem do grupo pelo Agosto Negro ser memorável para os membros da Muddy Boots e para o público, que foi agraciado com o bom gosto do grupo.
Tanatron, de São Luís/MA |
A sequência foi para voltar a destroncar pescoços: a maranhense Tanatron, que cumpria a última data da parte Sul da turnê “The Machine is On Tour”, veio com uma pegada absurda, agressiva e dominante. A banda conta com o energético e jovem guitarrista Daniel Azevedo, que foi um grande destaque no palco, demonstrando domínio do instrumento e conexão com o público, tal como o baixista e vocalista Nyelson Weber, que é o líder desse tanque de guerra em forma de banda que é a Tanatron. Mesmo desfalcada de seu baterista original, a banda de São Luís não perdeu em nada com a entrada temporária de Anderson, baterista da Scrok. Com cerca de vinte dias para pegar um repertório de uma hora, o rapaz deu conta do recado e entregou a qualidade que a Tanatron pede e que seus fãs esperam. Assim sendo, o show foi a altura das expectativas e a banda foi avassaladora do início ao fim de sua apresentação.
Outra banda pesadíssima e que veio de fora do estado foi a Horror Chamber, que levou a níveis extremos a brutalidade sonora que o Agosto Negro esperava. A sequência de Death Metal foi pra testar as últimas fibras presentes nos pescoços presentes. Quem tinha disposição para bangear tinha uma ótima oportunidade pela frente, já que o som foi absurdo de pesado e propício para rodas e chicoteadas de cabelo. A banda foi a última a trazer acordes dissonantes, densos e desconcertantes ao palco instalado no Clube de Campo, e foi uma das melhores com essas características no cast.
A Texas Funeral veio para amenizar os nervos, que já estavam estralados e trincando a essa altura. Com sua proposta calcada no Rock n Roll clássico, passeando até pelo Blues Rock, a banda de Tubarão fez o último show autoral do Agosto Negro, e foi bem em sua missão. A banda apresentou seu som, que já é conhecido por alguns, e ganhou a simpatia do público, que se divertiu com o animado show da Texas Funeral, cantando e se mexendo ao passar das canções. Sinal de que o trabalho está surtindo efeito.
A essa altura muitos podiam estar sem energias para continuar, mas a última banda valia a pena. O cover oficial do Iron Maiden na América Latina, a Children of the Beast, foi o ingrediente que faltava para fechar esse excepcional evento que foi o Agosto Negro. Já conhecida pela organização do evento e por muitos que estiveram presentes, a banda é a garantia de um espetáculo completo, prestando uma homenagem emocionante e imersiva ao gigante do Heavy Metal. A quatro anos atrás, pude presenciá-los no mesmo Clube de Campo, pelo mesmo Agosto Negro, e aquela apresentação ficou marcada para mim. A banda tem uma performance de encher os olhos e ouvidos, satisfazendo os fãs de Iron Maiden a cada música executada, com direito a um cuidado com as vestimentas (como o uniforme de soldado usado pelo vocalista em “The Trooper” e a máscara em “Powerslave”, ou a roupagem trajada em “Fear of the Dark”), os personagens adicionais (o Eddie que subia ao palco para interagir com a banda e o Diabo que surgiu em “The Number of The Beast”), e até mesmo todos os adereços de palco, tudo com qualidade impressionante.
Children of the Beast, de São Paulo/SP |
O Agosto Negro foi mais uma vez fantástico e não me permite criticas. Tivemos uma ótima experiência nesse evento e foram dois dias que vou recordar com saudosismo, no ânsia de vive-los novamente numa próxima edição, com ainda mais bandas fantásticas, com uma vibe ainda melhor e na expectativa de encontrar o Clube de Campo tomado por ainda mais apreciadores da boa música. Um viva ao Agosto Negro, e vida longa a este festival que faz o cenário Rock ‘n Metal de Laguna respirar forte.
CONFIRA NOSSA ENTREVISTA COM DANNIEL BALA