Tínhamos em mãos tudo o que um bom evento de Rock/Metal pedia, um cast repleto de boas bandas e um bom final de semana sem chuvas, o que não contávamos era com o baixo público e bandas de renome nacional com pouca vontade em cima do palco, fato que de certa forma, fez com que o público se sentisse um pouco desrespeitado.
O Agosto Negro é o maior evento de Rock/Metal do Sul de Santa Catarina, com organização impecável, horários bem definidos e sem atrasos, boa acústica e uma interessante escolha das bandas, dando sempre oportunidade para as nomes locais e ao mesmo tempo, trazendo boas apresentações de fora do estado, casos da lendária Dark Avenger e das garotas da Indiscipline, vindos de Brasília e Rio de Janeiro respectivamente.
Antes de mais nada, gostaríamos de explicar que por se tratar de um evento muito extenso, não conseguimos assistir a apresentação de algumas bandas e para não tornar esta cobertura cansativa, vamos focar a narrativa nas principais apresentações, ou seja, as que mais chamaram a nossa atenção.
No início do evento, enquanto a Doctor Jimmy abria a sequência de apresentações, os presentes ainda estavam em fase de preparação de seus respectivos acampamentos, algo que não intimidou a banda e mesmo com baixo público, tocaram como se fosse para uma multidão. Após, foi a vez da experiente + D40 subir ao palco, trazendo verdadeiros clássicos do Rock ‘n Roll aos ouvidos do público que ia crescendo à partir deste momento.
Chegando a terceira apresentação, era a vez de subir ao palco a banda Macchina 67 de Ararangua/SC, mas aonde estava a banda? Com um pouco de atraso, subiram ao palco e tocaram menos do que imaginávamos (acreditamos que tenha acontecido algum imprevisto que desconhecemos).
Quarta banda e que surpresa! As cariocas da Indiscipline um dia antes desembarcaram em Florianópolis, capital catarinense, para apresentação no Célula Showcase e logo após veio para Laguna para a sua performance no Agosto Negro. Pense em um power trio formado por garotas e que deixou muito marmanjo boquiaberto, a sonoridade da banda traz um Heavy Metal Clássico e suas composições autorais realmente são uma obra de arte, foi neste momento que o público começou a enlouquecer, um verdadeiro espetáculo.
Silent Empire de Criciúma/SC (já mencionamos eles na cobertura do último Laguna Metal Fest) é uma banda de Death Metal onde a maior qualidade além das boas músicas, está no entrosamento adquirido pelo quarteto Criciumense, que trás integrantes já conhecidos do cenário, com destaque ao frontman Ivan, que organizou por anos um dos melhores festivais de Criciúma, o Steel Festival, vale a pena procurar conhecer a banda.
Com performance de banda principal, a Don Capone sobe ao palco para nos apresentar sua nova roupagem, com a saída recente de integrantes importantes, recrutaram Leandro Silveira (Mary’s Secret Box) e Robson Brigido (Leopoldo e Valéria) para assumir a bateria e guitarra base respectivamente. O que vimos foi um show com muita energia e a apresentação da nova música, cadenciada e harmônica no melhor estilo Leandro Silveira de tocar, desde o início mostrando a que veio e algo que o público já esperava, afinal em edições anteriores a Don Capone trouxe muita energia ao palco e sempre nos brindou com boas perfomances, até afirmo que este show valeu muito mais do que o de uma das bandas principais (o motivo será explicado em breve, continue a leitura).
O Rhestus não pode participar do festival por conta da contusão de seu baterista e a banda chamada para substituí-los foi a Diemordinate, para a surpresa de todos e sem exitar, lançaram as novas músicas que estarão em seu vindouro álbum. Quem achou que a surpresa era só essa, ainda viu a banda apresentar uma música cantada em nossa língua pátria, sim, em português, o que de certa forma surpreendeu até a própria banda, pois segundo o frontman Egvar, estavam com um pé atrás em tocar a composição, pois é algo que nunca tinham feito. O público foi ao delírio com a apresentação, mostrando que a banda é uma das melhores do estado, sem pensar duas vezes afirmo isto!
Chegava a hora de entrar no barracão e curtir um show de uma banda lendária, Chute no Formigueiro voltou e Gene Rocker (vocal) trouxe excelentes músicos para o acompanhar nesta nova trajetória, o que vimos no barracão foi realmente um CHUTE NO FORMIGUEIRO, até as pessoas que se encontravam comendo cachorro quente para descansar um pouco, se sentiram obrigados a correr para as constantes rodas punks. Todos dentro do barracão voltaram no tempo e foram enviados diretamente para os anos 80’s e quem simplesmente não esteve presente na época do Punk Rock, viveu por quarenta minutos uma década que deixou saudades, a banda fez pessoas assim como eu, se sentirem como se estivessem em um período não vivenciada, me sentia como se estivesse no tempos de ouro do Punk Rock, foi absolutamente antológico.
Dark Avenger, o que falar? Precisa? Os “candangos” do Dark Avenger mostraram por que vieram para Laguna, um show memorável, onde algumas pessoas presentes simplesmente choravam em frente ao palco vendo uma das bandas mais esperadas do evento. Mario Linhares conseguiu botar uma interrogação em minha cabeça, porque este cara não foi chamado para assumir o Angra? Segundo relato de pessoas presentes, foi por pouco, que voz exuberante, não é o único que se destaca na banda, a harmônia criada pelo simpático Vinicius Maluly é outro diferencial, sendo que até curiosamente recebeu a “clichê” música de parabéns por conta de seu aniversário. A banda trás um Power Metal super elaborado, guitarras com acordes interessantes e dando ênfase a harmônia pregada em sua proposta, enquanto isso, a cozinha é bem cuidada e o baixo e a bateria estão sempre em perfeita sintonia.
Como o evento não pode parar, enquanto o Cachorro Grande supostamente se preparava, a Hellio Costa de Laguna estava começando seu show dentro do Palco Alternativo. O que pudemos presenciar é que muitos ali presentes devem ter saído com um torcicolo, bater cabeça foi inevitável, principalmente em suas músicas autorais, que foi aonde conquistaram o público, afinal, é sempre diferente tocar uma música que você compôs, é como colocar o coração na ponta dos dedos e deixar a canção falar por si.
Enquanto todos corriam para ver o show do Cachorro Grande, a mais aguardada da noite, eis que uma pergunta surgiu, cadê o Cachorro Grande? Cadê a banda? Só o baterista do grupo estava pelos arredores e nada dos outros integrantes comparecer, isso resultou em um atraso de quase quarenta minutos e quando finalmente todos apareceram e o som já estava passado, iniciaram o show com uma das suas melhores músicas, a faixa “Você não sabe o que perdeu”. Após mais umas duas ou três músicas, o vocalista deitou no palco e tomava algo que aparentava ser vinho enquanto os instrumentistas da banda faziam uma jam (improviso musical), algo que durou entre quinze a vinte e cinco minutos. Quem ficou até tarde para ver o show deste grande nome do Rock nacional, viu uma banda minuscula em palco, principalmente pela falta de comprometimento com o evento e com o público presente. Até agora não tivemos nenhuma resposta sobre o atraso e nem o motivo de tanto improviso no show, só podemos aqui escrever o que vimos e a organização do evento afirma que não teve empecilhos entre contratante e contratada, nada que justificasse esta péssima apresentação da banda gaúcha, talvez ao ver este relato se manifestem.
Já que o clima estava pesado, que tal um Death Metal? Brincadeira a parte, Khrophus é uma banda que dispensa comentários, mais uma vez presente em um evento do Agosto Negro Produções, a banda veio mostrar o motivo de estar com quase todas as datas até o final do ano fechadas. Alex Pazetto voltou a banda e mostrou o motivo do qual não deveria nunca ter saído, a roupagem clássica e única do grupo estava de volta e o som foi brutal, trazendo o espirito headbanger de todos os presentes de volta após a apresentação pífia do Cachorro Grande.
Para fechar a noite, uma homenagem ao Alice in Chains realizada pela banda Spam, conhecida por realizar belíssimos tributos a outras bandas também. Demonstraram toda sua maturidade no palco, levando cada acorde a sério e tentando chegar o mais perto possível do que Alice in Chains executa. O frontman Serlen Luchi é um excelente músico, diferenciado e simpático, sabe como conquistar o público presente e foi assim que conseguiu fazer o Agosto Negro encerrar suas atividades no sábado com chave de ouro.
No domingo, o despertador não funcionou e assim peço desculpas a Little Joe e a Lithium pois não pude presenciar suas apresentações, chegando assim no início do show dos já conhecidos do blog, Made in Porão, mas agora com novidades, pois tocaram suas primeiras músicas autorais e para uma primeira impressão, nada resumiria melhor do que simplesmente fantástico! A banda conseguiu pregar sua característica em cima das músicas, com riffs fortes e músicas descontraídas, mesclando a sonoridade do Heavy Metal Clássico e o Hard Rock. Jamais poderia deixar de citar como o frontman Xandy Ferreira é a alma da banda, sua simpatia e descontração em cima do palco fez com que o público servisse whisky de graça ao músico, o profissionalismo é assustador e o cara gosta do que faz, ansioso pelas novas músicas.
O trio de Stoner de Imbituba/SC subiu mais uma vez ao palco do Agosto Negro, desta vez com novidades, a Mary’s Secret Box trouxe o seu novo EP lançado recentemente e cantado totalmente em português, o que de imediato surpreendeu aos desinformados sobre este novo trabalho. Não houve desapontamento na hora de demonstrar que a sonoridade continua afiada como sempre, o trio é completo quando está junto, é uma das poucas bandas que eu julgo que os integrantes são insubstituíveis uns para os outros, pois suas características se misturam, se completam e fazem a total diferença. Gostei muito das novas músicas, principalmente pela desenvoltura das mesmas e claro, o ênfase foi todo para as letras em Português, mas não se prenderam apenas a este trabalho, trouxeram também as boas músicas do seu primeiro disco, “Just”.
E as mulheres resolveram invadir o Agosto Negro, haha. Conhecia as garotas da Velvet Lips via redes sociais, vi uma vez uma apresentação delas pela metade, porém desta vez pude ver uma completa e o que eu vi, foi uma banda super entrosada e carismática, sendo que sua maior intensão é passar boas mensagens Rock n’ Roll e ao mesmo tempo, se divertir no palco. Sim, elas fazem isto com maestria. Além de apresentar suas músicas autorais, as garotas da capital mostraram boas versões cover, como diversas músicas do Kiss, banda que há algum tempo já vinham preparando um tributo e que tocaram pela primeira vez na semana decorrente ao festival, como a aceitação deste evento foi positivo, repetiram a dose no Agosto Negro e claro, a aceitação foi novamente positiva, banda que tem futuro.
Red Wine já é considerada uma banda residente do evento e não é por menos, tem um talento impressionante, porém pela primeira vez subiram ao palco acompanhados do seu recém novo integrante, Leoberto Bittencourt, ou seja, pela primeira vez a banda se apresentou no Agosto Negro com um vocalista. Mesmo sendo uma banda que opta por covers (segundo os integrantes é uma escolha), trouxeram músicas inéditas como canções do grupo que vem em ascensão no cenário musical mundial, a Rival Sons, banda de boas músicas e se é uma banda de boas músicas, nas mãos da Red Wine se torna espetacular. Ainda apresentaram outros grandes clássicos do Heavy Metal, mostrando que a afinidade no palco é gigantesca.
O Soul Zeppelin não pode comparecer ao evento e agora, como vão preencher o vão deixado pela banda antes do Replicantes? Eis que aparece um tributo ao Metallica, o grupo estava em excursão com as garotas da Velvet Lips, o nome do tributo se chama “Phantom Lord” e é composta por Lucas Souza – Guitarra base e vocal, Gabriel Theofelo – Guitarra solo, Guilherme Cunha – Baixo e Gustavo Souza – Bateria (este último já conhecia de outros shows que vi e já logo esperava uma boa apresentação, é um excelente baterista). Sabe o motivo de citar nome por nome? Os caras vieram a passeio, sem seus equipamentos, de repente pedem emprestado para as garotas da Velvet Lips e fazem um show monstruoso, sabe como se define isto? Atitude, o que falta em algumas bandas do cenário, por mais que o O SubSolo prese por música de som autoral, não podemos deixar de elogiar a atitude destes músicos. Parabéns!
Chegamos ao final do evento, Os Replicantes chegaram muito antes da sua apresentação e curtiam as bandas que tocavam antes deles, digno de um grupo com o nome que tem, ao contrário de outras principais do evento. Para quem curte muito Punk Rock e clássicos da banda, pôde aproveitar e curtir um bom show, demonstraram o motivo de estar no patamar que estão, o carisma da vocalista e dos demais músicos é impressionante e fizeram o encerrando de mais uma edição do melhor evento de Rock e Metal do Sul de Santa Catarina.
Acredito que o baixo público tenha decepcionado os organizadores, muitas pessoas que confirmaram presença e falavam do evento sem parar em whatsapp, facebook e diversas outras redes, não compareceram, sendo assim, ficou evidenciado a hipocrisia que ainda assombra o cenário musical do Rock/Metal, que tanto lutamos para manter unido e na ativa. Cada vez fica mais difícil para o Agosto Negro se firmar e continuar em pé, mas torcemos para que tenha uma próxima edição, a organização não diz que sim e muito menos que não, só nos resta esperar e torcer, desde já, Obrigado Danniel Bala pela oportunidade, você é um guerreiro que devemos tirar o chapéu.
Foi inevitável não falar de todas as apresentações, desculpem pelo texto extenso e sentimos muito pela falta de fotos, até a publicação deste, não foi postado nenhuma cobertura fotográfica para que pudéssemos utilizar as fotos.