Heljarmadr é um músico sueco e vocalista de uma das maiores bandas de Black Metal da atualidade, o Dark Funeral. Além disso, tem outros grandes projetos, como o Grá e o projeto solo Heljarmadr. Nesse último mês ele nos concedeu uma entrevista e falou um pouco sobre seus projetos, planejamentos, religião e cena do black metal. Confiram!
Photo by Michaela Barkensjö |
Sua chegada ao Dark Funeral foi em 2014, então tem sido uma longa jornada até agora. No entanto, você consegue se lembrar de como foram as primeiras apresentações com a banda e como se sentiu ao cantar grandes clássicos como “The Secrets Of The Black Arts” e”Hail Murder”?
Heljarmadr : Sim, os primeiros shows que eu acho que meio que me sugaram muito. Demora um pouco para entrar em uma nova dinâmica. Eu não estava nervoso, mas você sabe como é quando você faz algo pela primeira vez, é um pouco desajeitado. As músicas que você mencionou são obviamente muito satisfatórias para se apresentar. Eu também consegui colocar a música “Godhate” no set por um tempo, uma das minhas favoritas e nunca tinha sido feita ao vivo antes. Outra favorita pessoal é “Dark Are The Paths To Eternity (a summoning nocturnal…)”, foi realmente incrível fazer isso no palco também. A lista poderia continuar para sempre, eu acho.
Além das habilidades musicais, suas posições filosóficas em relação ao satanismo foram levadas em consideração para decidir seu destino na banda?
Heljarmadr: Bem, eu nunca entrei para uma banda cristã e, se eu fosse cristão, nunca seria considerado. Para mim, como músico, aproveito ao máximo a música que tem uma aura e atmosfera sombrias. E acho que é muito difícil encontrar algo mais sombrio do que o Dark Funeral. Enquanto escrevia a letra do álbum “Where Shadows Forever Reign“, acho que você pode encontrar sua própria resposta a essa pergunta em minhas palavras.
Dark Funeral photo by Anne Catherine Swallow. |
Você está escrevendo músicas ou trabalhando em novos projetos durante a quarentena?
Heljarmadr: Sim! Eu e Ahriman estamos trabalhando no próximo álbum. Como o distanciamento social é tipo nosso estado natural, fazemos como de costume, enviamos arquivos para lá e para cá. Ele está enviando riffs e eu envio vocais e construímos a partir disso.
Em relação a Grá, há um monte de músicas em andamento. No momento, os caras estão adaptando-os e refinando suas partes por conta própria.
Também trabalho em um livro de fotos e um single solo, a ser lançado assim que eu terminar. Além disso, estou trabalhando em estúdio para bandas underground, como mixagem e masterização. Há alguns dias, lancei um novo site, www.heljarmadr.com, onde explorarei os diferentes meios criativos que estou desenvolvendo.
Além do Dark Funeral, você também está trabalhando com o projeto Grá. Quais são as diferenças quando se trata de compor e escrever para as duas bandas?
Heljarmadr: Eu diria que a diferença é principalmente que eu escrevo a maioria das músicas e letras para Grá, enquanto no Dark Funeral eu estou lidando principalmente com as letras.
O estilo de música que escrevo é diferente de Ahriman, então eu gosto do fato de ter minhas mãos na massa em duas bandas extremas diferentes. Como agora estou lançando meu projeto solo “Heljarmadr“, tenho uma terceira opção onde posso trabalhar com coisas que realmente não se encaixam nessas duas opções. Eu tenho espaço para todos os tipos de experimentação e convido músicos de outras bandas para obter ainda mais influências.
O que podemos esperar do Dark Funeral e Grá no próximo ano?
Heljarmadr: É difícil dizer exatamente, visto como o mundo é agora. Ninguém sabe como isso vai acabar. Mas estamos, como eu disse, trabalhando nos próximos álbuns do Dark Funeral e Grá. Esperemos que novas músicas e muitas apresentações ao vivo.
Grá photo by Soile Siirtola. |
O Brasil está passando por um momento em que uma das ondas do cristianismo extremo está trabalhando bem perto do Estado. Como pessoa e músico, como você vê a influência do cristianismo e de outras religiões no século XXI? Aparentemente, não podemos nos livrar desse fardo, certo?
Heljarmadr: Sim, tocamos no Brasil em 2018, acho que logo antes desse cara chegar ao poder?
Religião e Estado são venenos. Separados, eles geralmente já são bastante fodidos, mas juntos tornam-se piores do que qualquer Coronavírus. Traz a morte do pensamento livre e espírito. Enquanto as pessoas continuarem votando nos bastardos, elas terão poder.
A Suécia sempre revelou bandas de enorme prestígio e talento, não apenas no metal extremo, mas também em qualquer outro tipo de gênero musical. Existe algum apoio para músicos no seu país? Além disso, que conselho você daria a um músico iniciante que queira compartilhar sua arte com o mundo?
Heljarmadr: Sim, temos uma tradição musical na Suécia. Existem recursos que podem ser solicitados para obter algum apoio para alugar um local de ensaio, por exemplo. Eu também acho que o clima frio incentiva atividades internas, como praticar seu instrumento. E esse também é meu melhor conselho, pratique e seja seu pior crítico. Além disso, você está fazendo música por paixão ou por algum tipo de status de músico? Se a sua resposta for a segunda, procure uma carreira no esporte ou outra coisa, há mais dinheiro nisso, posso garantir.
O problema hoje (a meu ver) é a busca constante pelo reconhecimento instantâneo. Música de boa qualidade tende a ser uma prioridade secundária com muita frequência. Seja paciente, refine sua música até alcançar a perfeição.
Quais bandas você têm ouvindo com maior frequência recentemente?
Heljarmadr: No momento, estou ouvindo Dio, estava ouvindo o Iron Maiden há um tempo atrás. Eu apenas dei uma olhada rápida nas minhas bandas “tocadas recentemente” no Spotify e inclui Cadaver, Mayhem, Dimmu Borgir, Candlemass, Cannibal Corpse, Allan Edwall, Katla e Bathory.
Photo by David Kareketo. |
O Black Metal era um gênero extremamente controverso e complexo, quando voltamos às raízes nos anos 90. Como você vê a cena hoje? É melhor ou ainda é a mesma? Há alguma banda nova que você goste?
Heljarmadr: Os tempos mudaram mesmo. Não sei se é para melhor ou para pior. Hoje todo mundo tem acesso instantâneo a tudo, em qualquer lugar, a qualquer hora, é claro que muito do misticismo está completamente perdido. E o que o streaming não matou, a mídia social matou, de certa forma. Pouquíssimas coisas parecem únicas em um vasto oceano de informações inúteis.
Eu sinto falta da antecipação de um novo lançamento, como era difícil até se apossar deles às vezes, os álbuns tinham maior valor. Hoje em dia tudo vem com um plano de marketing e a arte da capa é revelada meses antes do lançamento do álbum. Singles são lançados bem antes do álbum e assim por diante. Eu também faço parte disso, mas isso não significa necessariamente que eu goste de todas as etapas do processo. Esta entrevista seria lida em uma revista, por exemplo, provavelmente alguns meses após a entrevista ser realmente feita. Agora é acesso quase instantâneo e estamos sendo mal acostumados com isso.
Quando se trata de uma “cena real”, não sei se esse conceito é aplicável hoje. Tudo é individualista e não sinto um senso de comunidade há muitos anos. As pessoas se unem para momentos específicos, como um show, mas se dispersam em milhares de direções diferentes logo depois.
Você conhece alguma banda ou música brasileira além do Sepultura e do metal? O que você acha de?
Heljarmadr: Bem, meus amigos do Krisiun, obviamente! Sarcófago e Vulcano também vêm à mente instantaneamente. Além desses, eu não sei muito sobre música brasileira, infelizmente.
Photo by Soile Siirtola. |
Para terminar, conte-nos uma situação engraçada que aconteceu em um show ou turnê.
Heljarmadr: Bem, depende do que você vê como engraçado, é claro. Todos os tipos de contratempos aconteceram, como vôos perdidos, van com motoristas bêbados, ônibus de turnê quebrando, bagagem perdida, equipamento quebrado, equipamento roubado e assim por diante… Essas coisas são engraçadas em retrospectiva, mas de vez em quando, nem tanto. Também conhecemos fãs incríveis, inspiramos pessoas, vimos lugares fantásticos, fizemos shows incríveis e comemos comida incrível em todo o mundo. Então, você precisa ser um pouco mais específica, eu acho, rs.
Foi divertido quando nosso ônibus quebrou no meio dos EUA na turnê Dark Funeral/Septic Flesh. Alugamos dois SUVs e um caminhão U-Haul para continuar. Eu era o motorista da SUV do Dark Funeral e era muito interessante dirigir longas viagens nos EUA,você pode ver mais do que você vê em um ônibus de tour. Foi um bom detalhe para incluir na lista de coisas estranhas que fiz na minha vida.
Se você estava esperando alguma fofoca absurda, lamento desapontá-la! rs