Por: Hermes Gregório


Cada vez que ouço uma banda nova penso no quanto é chato pensar em rótulos para definir o som que os caras estão fazendo. Os rótulos só existem como uma forma de padronizar a arte, mas arte é subjetiva e está longe de ser enquadrada num padrão único. Esse pensamento surgiu no meu fluxo da consciência quando ouvi o álbum da banda tubaronense DOSCARAVELHO. O som da banda é rock’n’roll com características que transitam pelo hardcore, Heavy Metal com um breve apelo de Thrash Metal e outros elementos sonoros que dificultam uma padronização, e isso é muito bom. As guitarras de Janison Bez e Rafael Spilere transmitem agressividade enquanto o vocalista Jeferson Pereira canta em português letras que narram situações fatídicas do cotidiano.



A muralha de guitarras ergue-se em “Rock’N’Roll na Pedreira”, a primeira porrada do álbum, com um refrão fácil de cantar e com a bateria vigorosa de Rodrigo Tonon. Os vocais rápidos e versáteis da faixa “Negócio Da Tia” lembram os Raimundos lá dos primeiros discos. Na verdade, eles começaram na estrada fazendo covers dos Raimundos em shows emblemáticos pelo interior do estado. Mas vamos lá, enquanto tento definir se tudo isso é Heavy Metal, começa “Cafezinho Vicia?” com sua crônica metaleira sobre o dilema do vício da cafeína. A dúvida do café permanece, porém fica a certeza de que eles não se enquadram em Heavy Metal.

As letras divertidas vão de encontro à agressividade de riffs pesados e muito bem estruturados, como em “O Zé”, que conta a história de um baiano tonto que mora no armazém. Um outro ponto positivo do álbum é a qualidade de som e mixagem. Não entendo muito das técnicas de gravação, mas posso afirmar que o álbum tem ótima sonoridade, muito bem sincronizado e que proporciona a agradável sensação de balançar a cabeça feito um headbanger. É difícil ouvir e ficar parado quando se tem faixas rápidas e rasteiras tocando no seu player.

Você começa a pirar quando ouve “Neurótico” e chega no ponto alto do álbum em “Panela de Pressão”. É aí que tudo esquenta, é ai que se misturam os rótulos e são colocados numa panela de pressão para queimar de vez as possibilidades pragmáticas de uma padronização do que é arte. A arte é subjetiva, a arte flui como um riff pesado de guitarra, como aquele que anuncia os vocais guturais em “Violência”, com seu conteúdo de protesto e questionamentos sociais. DOSCARAVELHO é um som intenso distribuído em 12 faixas que se completam em um conceito de fazer rock autêntico, sem as preocupações de um rótulo ou gênero. 

Para encerrar toda a epopeia temos “Gerundia” e toda a prosa de um desprezado apaixonado pela mulher de nome bizarro. Cada música da DOSCARAVELHO é uma narrativa que muitos podem se identificar. Essa catarse em forma de composições sonoras é o que muitos de chamam de “os caras são foda”.

TRACKLIST
01 – “Rock’n’Roll Na Pedreira”
02 – “Negócio Da Tia”
03 – “Cafezinho Vicia?”
04 – “O Zé”
05 – “Acontece No Bar”
06 – “Bicho Estranho”
07 – “Neurótico”
08 – “Panela De Pressão”
09 – “Violência”
10 – “Multiplicação”
11 – “Estreito”
12 – “Gerundia”

FORMAÇÃO
Janison Bez – guitarra
Rafael Spilere – guitarra
Jefferson Pereira – voz
Rodrigo Tonon – bateria
Jadson Falchetti – baixo
Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.