Nessa época de chuvas intensas, na sexta-feira, dia 8, caiu pela segunda vez na semana, na cidade de SP, uma “chuva” completamente infectada, vinda da Moldávia, um pequeno país da Europa Oriental.
Estreando no Brasil com uma turnê de cinco shows que passaram pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, o Infected Rain trouxe sua identidade visual marcante, muito carisma e uma sonoridade que incorpora elementos do Metalcore, Metal Alternativo e Nu-metal. Estivemos presentes na segunda apresentação (e última) que passou por São Paulo, diretamente na Horror Expo, uma convenção voltada ao público de terror, que sem dúvida adicionou um toque especial à performance.
Após um breve atraso anunciado devido a problemas técnicos causados pela chuva, segundo os organizadores, o pequeno palco e o público menor que o usual para casas de show deram um ar intimista à apresentação. Esse clima de proximidade aumentou a expectativa entre os que já conheciam a banda e, em alguns casos, já haviam até assistido ao show anterior em São Paulo, no Fabrique, no dia 3 – mas estavam ali novamente para curtir.
Foi interessante notar as diferenças entre um “show tradicional”, típico de uma casa de eventos e um show em uma convenção, onde a estrutura e a temática geram uma experiência única. Na Horror Expo, isso significou camarins improvisados ao lado do palco; a altura e disposição do palco, que facilitavam a interação; e um público diverso, entre fãs de preto e pessoas fantasiadas com sangue e adereços assustadores.
A apresentação começou por volta das 22h30, com Eugen Voluta (bateria) subindo os degraus do palco, seguido por Vadim “Vidick” Ojog (guitarra) e a mais recente integrante, Alice Lane (baixo). A expectativa aumentou ainda mais com a chegada de Lena Scissorhands, vocalista e principal letrista da banda. Na estrada desde 2008, o Infected Rain cativou logo de cara o público com seu som pesado e letras introspectivas que refletem as experiências pessoais de Lena. A apresentação, embora curta, incluiu 11 faixas executadas com intensidade durante cerca de uma hora, assim como nos outros shows da turnê brasileira.
Com uma presença de palco forte, marcada pelo headbanging dos dreads amarelos de Lena e castanhos de Vidick, o show do Infected Rain impressiona pela combinação de atitude, gingado e momentos dramáticos. Lena é uma performer natural, alternando entre expressões intensas e gestos que capturam a atenção, enquanto comanda uma mescla entre voz limpa e gutural.
Entre as músicas, se destacou especialmente o novo álbum Time, com seis títulos presentes no setlist e que já conta com favoritos entre os fãs da banda como Dying Light e Never to Return, cantado por alguns a plenos pulmões. Lena comentou também sobre o significado especial de tocar em um evento de terror, já que a banda é fã do gênero e essa era sua primeira apresentação em uma convenção.
A vocalista se divertiu ao notar os cosplayers e fantasias na plateia, incentivando a energia do público e pedindo mais entusiasmo para os moshes, já que em muitos momentos, principalmente no que dizia respeito a uma boa roda, este foi um ponto a desejar dos presentes e constantemente cobrado pela performer, alguns momentos aparentando até certa frustração pelo desempenho da galera. Importante ressaltar que, embora nem todos estivessem ali exclusivamente para o show – alguns não eram nem do universo do metal – mas muitos se entregaram à experiência ao seu modo, o que validou a entrega que era feita pela banda.
Outro momento que marcou a noite, entre chifres, línguas para fora e sorrisos de Lena, foi durante Because I Let You, penúltima música do set, extremamente dramática e carregada de um peso que parecia sair do âmago da artista. Ao final, saindo completamente do script, ela se desatou em um profundo choro, que foi amplamente percebido tanto pelos membros da banda, que tomaram um tempo para entender o que estava acontecendo, quanto pelo público, que a todo momento mostrou seu suporte para com a artista, entoando seu nome ou dizendo frases como “Nós te amamos” e “Estamos aqui com você”.
Após se recuperar, Lena expressou sua gratidão pelo espaço seguro criado durante a apresentação, onde era possível mostrar-se vulnerável em um ambiente respeitoso construído por todos os presentes. Esse respeito, chegou ainda com um pedido da maior roda que se fosse possível ser aberta para Sweet, Sweet Lies, sendo puxada por um palhaço “Art” da franquia de Terrifier, onde certamente não atendeu todas as expectativas da cantora que apontava a dedo, cobrando para os presentes para se juntarem a uma última roda da noite.
Ainda que talvez de fato, o público tenha deixado a desejar, houve um retorno por parte de Lena, que deu uma verdadeira aula de humildade, pedindo por alguns minutos para se recompor, para na sequência realizar um Meet and Greet, onde junto a Alice, atenderam todos os presentes em uma fila considerável que, mesmo após seu término, ainda abriu espaço para os colaboradores do evento e para todos que quisessem ter um breve momento com as integrantes.
Dando um show de carisma, humildade e, principalmente, musicalidade, o Infected Rain mostrou por que vem sendo uma banda que ganha espaço a cada ano, sendo um dos representantes dessa nova geração de metal contemporâneo que vem conquistando pessoas não só na Moldávia, mas ao redor do mundo.
Setlist – Infected Rain
- The Realm of Chaos
- PANDEMONIUM
- VIVARIUM
- Fighter
- THE ANSWER IS YOU
- Orphan Soul
- The Earth Mantra
- DYING LIGHT
- NEVER TO RETURN
Encore:
10. BECAUSE I LET YOU
11. Sweet, Sweet Lies