Insano e brutal. Poucas vezes vi um nome de festival ser tão coerente com o que realmente foi apresentado. Com quatro bandas de gêneros diferentes, todas apresentaram peso e voracidade de formas distintas, e fizeram o Buda Directório’s Bar voltar a viver de forma intensa suas noites épicas de Metal, coisa que não ocorria a anos. 


A casa recebeu um bom público, mas não necessariamente o recebeu bem. Após atrasar na abertura das portas da casa, eu e alguns outros presentes queríamos entrar para poder utilizar os banheiros do local, ou até mesmo consumir algo da casa, mas fomos impedidos com justificativas pouco plausíveis. Assim sendo, recorremos a um estabelecimento próximo, que certamente agradeceu tal atitude da organização da casa. Quando tivemos permissão para adentrar o recinto, um péssimo odor pode ser sentido logo de cara. Já estive em picos que realmente eram simplistas e tinham a cara do underground, mas ali era realmente falta de interesse em preservar o ambiente para o evento. Tal cheiro ficou do começo ao fim da noite, sendo motivo de piadas entre as bandas em palco e demais presentes. Fica a dúvida se realmente havia um rato morto ou alguma outra criatura debaixo do palco.

Fora isso, o evento reuniu uma boa quantidade de pessoas, que quebraram a expectativa de alguns que acreditavam que seria um fracasso de público. O cast era forte e atrativo, além do mais, a proposta de trazer a cena Metal da região de volta para o Buda despertava uma curiosidade e nostalgia naqueles que achavam que não viriam isso ocorrer novamente. Pois ocorreu e, no que depender deste I.B.F., deve ocorrer novamente.



A primeira banda, Rastro de Pólvora, apresentou ao público em sua primeira gig um Crust Hardcore que incentivou as primeiras rodas da noite. O quarteto não mostrou medo de palco -já que é formado por músicos experientes da cena da região, e moeu a cabeça dos que foram pra frente do palco. Som rápido e visceral, sem frescuras ou delongas. Com covers -em especial de Ratos de Porão-  e músicas autorais, a banda ganhou moral e fez uma apresentação convincente para sua estréia.



De uma mistura de hardcore com grind, chegamos ao extremo com a Deadnation e seu Death Metal. Foi outra banda a apresentar trabalho autoral e covers, todos executados com a brutalidade necessária que o gênero pede. Os presentes agradeceram, e aproveitaram para se colidirem incessantemente ao longo dos vários mosh pits que abriram ao longo do show. Os ótimos músicos que constituem a banda facilitam a qualidade apresentada no show, em especial o vocalista e grande persona da cena Fabrício “Shubaka”, que surpreende com a monstruosidade e versatilidade de seu vocal. Assim como a Rastro, é uma banda que deixou o público na ânsia por conferir os frutos autorais daquilo que vem sendo apresentado.

Não era noite pra quem estava cansado, pois era uma quebraceira após a outra. Se tinha uma banda que podíamos dizer que era a headliner do cast era a Alkanza, e isso já sabemos bem porque. O movimento que faz pela cena local e a conexão que a banda cria com o público presente é intensa e energética, e isso já paga qualquer show. Hoje, a banda é aquela que desperta em muitos aquele pensamento “vamos nesse fest porque eles vão tocar”. O quarteto se mostrou mais uma vez coeso e dominante em palco, e teve o devido retorno do público. O destaque ficou para o final, quando André Guterro, ex-guitarrista da banda, foi convidado por Renato Lopes para assumir sua guitarra no meio de “Dominação” até seu final. Antes disso, André era um dos que mais estava empolgado com a apresentação, podendo inclusive ir pra roda com seu antigo parceiro Thiago Bonazza, que largou o baixo no meio de “É Só!?” e foi pro mosh. Momentos que apenas o underground pode proporcionar e é por isso que vivemos ele.


Depois de quase três horas de moeção de pescoço, a Dark New Farm pegou a barra de fechar a noite. O estilo da banda exige uma cabeça mais aberta, já que é uma das poucas que apostam no New Metal. Pelo o que notei, aqueles que ficaram até o fim não tiveram problemas com o gênero, mas sim com a apresentação confusa da banda. Apesar de covers bem apresentados e boas ideias nas músicas autorais, a D.N.F. precisa subir mais concentrada em palco, ou ensaiar melhor o que será executado. A prova disso foi a apresentação do dia seguinte, onde compareci e vi por mim mesmo uma melhor performance da banda em relação a noite anterior, mas para os que não puderam ir, ficou a imagem de uma banda que está em desenvolvimento e ainda pode trabalhar melhor suas obras.



A Dark New Farm não teve medo de encerrar o fest e buscou chamar atenção para seu trabalho autoral

Assim sendo, posso afirmar que a primeira edição do Insano Brutal Fest foi um êxito e um marco na cena local. A Amuhell Produções acertou em cheio na sua primeira produção e, apesar dos perrengues que passaram nos bastidores de pré-show, tudo deu certo aos olhos do público, que abraçou o projeto e sai na expectativa de uma nova edição.


Onde há espaço para escrever, tenha certeza que irei deixar minhas palavras. Foi assim que me tornei letrista, escritor e roteirista, ainda transformando minha paixão por música em uma atividade para a vida. Nos palcos, sou baixista da Dark New Farm, e fora deles, redator graduado em Publicidade e Propaganda para o que surgir pela frente.