Terceira edição desta coluna que eu pessoalmente AMO chamada Conhecendo as Mídias. 

A essa altura do campeonato todos sabemos que o Underground não se faz sozinho e que as mídias são uma das engrenagens indispensáveis para o bom funcionamento dessa maquinaria. Então o que melhor que divulgar o trabalho dos colegas que estão no corre junto com a gente, né?

Trouxe hoje um dos meus canais favoritos do YouTube para vocês conhecerem: O Jardim Sonoro.

Eu conheci o canal por sugestão do Youtube que me indicou um vídeo chamado O Gutural Feminino pelo mundo. E digo que já gostei de cara, não só pela temática escolhida como também pela edição do vídeo, a evidente pesquisa que foi feita para montar o roteiro e a coerência do conteúdo apresentado.

Após assistir esse, maratonei outros vídeos do canal e percebi que qualidade, pesquisa sólida e atenção a detalhes eram o ponto forte por aí. Nessa hora, obviamente, apertei o INSCREVER-SE com força.

Um tempo depois acompanhei a conta de instagram (@jardim_sonoro) e sempre estou acompanhando tudo o que aparece por lá.

Para saber um pouco mais sobre os bastidores de O Jardim Sonoro, conversei com a sua idealizadora e única responsável: Priscilla, que respondeu algumas perguntas para O Subsolo.

O Subsolo: Priscilla, muito obrigada por dedicar um pouco do seu tempo para responder algumas perguntas. Por favor se apresente e nos conte de onde você é, qual a sua profissão e como nasceu sua relação com a música.

Priscilla: Sou de Natal/RN, mas moro no Rio de Janeiro. Sou publicitária. A minha relação com a música vem da infância. Meu pai sempre gostou de colecionar vinis e fitas cassete e sempre foi apaixonado por rádio. Cresci ouvindo e comentando música juntamente com ele. Sempre ouvimos de tudo, mas lembro até hoje que a primeira música que me chamou atenção, ainda criança, foi What’s up do 4 non blondes. Eu adorava fingir que sabia a letra.

Priscilla, idealizadora d’O Jardim Sonoro

O Subsolo: Como surgiu a ideia de criar O Jardim Sonoro?

Priscilla: Eu tinha acabado de pedir demissão de um trabalho que me causou burnout e, àquelas alturas, eu nem sabia mais o que eu gostava de fazer. Estava mentalmente desgastada e precisava me reencontrar profissionalmente. Eu sou publicitária e já trabalhava com audiovisual, até então. Um dia fiz uma enquete no Instagram e perguntei às pessoas o que mais fazia elas lembrarem de mim e a maioria das respostas foi “música”. Eu andava tão longe de mim mesma que tinha me esquecido disso. Foi aí que resolvi começar um canal no YouTube. A ideia era falar sobre as músicas e bandas que eu gostava e tentar decifrar segredos de álbuns conceituais e videoclipes que ninguém explicava em lugar nenhum. Isso porque, no geral, quando eu pesquisava a resenha de algum trabalho, eu as achava muito vagas, tipo: “esse álbum e foda pra caralho”. E isso não me dizia nada, então resolvi fazer eu mesma as resenhas do meu jeito e compartilhar com as pessoas.

O Subsolo: O nome do canal e da conta de Instagram não revelam nada sobre quem está por trás dos bastidores, se é mulher ou homem, ou se são uma ou mais pessoas. Como foi a escolha do nome e qual a reação das pessoas quando descobrem que a criadora de conteúdo por trás do JS é um exército de uma mulher só?

Priscilla: O nome vem de uma das minhas bandas preferidas, o Soundgarden. O nome da banda traz dois elementos muito importantes pra mim: o som (relativo à música) e o jardim, que é um ambiente que amo e adoro estar (pra mim um mato vale mais do que qualquer praia).

No início, eu não mostrava a cara e, especialmente no Instagram, era bem difícil saber quem estava por trás de tudo. Depois de um tempo, eu comecei a aparecer, mas mesmo assim é recorrente as pessoas virem falar comigo achando que é um homem que cuida da conta. Quando não, falam no plural como se várias pessoas fizessem O Jardim Sonoro. Essa parte eu até entendo, eu realmente gostaria de ter uma equipe rsrs Mas não entra na minha cabeça você abrir o chat de um Instagram pra mandar mensagem pra alguém e não parar pra olhar o perfil antes. Inclusive tem meu nome lá na bio. Mas enfim… Já no YouTube, isso obviamente não acontece. É só o plural mesmo que normalmente usam.

O Subsolo: O Jardim Sonoro não é um veículo focado exclusivamente em metal por exemplo, e sim mistura Rock, Heavy metal, indie e até pop. Como funciona isso na prática? O público do canal é mais eclético em relação a estilos ou há preconceitos?

Priscilla: Na verdade, o conteúdo já foi bem mais eclético. Isso porque, no início, eu queria compartilhar sobre gêneros diversos, pois eu escuto um pouco de tudo. Mas especialmente depois que o público do metal se aproximou mais de mim ficou mais difícil seguir isso. Hoje em dia eu sou mais focada no rock e heavy metal, mas sempre tento mostrar coisas bacanas de indie e pop que percebo.

No geral, o público do YouTube é mais aberto e gosta de me ver falar sobre temas que eles não estão acostumados. No Instagram, eu vejo que o pessoal é um pouquinho mais fechado e não recebe bem todos os estilos. Eu acredito que quem vai para o YouTube está com mais tempo e, por isso, aceita melhor ouvir sobre outras coisas. No Instagram não, é muita informação o tempo inteiro na timeline e o pessoal acaba focando mais atenção no que já conhece e lhe chama atenção.

O Subsolo: Como funciona seu processo de criação de conteúdo, desde a escolha de uma banda ou assunto até a publicação? Você segue algum método ou é tudo de forma livre e espontânea?

Priscilla: Depende de muitas coisas. Às vezes eu escolho os temas de acordo com lançamentos, curiosidades, polêmicas (temas que estão em alta). Outras vezes, eu pergunto pras pessoas o que elas gostariam de ver. Em outros momentos, eu compartilho coisas novas que ando ouvindo ou descobri recentemente e por aí vai. O Instagram normalmente seguia o que acontecia no YouTube, funcionava como um complemento do assunto da semana no canal. Mas de uns tempos pra cá ele tem ganhado vida própria, especialmente depois do quadro Jardim Sonoro Descoberta, em que apresento bandas novas. A dinâmica lá é outra porque a interatividade e proximidade com o público é muito maior. Então, o Insta é muito guiado pelo que o público quer ver/conhecer.

O Subsolo: Qual a parte mais legal e qual a mais chata do seu trabalho no Jardim Sonoro?

Priscilla: A parte mais legal é conhecer artistas novos e fazer contatos com pessoas do Brasil inteiro. Já fiz muitos amigos por causa do JS e é muito bom ter uma conexão real com as pessoas através do meu trabalho. Sentir que faço a diferença de algum modo para elas.

O mais chato é fazer tudo sozinha. É realmente muuuuuito cansativo e, às vezes, até desesperador. É muita tarefa: pesquisar, gravar, editar, fazer arte, escrever texto, responder comentários, dar atenção às bandas que me procuram. E ainda dividir isso tudo com um trabalho de 8h e vida pessoal… Seria muito bom mesmo ter uma equipe.

O Subsolo: Sei que o canal se encontra em plena campanha para atingir a monetização das visualizações dos vídeos. Como os leitores podem ajudar para que isso se concretize?

Priscilla: Assistindo aos vídeos, compartilhando com os amigos que podem curtir o trabalho e rezando para o YouTube não me sacanear. 🙂

 

 

Vocalista, roadie padawan, ruim tocando qualquer instrumento, headbanger nutella e criadora do LVNA Fest. Sempre tenta colaborar para que as mulheres tenham mais visibilidade e ocupem mais espaços na cena.