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Entrevista: Dona Mag (Curitiba/PR)

A Dona Mag é uma banda de Curitiba que aposta no rock and roll visceral, cheio de energia e autenticidade. Com um ritmo marcante e pesado, somado a letras que falam da vida em suas máximas, a Dona Mag aplica uma pegada violenta em seu som, seguindo a trilha clássica do rock.

Com quase 20 anos de estrada o quarteto, atualmente formado por Rui Ventura (vocal), Osíris de Mico (guitarra), Alex Magrão (baixo) e Camilo Parizotto (bateria), se prepara para uma série de novidades para 2021. O guitarrista Osíris falou conosco para contar as últimas da banda – e também relembrar sua história.

Como surgiu a banda e qual o conceito no nome Dona Mag?
A Dona Mag teve início no ano de 2002, como um sonho de 4 adolescentes. Dois dos integrantes, o Roni e o Marco, serviam ao Exército no 20º BIB. Lá tinha uma metralhadora FN Mag calibre 7,62mm. que era chamada de “Dona Mag”. Era uma metralhadora muito respeitada, tendo uma música dedicada a ela: “Olha a dona mag no terreno camuflada…”. Os dois sugeriram o nome Dona Mag, nós já tivemos a ideia da logo – que é a mesma até hoje – e ficou assim…

O disco Magna carta saiu em 2016, onde foi gravado e qual conceito lírico do trabalho? Poderiam explicar a capa do disco?
A história desse disco é muito interessante, como vários altos e baixos e que tem dois Kikos como peças importantes. O Kiko Freitas e o Kiko Loureiro. Embora ele tenha sido lançado em 2016, é fruto de ideias e composições de mais de uma década de Mag.

O Magna Carta é um disco 100% independente. Hoje isso não é novidade, mas quando decidimos produzi-lo e gravá-lo, em 2013, ser 100% independente era um desafio. A nossa maior inspiração para sermos independentes foi as Velhas Virgens. Hoje é mais comum gravar um álbum no quarto da sua casa, pois temos equipamentos e tecnologia disponíveis para isso. Na época de produção do Magna Carta, não. Ele começou a ser produzido no começo de 2013, quando contratamos o produtor musical Kiko Freitas. A captação de áudio foi feita em nosso home studio, precário comparado aos de hoje, nos fundos da casa dos meus pais.

Depois de todo o áudio captado e já mixado, o Kiko Freitas teve alguns problemas pessoais o que fez com que os trabalhos fossem suspensos. No período de suspensão, para se ter uma ideia, o HD onde o Kiko havia armazenado os arquivos simplesmente quebrou. E ele não tinha backup. Ou seja, do dia para noite, quando o trabalho estava praticamente finalizado tivemos que começar do zero. Isso fez com que regravássemos tudo novamente, mas ai já tínhamos mais experiência. Por isso que brinco: o nosso primeiro álbum, na verdade, é o segundo…

Parece ruim? Esse seria o nosso menor problema. Antes de terminarmos a captação de áudio desse “novo álbum”, o Kiko Freitas teve que se mudar para Brasília para resolver problemas pessoais, fazendo com que ficássemos sem produtor musical. Eu tive que assumir esse posto, mesmo sem experiência para isso. Mas se é para fazer acontecer, vamos fazer acontecer. Como se não bastasse, no final de 2013 a Mag teve uma grande baixa: o vocalista Marco Rofigue, que estava comigo desde o primeiro dia de Mag e era responsável pela criação das letras das músicas do Magna Carta, teve que deixar a Mag para se mudar para Jaraguá do Sul. Um pouco antes, o baterista René Devisé também deixou a banda, se aposentando dos palcos. Ou seja, não tínhamos mais produtor, não tínhamos o vocalista e fundador da Mag e não tínhamos baterista. Estávamos bem desnorteados e a captação do vocal era apenas para guia. O Magna Carta tinha tudo para ser engavetado.

Mas a Mag não iria morrer tão fácil assim. Nós que ficamos – o Henrique Menezes, o Egon Nadalin e eu – nos unimos ainda mais e seguimos em frente. Em setembro de 2014, o Rui Ventura entrou para a banda e um dos desafios era terminar de gravar o vocal e lançarmos o Magna Carta. Isso, entretanto, só aconteceu em no final de 2015; Magna Carta teve a voz captada, foi mixado e masterizado no Audio Stamp, do nosso grande parceiro Virgilio Milléo.

O nome Magna Carta veio de um insight de quando o Rui e eu estávamos em um evento do Kiko Loureiro (sim, o guitarrista do Megadeth). Achamos o nome perfeito, pois ali era a inauguração dessa “nova” Dona Mag. O conceito das artes da capa foi feito por nós (o Rui e eu), sendo que o Rui fez um esboço para que nosso designer, Getúlio Farias, fizesse essa obra que vocês conhecem.

“Litro de Rum” é uma das músicas mais famosas da banda. Rum é a bebida favorita de vocês? O que mais vocês gostam de beber?

O rum foi o responsável por um porre que eu tomei [risos]. A música conta parte dessa história. Foi em um churrasco de faculdade e estávamos o Marco, meu irmão (Pasquale) e eu. Como todo churrasco de faculdade, o churrasco é um detalhe… [risos]. Marco e eu começamos bebendo cerveja e depois de algumas vimos que alguém trouxe uma garrafa de rum (Montilla). A garrafa estava fechada e, claro, nós secamos aquele rum, que me derrubou. Depois de um tempo, lembrei que havia combinado algo com a minha namorada e falei para o Marco me levar até a casa dela (obviamente eu estava atrasado). E o Marco pegou o carro e me levou até lá. O mais curioso é que eu conhecia o Marco há mais de 10 anos e não sabia que ele dirigia e, naquele dia eu entendi o motivo [risos]. Na semana seguinte, saiu a letra de “Litro de Rum”.

A banda tocou no Zombie Walk em 2020, em Curitiba. Foi um grande show, pelo que podemos ver pelas fotos. Como foi esta experiência?

Primeiramente nós temos que agradecer a Flavia Noguera, ao Docca Soares e ao Paulo Biscaia pelo convite e por fazer o show acontecer. Um show em praça pública, em um cartão postal de Curitiba, com público estimado em 30.000 pessoas, tocando as nossas músicas autorais. Foi incrível! Podemos dizer seguramente que esse show inaugurou uma nova fase da Mag. Estávamos prontos para abrir um show do Titãs e tínhamos planos grandes para depois disso, mas a pandemia acabou os adiando.

A Dona Mag soltou recentemente um vídeo de uma versão acústica de “Do Sujo Ao Correto”. Onde foi gravado? Pretendem lançar outras versões desplugadas de músicas da banda?

Esse vídeo foi gravado no MagStudio, nosso estúdio. Esse vídeo saiu de uma maneira bem despretensiosa. A ideia era fazer apenas um vídeo para colocarmos nas redes sociais, mas ficamos muito felizes pela repercussão positiva. Por ter vivido a minha adolescência na década de 90 é impossível esquecermos os Acústicos MTV, onde as bandas mostraram que era possível fazer versões acústicas de suas músicas “plugadas”. Temos planos de fazer um álbum com versões acústicas das nossas músicas, mas no momento estamos focados no lançamento de músicas novas.

A banda pretende lançar algum single ou disco novo em 2021?

Sim. Já temos algumas músicas gravadas que estão prontas para lançamento. Nossa ideia é lançar um EP por mês ao longo de 2021. Já temos 2 produzidos e estamos trabalhando firme em mais músicas. Ter o nosso estúdio próprio facilita muito esse trabalho [risos].

Como é a cena do Rock and Roll em Curitiba atualmente? Há bastantes bandas e locais legais para shows?

Existem alguns estudos que “elegeram” Curitiba como a capital do rock. Atualmente, fazer rock no Brasil é realmente para quem ama o rock. Em Curitiba temos muitas bandas de rock excelentes, tanto covers como autorais. Claro que a cena de som autoral sempre é mais carente de público, mas isso acontece em todo o país. Curitiba possui uma estrutura de ponta para shows. Não só nas casas de show, como também em bares e pubs.

Deixem uma mensagem aos leitores.

Primeiramente nós agradecemos o espaço que vocês abriram para nós. Isso é muito importante para nós. A você, leitor, que chegou até aqui, só temos a lhe agradecer. Vocês são especiais para nós. Os clássicos do rock são inesquecíveis e tem um lugar especial para todos nós, mas para o rock continuar pulsando, é fundamental que novas bandas tenham destaque. Então valorizem o som autoral. Para nós, bandas autorais, isso é fundamental. Mag’n Roll!

O jornalista Clovis Roman trabalha há mais de duas décadas na área cultural, na cobertura de shows, entrevistas e resenhas de discos, e atua como assessor de imprensa. Clovis é colecionador de CDs e em sua mesa na redação do Acesso Music sempre há uma caneca de café morno. ;)