Antes que “estamos em Mimimiland agora!” pegue o leitor de supetão, o assunto de hoje não é sobre politicamente correto, mas delinear o que deveria ser óbvio.




“Banda”, segundo o dicionário Michaelis, é um substantivo feminino. No entanto, toda vez que pensamos nessa palavra, não associamos diretamente a um coletivo de mulheres fazendo música. Especialmente, no meio underground, o imaginário traz automaticamente uns cinco sujeitos barbudos, com cara de mau, vestidos de couro, correntes e coturnos, gritando até estourarem as cordas vocais. Ou, tratando-se do hardcore, bermuda, boné e um par de Vans nos pés. Isso faz lembrar a entrevista da Andréia Dip, da Charlotte Matou Um Cara, onde ela dizia que quando os caras percebiam que o som delas era bom, eles falavam “nossa, vocês tocam mesmo”.

E por quê não “tocariam mesmo”? Temos esse estigma com as mulheres na música não apenas a nível Brasil, mas mundialmente falando, por mais que tantas tenham revolucionado essa indústria. Quase não vemos mulheres em bandas de rock em geral nos principais line-ups por aí. Mas isso não quer dizer, definitivamente, que elas não estejam fazendo (e muito) barulho em shows infinitamente menores. É um erro pensar que uma banda com mulheres na formação não seja tão boa ou melhor que uma banda com homens, mas em um mundo cada vez mais fechando-se em uma bolha ao redor do “cidadão de bem e família tradicional”, a visão de que a música não é lugar de mulher continua enraizada socialmente.

Bandas são bandas. São pessoas fazendo arte. Será que ao colocarmos “femininas” ao designar bandas com mulheres não estamos apenas minimizando (ao invés de ressaltando) a importância delas no cenário underground, fazendo com que haja festivais, eventos, grupos e público específico para esse que não deveria ser um “nicho” – se elas fazem hardcore, metal, punk rock tanto quanto qualquer homem?

Todos passam por dificuldades quando trata-se de ter banda. Isso independe da designação de gênero do músico. Entretanto, além de tudo o que normalmente deveria-se ter que passar, mulheres (e LGBTs também) ainda precisam enfrentar questões que vão muito além da música: a mentalidade ultrapassada da maioria das pessoas.

A pergunta que fica é: o que podemos fazer para abrir espaço na cena para essas bandas? 

Primeiro, é importante conhecer as bandas. Ouça as músicas, inclua as bandas com integrantes mulheres na sua playlist, no seu repertório, nos seus festivais. E o mais importante de tudo, abra a sua mente  reveja seus conceitos, incluindo vocabulário. É normal que se verbalize aquilo que passamos a vida inteira repetindo, mas já estamos grandes o suficiente para repensarmos nossos hábitos, especialmente se eles diminuem outras pessoas em alguma instância.

Mulheres (e LGBTs) na cena não precisam (e não querem) ser o “underground do underground”.