Se existe uma característica que realmente difere o fã de Rock e Metal dos demais estilos, é o ávido consumo pela boa e velha mídia física. São pouquíssimos os casos (que pelo menos eu conheço), cujo individuo se apaixona por determinada banda e não sai correndo internet a fora, ou até mesmo pela cidade em que mora, buscando uma loja que possa ter o CD do álbum que o tanto fascina.

Apesar das grandes gravadoras terem simplesmente debandado do Brasil, ainda temos os heróis dos selos independentes que além de proporcionarem a difusão de novas bandas, ainda trazem de volta ao mercado títulos a muito quistos pelo público e até então, totalmente fora de catálogo. Fato este, que na maioria das vezes, nos livra das clássicas facadas de vendedores em sites como o Mercado Livre, que vendem CDS a preços exorbitantes, só pelo fato de pertencerem a uma primeira tiragem lançada há décadas atrás (o mercado de lps então, nem se fala). Outra vantagem dos relançamentos é a qualidade e o capricho se comparado às primeiras tiragens, em edições fantásticas para todos os gostos, como o Slipcase, Digipack, Papersleeve, entre outros. E para atrair ainda mais a atenção do público, essas novas tiragens, ainda vem com material adicional, seja ele um encarte mais encorpado, pôsteres e faixa bônus. Não é a toa que existem colecionadores que possuem mais de uma versão de um mesmo álbum na prateleira.

E um destes selos que já se destaca há cinco anos no mercado nacional, sem sombra de dúvidas é a Extreme Sound Records, um verdadeiro exército de um homem só liderado por Caio Ricardo. A primeira experiência que tive com a Extreme, fora no teatro de minha cidade (sim eu e o Caio somos conterrâneos), em um dos poucos eventos musicais de qualidade promovidos no município, o Encontro de Bateristas.  Nesta edição, o evento contava com a presença de Eloy Casagrande, batera do Sepultura. Ao chegar ao local, logo vi a banca que o Caio havia montado, e depois de muito tempo sem adquirir CDs resolvi dar uma olhada no que estava à disposição. Resumindo, dessa olhadinha vieram os primeiros discos de Metal Extremo para uma coleção que até então, era composta por álbuns de bandas brasileiras clássicas dos anos 80. Entre os álbuns adquiridos estava o Scream Bloody Gore do Death, um tributo ao Euronymous do Mayhem e ainda, de brinde, um dos lançamentos mais recentes do selo, o Ignition to Apocalypse dos caldenses do Reversed.   

A partir de então, virei um cliente assíduo tendo mais tarde o primeiro disco da minha banda, o Prophecies of Plague da Sacramentia, lançado pela Extreme Sound Records em parceria com a Old Shadows Records. E, atualmente, trago essas pequenas contribuições para o site do selo, o que me proporciona conhecer novas bandas do nosso tão vasto cenário, e de quebra, conferir de perto as caprichosas novidades lançadas.

Uma das características que sempre notei estarem presentes no modus operandi do Caio, é o capricho e exigência com o material que será posto no mercado. Não é algo pensado por um engravatado de uma gravadora multinacional, mas de um fã de Metal Extremo que conhece a exigência do público alvo, se identifica com ela, e entrega ao final, materiais que todo o amante da música extrema deseja ter figurando na coleção.

E é o caso do lançamento, ou melhor, do relançamento que trago hoje a você amigo leitor, o Ageless Venomous do todo poderoso Krisiun!

Este é o quarto trabalho do selo dedicado ao trio de Ijuí, Rio Grande do Sul. O primeiro relançamento das obras dos irmãos Kolesne e Alex Camargo veio em 2020 com Forged In Fury, seguido por The Great Executioner (2021) e Southern Storm (2022).

Assim como os antecessores, a nova edição de Ageless Venomous, além do cheirinho de novo, traz ainda um capricho que começa engatinhar no cenário nacional, em uma luxuosa embalagem em acrílico e Slipcase (também conhecido como luva). Formato este, que enfatiza e realça o incrível trabalho gráfico, realizado neste disco pelo artista americano Joe Petagno, o mesmo por trás da criação do War Pig, icônico logo do Motörhead.

A respeito do conteúdo do trabalho, Ageless Venomous foi originalmente lançado em 2001, trazendo a mesma brutalidade que a banda aprimorava gradativamente desde os primórdios em 1994. O disco fora o segundo lançamento do trio pela Century Media, gravadora alemã que acompanha a banda até os dias de hoje.

O sucessor de Conquerors of Armageddon (2000), marcava o seguimento de um período bastante prolífero para o Krisiun. Antes de adentrar ao estúdio para gravar o novo disco, o trio ainda em 2000, lançou um split em formato K7 com a banda americana Scar Culture. Nesta fita estão presentes dois petardos presentes em Ageless Venomous, sendo eles Dawn of Flagellation, que se tornou uma grande referência para a banda, e a não menos excelente Evil Gods Havoc. Em tempos onde a internet ainda ganhava força em terras brasileiras, o K7 já revelava o título e a famigerada capa do vindouro trabalho.

Totalmente imersos e focados no novo disco, o Krisiun se trancafiou entre os meses de março e abril de 2001 no Creative Sound Studios em São Paulo. Acompanhando o trio, estava Tchelo Martins, o mesmo produtor presente no primeiro EP do grupo Umerciful Order (1994). No período que passou longe da banda, ele fora responsável por trabalhos do Dorsal Atlântica, Symbols e Funeratus.

O resultado do confinamento trouxe à vida um disco igualmente brutal aos irmãos mais velhos, porém, com uma característica específica. O som que emana de Ageless Venomous soa mais cristalino, trazendo toda a sonoridade técnica e brutal da banda nos mínimos detalhes. Além dessa extração detalhada de som, a banda usou esse tipo de mixagem como forma de não se repetir em relação aos trabalhos anteriores.

E apesar da torcida de narizes de uns, que afirmavam que o grupo havia descaracterizado, e pasmem, desacelerado sua sonoridade, a quarta pedrada do Krisiun trouxe 10 novas faixas tão brutais e técnicas como as já conhecidas do público. Destaque para Eyes of Eternal Scourge, Ravenous Hordes, Sepulchral Oath e as instrumentais Serpents Specters e Diableros.

Mas a recepção mista e as críticas das chamadas “mídias especializadas” em nada abalaram o trio, que segue firme e forte até os dias atuais, tendo lançado recentemente o igualmente poderoso Mortem Solis.

Comemorando 22 anos de lançamento, a nova versão de Ageless Venomous não é feita apenas de visual. Fora as dez faixas já conhecidas, o relançamento da Extreme Sound Records ainda conta com sete faixas extras, sendo duas versões ao vivo para Dawn of Flagellation e Ageless Venomous. Human Dissection é uma versão do Krisiun para a faixa dos nova-iorquinos do Demolition Hammer. Já a sequência Hateful Nature, Visions Beyond, Voodoo e Outro/MMIV são uma pequena amostra do que viria a ser o álbum/compilação Bloodshed em 2005.

Em suma meus amigos, essa nova versão deste grande disco do Krisiun marca o  41° lançamento do selo Extreme Sound Records. Um trabalho que se à época lhe passou batido ou se ainda não lhe era conhecido, vale e muito a pena de ser conferido. Você pode adquiri-lo junto a mais de 1500 títulos disponíveis clicando aqui!

Enjoy!

Tracklist

1-Perpetuation
2-Dawn of Flagellation
3-Ageless Venomous
4-Evil Gods Havoc
5- Eyes of Eternal Scourge
6-Saviours Blood
7- Serpents Specters
8-Ravenous Hordes
9-Diableros
10-Sepulchral Oath

Bônus Tracks
11-Dawn of Flagellation (live)
12-Angeless Venomous (live)
13-Human Dissection
14-Hateful Nature
15-Visions Beyond
16-Voodoo
17-Outro/MMIV

 

Nascido no interior de São Paulo, jornalista e antigo vocalista da Sacramentia. Autor do livro O Teatro Mágico - O Tudo É Uma Coisa Só. Fanático por biografias,colecionismo e Palmeiras.