Me recuso a novamente apresentar o Manger Cadavre?, acredito que seja tecnicamente impossível qualquer pessoa que esteja o mínimo que seja ligado no cenário nacional que não conheça uma das bandas mais representativas do nosso Metal.

Quando decidi por dar uma pausa de ouvir materiais do mainstream e focar um pouco nas bandas que “sabiam quem eu era“, foi quando tive contato com o Manger. Conheci a banda sobre um perrengue que a mesma teve vindo tocar nas redondezas de Santa Catarina e que mesmo com o produtor tendo problemas a banda executou o show como estava programado e o perrengue foi grande, viu?

Essa síndrome de viralatismo brasileiro tem que acabar, o nosso Metal não deve nada ao gringo, pelo contrário, temos bandas por aqui que estão acima de muita coisa apresentada na Europa, por exemplo. Bandas como Desalmado, Nervosa, Crypta, Eskrota Krisiun, Project46, Ego Kill Talent, Vazio, NervoChaos, Korzus e o próprio Manger Cadavre? são exemplos cruciais disto que estou afirmando.

Decomposição não seria diferente, já pelo seu nome nos dá um um sinal de que o disco seria brutal e o dedo na ferida estaria presente. Com o lançamento do videoclipe de Apatia, single que está presente no disco, sentimos o que estaria por vir, na própria entrevista recente em que a vocalista Nata nos concedeu, ela afirmava que o som da Manger havia pequenas mudanças, mas ainda era bem característico da Manger. Ainda nessa mesma entrevista, a Nata falou que Apatia é um estágio acima da melancolia, quando você se sente vazio de emoções e foi isso que ela quis transparecer na letra e adiantava que o disco era inspirado na pandemia.

Realmente as músicas são mais arrastadas do que qualquer outro trabalho da banda, mas sinto mais peso, em virtude também por terem baixado o tom de suas músicas como anunciaram. Mesmo não enxergando-a gravando as músicas, sinto que os vocais foram gravados pela Nata com um certo sangue nos olhos, uma mistura de melancolia e ódio. Para quem ainda desconhece, Manger Cadavre? é uma das bandas mais politizadas do nosso Metal Nacional e obviamente que como ninguém está contente (não é possível que esteja) com o atual desgoverno, boa parte do disco fala sobre isso e outra metade sobre sentimentos, portanto, as músicas mais direcionadas tem uma pitada de sentimentalismo de protesto e insatisfação como em músicas como: Miseráveis, Tragédias Previstas e Cemitério do Mundo, as que mais eu senti isto que estou falando.

Quero também destacar a importância da faixa Demônios do Terceiro Mundo, que conta com a participação ilustre de dois vocalistas de duas bandas que citei logo acima, Fernanda Lira do Crypta e Caio Augusttus do Desalmado. Além das participações em si que já é algo surreal e de certa forma, demonstra a verdadeira união entre bandas do nosso cenário desmitificando os discursos que não existe união no cenário, a letra apesar de curta tem uma importância surreal. “Incompetência, Fundamentalismo, Negacionismo, Genocídio / Funerais Proibidos, Caixões Lacrados, Vida Interrompida” são alguns dos trechos marcantes da faixa, sentando a madeira no descaso desgovernamental durante a pandemia e suas piadas infames sobre tudo o que acontecia, sem falar que, em algumas partes da música aparece trechos de entrevistas de Messias, bostejando como sempre, né?

O que mais me encanta no modo que a banda compõem, é como conseguem serem cirúrgicos, tanto nas letras como no instrumental. Vemos bandas até na gringa que trazem uma letra gigante e mesmo assim, zero conteúdo. Enquanto a Manger Cadavre? consegue se expressar em poucos parágrafos e com uma sintonia absurda entre instrumental e letra, casamento praticamente perfeito. A sintonia entre os músicos é constantemente perceptível de acordo com o que o trabalho vai sendo ouvido e a cada play, é notório algum detalhe de diferente. Como não amar uma banda deste calibre, ainda mais sendo nacional? Impossível.

Deixando um pouco de lado as músicas, precisamos falar da arte da capa. o artista em questão é Wendell Araújo (https://www.instagram.com/wendellnarkedmi). Os detalhes presentes na capa são surreais, cada vez que você para e olha novamente, percebe um detalhe novo e diferente, o trabalho apresentado é impecável. Porém, não para por aí. O encarregado de executar o encarte do disco com todas as letras, fotos e tudo mais, foi um outro artista sensacional, Alcides Burn da ‘Burn Artworks’ (https://www.instagram.com/alcidesburn) foi quem deu vida ao excelente encarte do segundo disco full-lenght da Manger Cadavre? e no fim, apenas constatamos que grandes artistas se interligam.

Para adquirir o disco físico, basta entrar em contato:
@xaninhodiscos | http://xaninho.iluria.com
@poeiramaldita | https://www.poeiramaldita.com
@helenadiscos | http://helenadiscos.iluria.com
@bradodistro | https://www.bradodistro.com.br
@tbontbrecords | https://www.twobeers.com.br
@tiranossaurarecs | https://instagram.com/tiranossaurarecs

FORMAÇÃO
Nata Nachthexen – vocais
Paulo Alexandre – guitarra
Bruno Henrique – baixo
Marcelo Kruszynski – bateria

TRACKLIST
01) Epílogo
02) A Raiva Muda o Mundo
03) Em Memória
04) Vida, Tempo e Morte
05) Apatia
06) Miseráveis
07) Neocolonialismo
08) Tragédias Previstas
09) Profetas da Submissão
10) Demônios do Terceiro Mundo
11) Cemitério do Mundo

FICHA TÉCNICA
Gravado no Family Mob Studio – São Paulo/SP
Gravado e produzido por Otavio Rossato
Assistente de Gravação: Luiz Sangiorgio
Mixagem: Otavio Rossatto
Masterização: David Menezes
Capa: Wendell Araújo
Encarte: Alcides Burn
Distribuição Streaming: Blood Blast Distribution

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.