Recentemente em nossas redes, criticamos algumas ‘bandas’ (se é que podem ser chamadas assim), pelas suas posturas e a maneira como ganham fama na internet, não sendo necessariamente pela sua qualidade musical, tampouco as vezes pelos seus esforços.

Bom, quando lançamos uma ideia mais áspera sobre situações assim, um dos motivos é a CRAS. Banda formada em 2019 que traz um trabalho impecável, não sendo por menos que vem tocando pelo Brasil inteiro junto de grandes bandas do nosso cenário, como Torture Squad, Manger Cadavre? e afins.

CRAS é uma banda de Sludge Metal que adiciona pitadas do Hardcore. Mesmo que sua formação tenha sido em 2019, foi em 2021 que começou a despontar com o lançamentos dos singles Marks e Overloaded, que foram as músicas que alavancaram o nome da banda e o colocou de vez no cenário como uma banda revelação e para todos ficarem de olho.

Quando alguma banda lança um material interessante, vale a pena acompanhar e algumas até ficam pelo caminho, mas o CRAS conseguiu a receita ideal para continuar e a cada lançamento, entravam cada vez mais na cabeça e no coração do verdadeiro amante da música pesada, trazendo letras impactantes e material de altíssima qualidade, como por exemplo um dos meus favoritos que é o videoclipe de Valleys of Concrete, que foi um meteoro quando lançado recebendo notas positiva da imprensa e opiniões de grandes músicos.

No final de 2022, a CRAS lançou Desperato que é o motivo de estarmos aqui nessa matéria, falando um pouco mais profundamente sobre a banda e seu enfim EP de estreia, que adianto que deixa muito full-lenght no bolso. Há tempos venho deixando claro no meus textos que banda do nosso cenário não deixa nada a desejar perto do som gringo e visceralmente a CRAS apresenta um EP com faixas que já conhecíamos, com uma remodelação, peso, groove e com mensagens sombrias que são necessárias no dia a dia.

Muito se fala que a geração de hoje é ‘mimizenta’, mas levanto a questão de que pode ser a geração mais corajosa de todas, pelo fato de conseguir explanar tudo o que lhe faz mal e eu acredito fielmente que a pessoa mais corajosa não é aquela que enfrenta calada e sim aquela que pede ajuda para sair do seu pior momento, por isso trabalhos sombrios e hipnotizantes como da CRAS são extremamente necessário.

Nos vocais temos a Marili, com suas vozes pesadas e em alguns momentos técnicos a ponto de deixar quem a ouve em êxtase. O groove traz um espetáculo a parte junto à obra e consegue alavancar dosagens de satisfação aos ouvidos mais exigentes, pois casa perfeitamente com a afinação baixa dos instrumentos trazendo uma atmosfera assombrosa com resquícios de desafogo pessoal.

Os riffs bem construídos e encaixados com os vocais, trazem a definição de harmonia musical na sua melhor essência, com uma bateria metodicamente construída em volta do trabalho em conjunto das músicas. Bom, sempre acreditei que o trabalho de estreia é como literalmente um cartão de visitas, onde a primeira impressão é o que define os próximos passados da banda e até o momento não tem como definir o futuro da CRAS a não ser que será de fato, promissor.

Desperato também traz a participação de May Puertas do Torture Squad na faixa Beta, sendo uma das maiores incentivadoras da banda, pois é professora de canto da Marili e acompanhou a banda estendendo a mão sendo inclusive produtora de alguns dos trabalhos. Quando alguns falam que no sertanejo uns músicos ajudam os outros e no Metal é cada um por si, talvez esteja no ciclo de amizades errado.

Em uma conclusão expressiva e objetiva. Ouço Desperato em um dos momentos que mais necessito de algumas mensagens e isso que me fez gostar do Rock/Metal desde sempre, pois abordar assuntos mais pesados internos do ser humano e seu lado sombrio, é estender a mão a quem precisa. Querendo ou não, somos aquilo que ouvimos muitas vezes e isso comprova mais uma vez o quanto a música tem um poder de conectividade com as pessoas e não é apenas ‘barulho’.

TRACKLIST
01) Valleys of Concret
02) Marks
03) Overloaded
04) The Price of Consent
05) Beta part. May Puertas

FORMAÇÃO
Marili – vocais
Lucas França – guitarra
Hérculos Breno – baixo
Cris Cezar – bateria

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.