Apesar do nome, o Death Metal continua mais vivo do que nunca em terras brasileiras. E a banda que me deparo nesta minha caminhada no underground nacional, é a dos caras do Trator BR.

Formado em 2002 em Bauru, São Paulo, pelos guitarristas Amil Mauad e Ricardo Razuk, o Trator Br teve início com a junção de duas outras bandas, sendo elas, o Spiritual e Demigod. A sonoridade do grupo traz o peso do Death Metal, porém, trazendo letras entoadas no nosso bom e velho português, o que garante um efeito hipodérmico em quem entra em contato com a obra. E por falar nela, o primeiro disco Verde, Amarelo, Azul e Preto, foi lançado no longínquo ano de 2008. Já o sucessor, Floresta Armada, chegou em 2015 rendendo um excelente videoclipe para a faixa título, produzido pelo ilustrador Sandro Nunes.

Após passar por algumas mudanças na formação, o Trator BR atualmente conta, além da dupla de guitarristas fundadores, com Leonardo Chagas nos vocais e contrabaixo e Rafael “Verme” Graziani na bateria. A temática lírica da banda aborda temáticas bélicas, fictícias e ambientalistas.

Eis que no início de agosto de 2022, recebo em mãos pela Extreme Sound Records, Expiral de Extinções, terceiro disco que traz uma proposta apocalíptica e nuclear, prenunciando um futuro não muito distante da nossa atual realidade.

Abrindo o disco de forma quase cinematográfica, Metrancarcaça é rápida e visceral trazendo uma letra que me remeteu a uma espécie de soldado zumbi proferindo seu objetivo em um mundo já condenado à extinção iminente.

Na sequência, somos arrebatados pelos riffs martelantes de Espiral de Extinções. A faixa que dá título ao trabalho coloca o ser humano como a principal praga que se propaga pelo mundo, deixando um rastro de destruição e loucura por onde quer que passe. A música possuí mudanças de andamento distintas, que em questão de segundos, fazem o pescoço se mexer inconscientemente, trazendo pitadas de Thrash Metal em meio ao Death Metal.

Bomba Atômica Brasileira se inicia com uma pegada marcial que é rapidamente convertida em um riff estridente e voraz, que destila sem pena as habilidades de Amil e Razuk. Entre passagens com uma pegada mais “mordida”, a letra traz a crítica ao uso de energia nuclear no país, capitaneado pelas usinas de Angra dos Reis, Rio Janeiro. Ao mesmo tempo, a faixa carrega certo teor de ironia, como se em partes também funcionasse como uma celebração pelo fato de a arma mais letal do mundo agora ser de origem brasileira (coisa que não duvido ser absurda, tendo em vista a mentalidade de certa parcela “patriótica” de nossa atual nação).

Todo o caos e destruição proporcionados pelo acionamento das letais armas nucleares são jogados sem cerimônia através da letra e da pegada marcante em Explosão. A imersão fica ainda maior com a climatização árabe que assola a faixa, trazendo ao ouvinte, toda uma sensação de desolação e clima desértico.

Tirando-nos deste rápido momento contemplativo, Cordão Umbilical Rasgado apresenta uma pegada mais cadenciada, descambando em um Death Metal tradicionalíssimo nos moldes do Cannibal Corpse. Musicão!

Dando continuidade à temática da música anterior, que retrata um parto em meio a um apocalipse nuclear, Desenvolvimento ainda carrega a veia “cannibaliana,” agora acompanhando os primeiros passos dessa cria expelida em um mundo altamente radioativo. Destaque aqui para os estridentes momentos guitarrítiscos, que literalmente, castigam os ouvidos do ouvinte mais desavisado.

Enroscados  é a faixa mais curta do trabalho, funcionando como uma espécie de transição para a segunda parte do trabalho.

Apesar de se contextualizar como mais um dos inúmeros efeitos do caos causado pela destruição que assola a temática de Espiral de Extinções, qualquer semelhança com o nosso cotidiano presente nos versos de Trânsito Infernal, não seria mera coincidência.

Soldados de Gaia é um grito de resistência pelo nosso meio ambiente, enquanto Suga Sanguessuga é um verdadeiro dedo na cara das grandes corporações que exploram e devoram nossa fauna e a flora.

A sonoridade de Gene da Maldade é caótica, e possui momentos de frenesi que empolgam e trazem certa grandiosidade ao chegar ao refrão.  Em seguida, O Retorno do Comando completa a trinca das faixas mais diretas do trabalho.

Dimensão Oposta encerra o disco com uma pegada que alterna entre um ritmo mais cadenciado e passagens mais aceleradas.  Destaque para o impactante, e por que não reflexivo verso: “ O futuro é o passado doente”. Ao final, a mesma aura de ficção científica presente na abertura do disco retorna, ecoando por entre os segundos derradeiros da audição…

Lançado oficialmente em 28 de julho, Expirais de Extinções recebeu versão física em CD pela junção dos selos Extreme Sound Records, Heavy Metal Rock , Metal Under Store e Underground Brasil Distro.

As gravações do disco ocorreram de forma mista, sendo parte realizada no estúdio Arranha Sound em São Paulo, e no Estúdio Chagas em Florianópolis, Santa Catarina, cidade onde a banda atualmente reside. As incríveis artes gráficas do encarte trazem novamente a colaboração de Sandro Nunes, apresentando uma mistura de ficção científica, culturas distintas e horror medieval (vale ressaltar o incrível pôster formado quando se abre o encarte, que faz com que nos percamos por horas a fio se atentando em cada detalhe presente na  ilustração.)

Em suma meus amigos, o terceiro petardo do Trator BR é visceral, ideal para uma jogatina frenética de grandes clássicos dos jogos de tiro, como Doom, Quake e afins. Dilacerar cada inimigo, será uma tarefa ainda mais satisfatória tendo como backing track o som da banda, que exprime o melhor que os integrantes têm a oferecer, assim como é pontual com o compromisso de disseminar um som extremo, que sem cerimônias, arrebata o ouvinte da primeira até a última faixa. Sem sombra de dúvidas, um dos destaques deste ano para o nosso Death Metal tupiniquim.

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    Track list

  1. Metrancarcaça
  2. Espiral de Extinções
  3. Bomba Atômica Brasileira
  4. Explosão – O Dia Seguinte
  5. Cordão Umbilical Rasgado
  6. Desenvolvimento
  7. Enroscados
  8. Trânsito Infernal
  9. Soldado de Gaia
  10. Suga Sanguessuga
  11. Gene da Maldade
  12. O Retorno do Comando
  13. Dimensão Oposta

Nascido no interior de São Paulo, jornalista e antigo vocalista da Sacramentia. Autor do livro O Teatro Mágico - O Tudo É Uma Coisa Só. Fanático por biografias,colecionismo e Palmeiras.