Acabo de receber o matéria da banda carioca Khorium, advindos precisamente de Volta Redonda, estou curiosíssimo para apreciar.

Como sempre faço, analisei a capa antes de apreciar o áudio. Desta vez uma arte simplista em um primeiro contato, porém detalhadíssima ao olhar mais atento. Ela é branca e centralizada, sem bordas, mas com muita mensagem no foco principal.

O que esperar do disco?

Muita política em um som agressivo. Sim, ponto final, a mensagem é clara.

O disco começa com Monopólio da Violência, uma introdução com discurso com bastante chiado que me deixou preocupado, porém, na sequência entra a banda com uma qualidade muito acima do esperado por conta dos chiados iniciais. Produção impecável, pesada, agressiva, tudo no seu devido lugar e soando muito macio.

A Miséria Útil de Cada Dia começa com bateria e o restante da banda entra como um soco no peito num riff pedrada do jeito que a gente gosta!

O som em português tem seus desafios particulares e eu já mencionei isso aqui em resenhas. Encaixe de letra em métrica, rima, sotaque, concordância, etc. O que tenho a dizer por enquanto é apenas parabéns aos envolvidos, está monstro!

Garrafa, Pano, Diesel , Gasolina me faz elogiar o bom gosto para os timbres, especialmente as guitarras. O riff te abraça pelos ouvidos num peso e definição que agrada muito. A voz tem versatilidade, outro ponto cruel para fazer soar bem português. Mais um ponto para a banda!

Feridas de Hesitação começa com bipes de monitor cardíaco ou algo que o valha e a música entra na sequência. Muito interessante o desenrolar. Destaque para o baixo que ganha mais espaço neste som. Pegada um pouco mais lenta aqui, cadência para quebrar pescoço.

Seguimos com Imunidade Tributária, pegada mais Punk no riff, uma atmosfera um pouco diferente do que rolou até aqui. Estou curtindo a ordem das músicas, dá a sensação de disco conceitual, um bom passeio musical.

Indignação Seletiva tem outra pegada. Muito mais groove e bem mais próximo do Rap do que do Metal. Mistura sensacional de estilos e temperos. Pela primeira vez senti a produção um pouco mais crua, a bateria parece sem dinâmica pelas sessões da música porém, nada que desonere o álbum.

Chegando à metade do disco, Sentindo Saudade do Céu, começa com a promessa de ser uma balada. Bpms mais lentos, temos até um teclado na intro, o que achei fantástico pois até então não havia notado a presença de teclas. Da promessa de balada para um riff pesado e assim temos o interlúdio instrumental do disco.

Alma Sebosa novamente tem intro com discurso e a sensação é de fato de segunda parte do play. O som me lembrou mais Metal do que Punk novamente e eu estou adorando essa transição e mistura de estilos. O cruel seria fazer isso sem qualidade, aqui estamos lidando com material de alto nível.

Vida Maria (Pts 1 & 2) já me ganhou no solo de viola caipira na introdução. UItilizar instrumentos diferentes me chama muito a atenção. Seguimos com o peso junto com triângulo e viola caipira, maracapeso, forró do inferno, arrasta pé da Noruega, como quiser chamar, o negócio ficou muito bom!

Ao Alcance do Tempo começa com tic tac de relógio e violão, depois violino e mostra que quando eu achei que não seria possível ter mais surpresas, a surpresa vem! Terceira faixa instrumental do play, tem uns detalhezinhos de som sumindo do nada, mas continua sendo um som incrivelmente bom.

Al Sur de La Frontera começa com uma batida meio Pop, light, temos mais discursos e guitarras bem colocadas. O som é simples, mas cheio de pegada.

Chegamos ao fim com Na Outra Margem do Rio, e o som começa com um riff também um pouco mais Pop e, quando eu menciono o Pop não quero dizer de forma alguma que é ruim, apenas é um riff ou batida menos denso e com digestão mais fácil. A pegada desse som é até mais nu metal, totalmente diferente do restante do disco.

Minhas considerações são bem claras ao longo da audição. Eu enxerguei ínfimos detalhes a serem corrigidos de produção como por exemplo: Alguns timings, cortes abruptos, dinâmicas. Mas os pontos positivos superam infinitamente qualquer detalhe que eu poderia mencionar.

O tema lírico obviamente político desde o início realmente não é o meu favorito por pura convicção artística particular, mas foi abordado aqui com maestria, conhecimento de causa e tenacidade.

Pontos fortíssimos: Variedade de estilos, timbres, ideias muito bem aplicadas, músicas coerentes e cheias de técnica.

O disco tem 12 faixas e as composições são curtas e objetivas. Gosto!

Altamente recomendado e inserido na minha playlist pessoal!

Tracklist
01 – Monopólio da Violência
02 – A Miséria Útil de Cada Dia
03 – Garrafa, Pano, Diesel, Gasolina
04 – Feridas de Hesitação
05 – Indignação Seletiva
06 – Imunidade Tributária
07- Sentindo Saudade do Céu
08 – Alma Sebosa
09 – Vida Maria (Pts 1 & 2)
10 – Ao Alcance do Tempo
11 – Al Sur de La Frontera
12 – Na Outra Margem do Rio

Tecladista desde cedo, produtor musical, atua exclusivamente na área musical com bandas, aulas e estúdio.