Poucas horas após chegar do Insano Brutal Fest, já era hora que colocar outro evento na cabeça: o Metal Sunday, no Drakos em Imbituba. Colocando a preguiça de lado, era hora de prestigiar propostas mais amenas, mas não de menos qualidade, muito pelo contrário. O cast para o evento dominical contava com dois retornos: da conterrânea da casa Chicospell e da lagunense Molitium (antiga Diemordinate). Além deles, a “nova-fazendense” (oficialmente de Laguna também) Dark New Farm encarava o desafio de fazer um novo show horas após a apresentação na madrugada que acabara de passar, mas isso faz parte de vida de banda mesmo.




Diferente da noite anterior, aqui não tinha muito mistério nem dúvidas quanto à casa ou organização. O Drakos é um ótimo ambiente que sabe receber bem seus convidados, e dessa vez não foi contrário. Assim que chegamos, já estava tudo OK para a primeira banda subir ao palco, e essa tarefa coube a Dark New Farm. Como dito na cobertura do Insano Brutal Fest, a banda tinha dado vaciladas em sua apresentação encerrando o evento em Tubarão, mas depois de algumas conversas e conselhos ouvidos após o show, a banda não se deixou abalar e fez uma tremenda apresentação em sua casa, por assim podemos dizer, já que foi ali que tudo começou para esse grupo. Com covers coesos e suas músicas autorais mais afiadas, a impressão que tive foi que o I.B.F. serviu de teste de fogo pra banda em relação à suas novas implementações no repertório. A banda se mostrou muito mais confortável e solta em palco, e soube fazer um show pesado e intenso com seu set apresentado. Destaque para o cover de “Brasil” da Alkanza e para a música autoral “Rakel”, que foi nitidamente alterada “da noite pro dia” -literalmente, e ficou muito melhor. Aguardem por essa música, desde já vislumbro o impacto que ela pode causar.

Após a convincente apresentação do quarteto de New Metal, era vez de mergulharmos no Stoner. A Chicospell subia ao palco novamente após longos quatro anos separados. Logo no começo, uma profunda e bela homenagem: a banda não iria tocar seu repertório autoral no início, pois preferiram homenagear um falecido amigo dos músicos da banda, que inclusive teve um projeto (Hall of Sinners) ao lado do baixista e baterista da Chicospell. Assim sendo, tocaram três músicas de autoria de Marcel Willou e foram três músicas que arrepiaram pela qualidade e pela execução. Prestada a devida homenagem, a banda imbitubense seguiu o baile com suas composições próprias, e mostraram ter calibre para fazer um show praticamente inteiro de autorais sem comprometer em nada, pois sabem bem o que querem apresentar e fazem isso com maestria. Muito trabalho instrumental bem apresentado, melodias bem marcadas e um impressionante vocal. Banda que sabe o que tem em mãos e que pode dar mais passos a frente.

Não desmerecendo as outras bandas, que foram muito bem em suas apresentações e mostraram a o que vieram, mas a banda que eu estava esperando muito pra ver era a Molitium. A versão 2.0 da Diemordinate subia ao palco pela primeira vez e pude notar duas coisas: o som dos caras é arrebatador ao vivo, principalmente por ver que grande parte dos presentes estavam na mesma vibe que eu, totalmente extasiados por poderem conferir o álbum Progeny executado ao vivo, na íntegra. Mas, em contra-partida, a banda sentiu o peso de longos meses sem saberem o que é uma apresentação ao vivo, e somado fato de ser uma formação nova, não pudemos ver a banda totalmente à vontade e conectada com o público, que estava pronto para ser dominado pelo grupo.
Ao mesmo tempo que foi uma apresentação indiscutivelmente satisfatória em termos técnicos, o que comprova a qualidade musical dos músicos, ressalto que pode haver uma entrega maior para os próximos shows. É uma banda que já tem uma sólida base de fãs e pode aproveitar muito bem disso em suas apresentações. Assim como foi no Drakos, sei que nos próximos shows da Molitium haverão inúmeros presentes com todas as músicas na ponta da língua, então, sugiro mais ousadia, mais calor com o público. Deixe eles cantarem o refrão de “Helpless Fate” após o solo, chame pra cantar junto o coro de “We’re Not Victims”, abusem do fato de serem musicalmente impecáveis e de terem fãs que sabem disso, eles esperam que vocês se conectem com eles assim como eles já estão conectados com as músicas de Progeny.

De toda forma, foi realmente lindo ver músicas que criei um forte apreço a anos atrás e outras que adorei desde a primeira audição esse ano sendo executadas de forma irredutível ao vivo. Não houve uma faixa que não tenha funcionado ao vivo, todas foram entoadas pelos presentes e tiveram um retorno que nem eu mesmo imaginava que teria. A Molitium alcançou um novo patamar e deve explorar isso após o lançamento comercial oficial de seu debut, emplacando uma turnê bem recheada e conquistando novas legiões de fãs, já que com essa qualidade sonora não deve ser difícil.

Assim sendo, encerrei minha jornada de um longo e inesquecível final de semana. Acompanhei a maturidade e comprometimento da Dark New Farm, que provou uma resiliência admirável. Conheci o sólido e honesto trabalho da Chicospell, que conta com músicos apaixonados e que ganham minha torcida para colocarem mais shows em seu calendário daqui pra frente. Vislumbrei uma das melhores bandas que conheço mostrarem que estão apenas começando, e que a Molitium já está em um alto nível, mas que sempre há o que aprimorar para chegar ao pleno êxito.


Onde há espaço para escrever, tenha certeza que irei deixar minhas palavras. Foi assim que me tornei letrista, escritor e roteirista, ainda transformando minha paixão por música em uma atividade para a vida. Nos palcos, sou baixista da Dark New Farm, e fora deles, redator graduado em Publicidade e Propaganda para o que surgir pela frente.