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Entrevista: Lesoir (Maastricht/NL)

Lesoir é uma banda holandesa que vem conquistando espaço no cenário do Rock Progressivo com sua sonoridade sofisticada e atmosferas envolventes. Formado em 2009 na cidade de Maastricht na Holanda, o grupo combina o experimentalismo do prog com melodias acessíveis e letras que exploram temas humanos e sociais. Ao longo dos anos, Lesoir consolidou sua presença internacional, realizando turnês pela Europa e Ásia e colaborando com grandes nomes do gênero, como Riverside e The Pineapple Thief. Seu mais recente álbum, Push Back The Horizon, aprofunda sua identidade musical, equilibrando emoção, grandiosidade e uma mensagem de reflexão sobre a vida e as relações humanas.

Tivemos a oportunidade de entrevistar a banda para falar sobre sua trajetória, processos criativos e o impacto de Push Back The Horizon. Confira a entrevista completa abaixo!

Foto: Harry Heuts

 

Para nós, do O SubSolo, é um prazer entrevistar uma banda que realmente apreciamos. Agradecemos pelo seu tempo e também ao nosso amigo Erick Tedesco por fazer essa conexão para que pudéssemos conversar com vocês. Para começar, gostaria de perguntar: qual é a visão do Lesoir sobre o propósito musical ao longo de sua carreira e como a banda equilibra o experimentalismo do rock progressivo com melodias acessíveis e temas socialmente engajados em seu trabalho?

Lesoir: Como Lesoir, nosso propósito musical sempre foi criar um espaço onde pudéssemos expressar emoções cruas, explorar as profundezas da experiência humana e nos conectar com nosso público de maneira profundamente pessoal. Desde o início, buscamos mesclar o espírito de experimentação inerente ao rock progressivo com melodias e temas que ressoam universalmente.

Equilibrar esses elementos está no cerne do que fazemos. Adoramos ultrapassar limites e assumir riscos criativos—seja através de assinaturas rítmicas incomuns, mudanças dinâmicas ou camadas instrumentais complexas—mas também temos a preocupação de criar melodias que fiquem na memória das pessoas, tornando a complexidade mais acessível do que intimidadora.

O engajamento social é outra camada importante da nossa música. Através de nossas letras e narrativas, buscamos provocar reflexões, inspirar e, às vezes, até desafiar o ouvinte. Em nosso último álbum, Push Back The Horizon, focamos em temas como crescimento pessoal, resiliência e interconectividade—assuntos que consideramos especialmente relevantes no mundo atual. Acreditamos que a música tem o poder de conectar e curar, e é isso que buscamos com cada canção que criamos.

Também é importante falar sobre a expansão para além da sua região. Como a parceria com a Glassville Records ajudou a elevar o álbum Mosaic nas paradas europeias e asiáticas?

Lesoir: A Glassville Records foi um recurso essencial para o lançamento mundial do nosso álbum anterior. Sempre tivemos uma forte conexão com a Ásia, em parte devido às quatro turnês que fizemos na China. Além disso, nossas várias turnês europeias com o Riverside, entre outros, ajudaram a solidificar nosso nome na cena europeia. O próximo passo é a América do Sul!

O setor das artes passou por um período desafiador com a pandemia. Qual foi a inspiração e o processo criativo por trás do lançamento de Babel em 2020, especialmente com a edição limitada em vinil?

Lesoir: Para o Lesoir, a pandemia trouxe tanto desafios quanto oportunidades. Quando o mundo desacelerou, tivemos um espaço único para refletir, criar e nos conectar com nossa música de uma forma mais profunda. Babel nasceu desse período—um tempo de incerteza, mas também de introspecção. O álbum reflete temas como comunicação, incompreensão e a necessidade de conexão, todos extremamente relevantes em um momento em que a distância física se tornou a norma.

O processo criativo de Babel foi intenso e catártico. Nos concentramos em canalizar as emoções e histórias que surgiram durante esse tempo sem precedentes. Como as oportunidades de turnê eram limitadas, queríamos criar algo especial para os fãs, e foi por isso que optamos pelo lançamento em vinil de edição limitada. O caráter tangível e nostálgico do vinil nos pareceu o meio perfeito para honrar a profundidade e a intimidade da música, oferecendo algo único que os fãs poderiam segurar, ver e ouvir de uma maneira que vai além do formato digital.

De muitas formas, Babel se tornou uma ponte—uma maneira de nos mantermos conectados ao nosso público, mesmo quando as apresentações ao vivo não eram possíveis.

O novo material está fantástico; a qualidade realmente impressiona. Quais foram os principais desafios e motivações para a banda explorar novos sons e alcançar um público mais amplo com Push Back The Horizon?

Lesoir: Musicalmente, somos atraídos por uma ampla variedade de estilos. O desafio é absorver todas essas influências e transformá-las em algo coeso, sem perder nossa identidade sonora. Fizemos um álbum progressivo (Latitude), um álbum com influências de Pink Floyd (Mosaic), um épico de mais de 20 minutos (Babel). Agora, de certa forma, estamos voltando ao essencial: a canção. O progressivo não desapareceu, mas está mais presente nos detalhes. Em termos temáticos, pode-se dizer que Push Back The Horizon trata de relacionamentos humanos e da forma como agimos em contraste com como deveríamos agir para tornar o mundo um lugar melhor.

Os fãs costumam comparar os lançamentos das bandas, e eu também faço isso com muitos artistas que gosto—é uma maneira de observar a evolução musical ou simplesmente perceber como uma banda amadureceu. Em comparação com Mosaic, quais diferenças os fãs podem notar em Push Back The Horizon em termos de estrutura e abordagem melódica?

Lesoir: Basicamente, continuamos sendo a mesma banda fazendo o que queremos, mas, ao longo dos anos, ficamos mais claros sobre nossos objetivos e direção. Deixamos de nos prender a gêneros específicos e abraçamos completamente o prog. Também evitamos atalhos para alcançar nossas metas, o que às vezes desacelerou nosso progresso, mas nos ensinou muito. Agora, somos uma banda confiante, que sabe o que quer, do que é capaz e como tirar o melhor proveito disso.

Muitos consideram Push Back The Horizon nosso álbum mais variado até agora. Embora ainda tenha a solidez e as influências progressivas dos nossos trabalhos anteriores, há um leve deslocamento, com mais músicas contendo elementos pop. Ao mesmo tempo, o caráter grandioso de Latitude ainda está presente, em parte graças à adição de cordas. Para nós, Push Back continua fiel à nossa essência: momentos pequenos são mais íntimos, momentos grandiosos são intensos e explosivos, e a dinâmica geral reflete exatamente o que buscamos.

Sobre as pessoas que trabalham com o Lesoir, percebemos uma equipe muito organizada e unida. Como foi o processo criativo e colaborativo entre Ingo Dassen e Maartje Meessen na composição e escrita das músicas do álbum?

Lesoir: Nosso processo criativo sempre seguiu a mesma estrutura. Tudo começa com um violão (acústico). O guitarrista Ingo Dassen então transforma essa ideia em uma demo instrumental completa. Quando uma coleção de demos instrumentais está pronta, elas geralmente trazem consigo uma vibração específica, o que inspira Maartje a trabalhar na parte conceitual, textual e vocal.

Sempre escrevemos com base no que sentimos no momento da criação do álbum. Isso significa que cada novo trabalho pode soar bem diferente do anterior, pois estamos sempre em fases diferentes da vida. No entanto, essa variação de sentimento não altera nosso processo criativo, que se manteve praticamente inalterado ao longo dos anos.

As mensagens são sempre importantes—compartilhar pensamentos e conscientizar através da arte é essencial. Quais temas sociais e mensagens Maartje Meessen explora em Push Back The Horizon e como esses temas refletem os valores da banda?

Lesoir: Em Push Back The Horizon, Maartje Meessen explora temas como crescimento pessoal, introspecção e a experiência humana. O álbum reflete sobre autodescoberta, resiliência e interconectividade, com faixas como Under The Stars e Fireflies abordando a efemeridade do tempo, enquanto You Are The World destaca o impacto coletivo. A faixa-título capta o impulso de superar desafios e expandir limites.

Embora o álbum não seja explicitamente político, ele reconhece questões globais e busca inspirar os ouvintes a refletirem sobre seu papel na construção do futuro. Usamos a música como um meio para provocar pensamento e incentivar a conscientização.

Queremos agradecer por terem tirado um tempo e conversado com nossa equipe. Podem deixar alguma mensagem?

Lesoir: Obrigado O SubSolo e povo brasileiro. Gostamos muito de contar a história ao redor da Lesoir e convidamos quem ainda não conhece, para que ouçam nosso trabalho e compareçam aos nossos shows.

Agradecimentos: Essa entrevista só foi possível graças a Tedesco Comunicação.

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.