“Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais” não foi Joe Strummer que escreveu ou cantou, mas essa frase tão pragmática é tão antiga e tão atual quanto um dos maiores sucessos do The Clash, Rock The Casbah.


Rock The Casbah inclui em sua letra uma mistura de termos árabes, judeus e africanos como sharif, beduíno, raga, muezzin, minarete e casbah. Apesar de peso de sua gigantesca crítica política pelo banimento do rock no Irã com a chegada do líder aiatolá Ruhollah Khomeini, seu ritmo dançante faz com que muitas pessoas não percebam o real sentido da música.

Retirado da Wikipedia:No documentário The Future Is Unwritten, um amigo de Strummer declara que ele chorou quando descobriu que a frase “rock the casbah” estava sendo escrita nas bombas que iriam explodir no Iraque durante a Guerra do Golfo em 1991. Ainda de acordo com ele, Strummer disse, enquanto chorava, “Cara, eu nunca poderia pensar que uma canção minha estaria escrita como símbolo da morte em uma maldita bomba americana”.

Essa é uma coisa mais tristes que qualquer pessoa de caráter pode ler. Uma canção de protesto feita por um turco (sim, Strummer nasceu em Ankara) tornar-se parte do genocídio que foi a Guerra do Golfo. De 25 a 50 mil mortos, mais de 70 mil pessoas feridas e uma frase tão cruel fora de seu contexto: “rock the casbah”.



São tantas frases mal interpretadas, da Guerra do Golfo até os dias de hoje que, em uma era de redes sociais e compartilhamento de informações em tempo real, acabaram abrindo caminho para pessoas da estirpe de Donald Trump e Jair Bolsonaro ocuparem postos tão importantes como os de chefes de Estado em pleno 2019.

E aí, por causa desse fanatismo louco e da urgência de um líder, para a massa tão descaradamente manobrada, esquerda torna-se direita, direita torna-se diagonal, diagonal torna-se ondular e até a Terra voltou a ser plana, como na Idade Média e até o nazismo, direita desde sua fase embrionária, foi realocado pelo novo presidente para a esquerda – por mau caratismo mesmo.

A falta de informação é tão grande quanto a capacidade de acessos a Internet por minuto: a realidade dos dias de hoje é que temos todo tipo de informação, mas não estamos engajados em descobrir a veracidade do que recebemos diariamente.  Paradoxal e absurdo, certamente: apesar da facilidade da pesquisa a um clique de distância, vivemos na era das opiniões baseadas no achismo e em títulos de notícias falsas.

Por isso, não deveríamos ouvir músicas como Rock The Casbah sem sentir seu real impacto ou saber seu real significado. Ignorância já foi uma bênção em tempos onde fake news chamavam-se “manipulação” e eram, de fato, histórias inventadas (não histórias reais abafadas da apuração de fatos).