Mesmo com toda a pegada oldschool, o The Troops of Doom é uma banda que sabe trabalhar muito bem o próprio marketing. E digo isso tanto na parte estética, de merchandising e principalmente de estratégia musical (se é que esse termo existe).

Lembro-me até hoje o quanto o EP  de estreia da banda, The Rise of Heresy (2020) me deixou ávido por mais. E fora igualmente dessa forma, com The Absence of Light (2021). A ânsia só cessou com a chegada do primeiro full, Antichrist Reborn (2022), disco que pela correria do dia a dia, acabou me fugindo de resenha-lo. Mas ao saber da chegada de um novo petardo, já o coloquei na minha lista de prioridades.

Considero o The Troops of Doom um daqueles raros casos em que a banda já nasce grande. O público abraçou tão de imediato o quarteto formado por Jairo “Tormentor” Guedz, Marcelo Vasco, Alex Kafer e Alexandre Oliveira, que de certa forma chegou a incomodar os irmãos Cavalera, que pelo menos ao meu ver, muito “convenientemente” decidiram regravar os clássicos Morbid Visions e Bestial Devastation (inclusive escrevi uma matéria na época aprofundando mais esta percepção. Clique aqui se lhe interessar).

Então sem mais delongas, adentremos ao gélido e profano universo sonoro que a incrível arte de A Mass To The Grotesque sugere.

A introdução Solve Et Coagula é cheia de climatizações cinematográficas entre gritos de horror e agonia, preparando o ouvinte de forma magistral e teatral para o que se avizinha.

Chapels of The Unholy abre o trabalho em definitivo, apresentando todo o poderio característico já tradicional do The Troops of Doom, em um misto perfeito de velocidade, riffs galopantes, caos e uma profana profecia nos vocais de Kafer. Não à toa a faixa fora a primeira amostra do novo registro.

Na sequência, Dawn of Mephisto, um quase “Pai Nosso” às avessas, apresenta uma introdução mais lenta, mas não se deixe enganar, pois logo a velocidade vem à tona. Essa será a tônica da faixa, que oscila entre passagens mais rápidas e momentos mais cadenciados. E é justamente em meio a essa dinâmica, que a banda entrega uma belíssima e épica passagem, um elemento novo que adiciona melodia, sem em nada comprometer o peso do Death Metal Oldschool que emana do quarteto.

Em Denied Divinity, temos uma espécie de parábola sobre um devoto das trevas, que desce ao abismo infernal em busca dos mandamentos de Satanás, para leva-los até o mundo dos homens e os difundir em uma nova e profana religião, negando assim toda e qualquer falsa divindade. Destaque para o riff em 1:50, que passa uma rápida sensação de queda, e automaticamente, faz a cabeça balançar em aprovação.

The Impostor King flerta com pitadas do Thrash Metal, narrando detalhadamente os atos que culminarão na queda do falso messias. É impossível ouvir essa faixa e não imaginar o quão caóticos serão os moshpits da nova turnê.

Faithless Requiem é uma verdadeira martelada, um cântico que evoca a chegada de uma nova e profana religião, que inundará o mundo de trevas e desgraça.

Psalm 7:8 – God of Bizarre é a faixa mais longa do disco, uma epopeia profana com mais de oito minutos. Aqui se questiona a justiça divina e todas as hipocrisias cometidas pela religião em nome da salvação. E meus amigos que ritmo viciante essa sétima pedrada do álbum tem! Ao final temos o barulho do vento e uma voz demoníaca que sussurra algumas palavras, que adoraria saber o que significam…

E para de súbito nos tirar do rápido momento de transe, Terror Inheritance chega com uma rajada de guitarra devastadora, em uma das faixas mais brutais e ríspidas do registro. Aqui a profecia proferida em Faithless Requiem parece ter sido cumprida, deixado uma herança de caos, dor e sofrimento à toda linhagem humana sob a terra.

The Grotesque tem uma introdução cativante, que logo descamba em uma pegada monstruosa cadenciada para logo sermos atingidos com uma saraivada de blastbeats, em uma das faixas mais atmosféricas e densas de todo o petardo.

Blood Upon The Throne traz novamente o contraste entre andamentos arrastados e momentos mais rápidos próximos ao final da faixa, que conta a história de um tirano que sucumbiu a morte e a desgraça ao assumir um trono que não lhe pertencia.

Fechando o disco, Venomous Creed  começa de forma sorrateira para em seguida escancarar as portas da hipocrisia, ganância e imundice disseminado anos a fio pelas instituições religiosas e seus chamados homens santos. Destaque para o momento quase Doom no meio da faixa, que torna toda a indignação ainda mais rigorosa, culminando e encerrando o álbum com um mórbido e ecoante dedilhado.

Lançado oficialmente em 31 de maio de 2024, A Mass To The Grotesque fora gravado no Audio Porto, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A produção do álbum ficou a cargo de André Moraes, que além de trabalhar com trilhas sonoras para o cinema e TV, fora o responsável por Dante XXI, o meu disco favorito do Sepultura. Já a mixagem, fora produzida no berço do Death Metal americano, por Jim Morris no mítico estúdio Morrisound. E Por falar nela,a mixagem se equilibra muito bem, trazendo ainda mais qualidade sonora ao registro, sem perder os ares oldschool que caracterizam a banda desde os primórdios.

Já a incrível arte de capa (que muito me remeteu ao nono círculo do inferno de Dante) ficou a cargo do artista britânico Dan Seagrave, conhecido pelas icônicas capas de grandes clássicos do Metal, como o Left Hand Path (1990) do Entombed, Altars of Madness (1989) do Morbid Angel, entre outros.

O segundo petardo do grupo foi lançado em parceria com a Alma Maters, selo português de sociedade do vocalista Fernando Ribeiro, membro do Moonspell. Além das principais plataformas de streaming, está disponível em formato K7, Vinil e em terras brasileiras em uma caprichada edição em CD com slipcase brilhoso e pôster duplo (que você adquire clicando aqui!).

Em suma, A Mass To The Grotesque é mais uma prova que o The Troops of Doom ainda tem muito a dizer e, principalmente a demonstrar. Fico curioso e espero que a banda invista ainda mais nas experimentações e nos momentos grandiosos como em Dawn of Mephisto, que só tem a somar com o excelente Death Metal que emana desta superpotência do Metal brasileiro.

Tracklist
01. Solve Et Coagula – Introduction

02. Chapels Of The Unholy
03. Dawn of Mephisto
04. Denied Divinity
05. The Impostor King
06. Faithless Requiem
07. Psalm 7:8 – God of Bizarre
08. Terror Inheritance
09. The Grotesque
10. Blood Upon The Throne
11. Venomous Creed

 

Nascido no interior de São Paulo, jornalista e antigo vocalista da Sacramentia. Autor do livro O Teatro Mágico - O Tudo É Uma Coisa Só. Fanático por biografias,colecionismo e Palmeiras.