Por: Henrique Colle

Decolle é uma banda de Pop Rock brasileira natural de Orleans/SC.

Decolle teve inicio em 2014 com outro nome, após uma junção do sobrenome do idealizador Henrique “Colle” com “Decolar”, surgiu o nome “DECOLLE”.

A logo da Decolle, conta com uma CORUJA que significa a ideologia da banda de que mesmo quando se tem o campo de visão “tapado por alguém” devemos ampliar a visão assim como as ‘corujas’, tendo assim uma visão mais ampla e detalhada sobre tudo, a logo conta também com um símbolo “hippie” que também está ligado outra ideia da banda que a verdadeira utopia do mundo é sem dúvidas, a paz. O desapego das coisas desnecessárias e materiais ao extremo, sem falar que amar as pessoas como se não houvesse o amanhã, é mais gratificante do que qualquer bem material.

Recentemente a banda teve a perda do guitarrista Marlon Carvalho, no qual teve boa parte nas gravações e criações das músicas da banda. Henrique Colle pediu um espaço no site O SubSolo com exclusividade para prestar uma homenagem e se despedir do amigo.

Não poderia começar falar sobre o Marlon sem dizer o quanto foi uma pessoa incrível, sempre com sorriso no rosto e um bom coração. Parece mentira acreditar que ele não está mais entre nós. Mas tenho certeza que ele deixou um grande aprendizado para muitas pessoas, e eu sou uma delas.

Conheci o Marlon ou melhor “coco”, pois esse era seu apelido, por intermédio de um amigo em comum, no dia 29 de abril de 2014.
Começamos a conversar e logo de início a afinidade já bateu. Tínhamos o gosto musical muito parecido e tínhamos um objetivo/sonho em comum, e queríamos muito conquistar. Eu tinha algumas letras, ele tinha alguns riffs e ideias, que ao juntarmos e trabalharmos nelas, acabamos criando a versão que futuramente gravamos juntos, cuja a música seria a  “Vento”. Conversamos diversas noites até madrugada, trocando ideias e conversando de muitas coisas além da música. Muitas vezes passava da meia noite, e ele gravava algum toque e me mandava, mas logo vinha à mensagem “bah mano, vou ter que parar de tocar agora, já está tarde e a minha mãe acorda cedo amanhã”. Era muito notável o amor dele pela música, mas acima de tudo pela família dele. Eu sempre admirei a forma com que ele ajudava a Ana (mãe do Marlon), sempre foi um cara apegado à família e com muitos amigos (alguns amigos dele tive o prazer de conhecer). Com tempo nossos projetos foram tomando formas e então juntos fundamos a “Decolle”. Então, começamos nos encontrar com mais frequência, muitas vezes ele mal chegava em casa do trabalho aos sábados, já se arrumava e ia para o estúdio correndo para nós tocarmos e conversarmos. Algumas vezes os ensaios aconteceram na casa dele e era para ser acústico, mas a gente sempre acabava extrapolando o volume e muitas vezes o tempo. Ele tinha uma bateria na sala e sempre gostava de tocar quando íamos lá. A gente fazia um ‘baita’ som, trocamos muitas ideias após os ensaios e por isso era sempre muito bom. 

Depois de um tempo veio o nosso primeiro show, dia 10 outubro de 2015 em Lauro Muller. O festival se chamava “Rock in Rio do Rastro”. Lembro que ele estava nervoso, todos estavam, afinal nosso primeiro show, mas acredito que ele era o mais nervoso/ansioso. Neste dia, lembro que ele pegou uma guitarra emprestada para o show. Ele fez um mistério até na hora de entrar no palco, pois queria que eu adivinhasse qual era a guitarra, mas meus chutes deram todos errados, então ele disse que era uma guitarra da Jackson. Deu tudo certo no show e tocamos todo o nosso repertório.

A Decolle lançou o seu disco intitulado Sulista, que teve a participação de muitos músicos devido a imprevistos nas formações da banda. Sobre as gravações na época, Henrique comenta:

Após muitos ensaios e shows, começou as gravações do nosso tão esperado álbum. Ele gravou violões e guitarra base no álbum. 

Mas quero frisar duas músicas que ele sempre gostou muito:  

A primeira era “Vento”, foi à primeira música que fizemos juntos, que tocamos e que gravamos, e ele sempre falava do carinho que ele tinha por ela. Sempre queria tocar ela nos ensaios e shows. Então, gravamos um videoclipe dela e lembro dele tirar ‘onda’ comigo, dizendo que ia fazer um tratamento no cabelo dele para o clipe e que ia ofuscar o brilho do meu cabelo. O Marlon sempre foi assim, muito brincalhão, talvez seja por isso que a gente se dava tão bem. Chegou o dia da gravação do clipe da “Vento”, e nesse dia ele perdeu a palheta e tocou com um pedacinho de papelão no lugar, então ele disse escondo com o dedo e ninguém vai ver, não deu para perceber mesmo. Lembro que foi um dia que passamos do início ao fim juntos e foi muito produtivo. Realizando mais um dos nossos sonhos juntos.

A outra música se chama “Travessia Urbana”, ele não sossegou enquanto não terminei de escrever a letra e encaminhei para ele. Lembro que ele sempre mandava gravações de ideais para a música. A guitarra que ele gravou essa música, principalmente na parte dos versos ficou tudo muito ‘foda’, desde a timbragem até o jeito que tocou e foi unanimidade entre eu e o André (produtor) no dia. Essa música por ideia dele acabou sendo a primeira música do álbum.

Depois de tudo pronto e alguns shows, ele quis conversar comigo. Sentamos e conversamos, e ele me falou que queria deixar a banda. Disse que estava com outros planos para vida dele. Na época por motivos amorosos e religiosos (era visível a felicidade dele); então não teria tempo suficiente para banda. Conversamos muito a respeito, eu disse que tínhamos fundado tudo isso juntos e que banda era uma família, mas se ele achava que era o melhor era se desvincular da banda, eu compreenderia perfeitamente e eu apoiaria. Após alguns dias ele tomou a sua decisão e resolveu realmente sair.”

Após sua passagem pela banda, Marlon Carvalho focou nos seus projetos e isso o distanciou de Henrique, que lamenta:

Bom, dali em diante acabamos nos afastando um pouco, por ele estar indo realizar as coisas dele, e eu continuei com a banda e outras coisas, mas ainda conversamos por mensagens por um bom tempo. A gente tinha um lance que poderia ficar dias ou meses sem se falar, mas quando voltávamos a conversar era como se nunca tivesse ficado um dia sem se falar. 

Soube depois de um tempo, em 2018 que ele estava doente, voltamos a conversar com um pouco mais de frequência, então ele falava que estava um pouco melhor e que estava aprendendo a cantar. A gente marcou algumas vezes para se encontrar, mas infelizmente nenhum encontro acabou dando certo, pois com o tratamento ele disse que não ia estar muito legal por alguns dias, em outros momentos nenhum dos dois estaria livre e cancelamos várias vezes.
E no dia 17 de agosto de 2020 recebi a notícia que ele tinha falecido há algumas horas. Foi uma notícia difícil e demorei acreditar. Parece até clichê, mas é a velha história de deixar as coisas para depois e neste caso, não tem mais depois e isso me dói profundamente.

E como ele sempre tinha algo a dizer e sempre dava a sua opinião, ele não poderia ter ido sem deixar alguma coisa e me deixou essa lição que, por mais óbvia que pareça a gente acaba entrando no automático e acha que nunca acontece nada com a gente ou com as pessoas que a gente ama.
Eu só tenho memórias boas dele e quero levar para o resto da minha vida, pois eu e ele sonhamos e realizamos coisas juntos, e criamos o mais especial juntos, que foi uma amizade muito forte.

Oro por ele para que descanse em paz, pois ele merece pela pessoa incrível que foi. Guerreiro que lutou até o fim e que deixou uma grande lição de vida em diversas pessoas, não era de esperar menos de uma pessoa igual ele, sempre fazendo despertar o melhor em outras pessoas.

Quero expressar a minha gratidão e as minhas condolências para a Ana (mãe do Marlon), que lutou e foi guerreira ao lado dele, o tempo todo sendo seu pilar. E de onde ele estiver, tenho certeza que ele quer que a gente levante a cabeça e siga em frente por ele.

Descansa meu irmão.
Tu sempre será um Decoller!
Até breve.


Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.