Existem grupos que ultrapassam os limites do que definimos ser uma banda. E este é um bom exemplo disso. Hoje lhes trago uma verdadeira entidade cósmica abissal que temos a honra de chamar de nossa, o Jupiterian.

Lembro-me que entrei em contato com a obra desses tão misteriosos seres enquanto procurava na internet, bandas que abordavam o tema lovecraftiano em suas letras. É difícil precisar qual faixa me deparei no percurso, mas sei descrever exatamente a minha sensação ao ser arrebatado pela musicalidade deles.

Imagine caro amigo leitor, a sensação de se estar em uma profunda e fétida fossa localizada no que se supõe ser o meio de um buraco negro ou abismo. Agora, tente vislumbrar um som primitivo, denso, que parece emanar de um lugar mais profundo que este próprio abismo, ecoando em total indiferença com a sua presença ali, simplesmente sendo entoado, pouco se importando com a sua presença.

Viagem total de minha parte, eu sei. Mas não vejo outra forma de explicar a sonoridade destes mestres encapuzados do Sludge/Doom Metal.

Em pouco tempo comecei a minha caminhada rumo à discografia da banda, conhecendo mais cada trabalho e me afundando mais em mais rumo às fossas abissais. Eu classifico a banda como uma entidade, não por mero capricho ou exagero, mas sim pelo fato da dificuldade em se encontrar informações sobre ela e os integrantes.

Para começar, as performances do grupo são bem climáticas, o que não poderia ser diferente, uma vez que, o contrário disso não seria condizente com a sonoridade. São quatro seres encapuzados, deixando apenas as mãos à mostra e, obviamente, um pequeno buraco para os olhos. Nos encartes dos CDs, os nomes de cada integrante são abreviados com apenas uma única letra, contendo na atual formação G na bateria, R no baixo, A guitarra e V nos vocais, sintetizadores e guitarras.

Reforçando ainda o fator sigilo de identidade, a banda não concede entrevistas por vídeo. Me lembro que cheguei a convidá-los para nossas Lives of Plague da Sacramentia, porém, recebi uma negativa (da forma mais educada possível, é sempre bom ressaltar). Tudo o que se encontra internet a fora nesse sentido são apenas entrevistas em texto.

E para os colecionadores de plantão, eis um desafio, pois encontrar os álbuns destes caras é uma árdua tarefa (pelo menos eu tive certa dificuldade), pois a banda possui uma parceria com a gravadora indiana Transcending Obscurity, que investe pesado em grupos com o mesmo estilo. Mas posso afirmar com toda certeza de que a busca é satisfatória, pois os materiais físicos são de extrema qualidade e bom gosto, inclusive você pode adquirir os dois álbuns mais recentes na própria loja virtual da banda.

Bom, mas agora falando sobre a trajetória do Jupiterian. O pouco que encontrei sobre o início da banda veio do site Spirit of Metal. Sabe-se que o quarteto iniciou as atividades no ano de 2013 na cidade de São Paulo.

No ano seguinte o primeiro EP Archaic foi lançado, contendo as faixas Archaic, Procession Towards Monolith e Currents of Io. Em 2015 é a vez do single Drag me to my grave seguido pelo debut Aphotic, lançado no dia 14 de novembro. Já em 2017 o Jupiterian lançaria a compilação Archaic: Process of Fossilization trazendo além dos primeiros registros de estúdio, excelentes covers de Anathema e Black Sabbath.

Os monstros não param por aí e em novembro lançam o poderosíssimo Terraforming, um excelente trabalho capaz de nos fazer sentir os mais pesados e densos abalos sísmicos, destaque para a faixa de abertura Matriarch, que explana muito bem esta minha afirmação. O álbum ficou em primeiro lugar no top 10 de melhores álbuns do ano pelo site especializado CvltNation. Vale lembrar que a banda já havia participado desta lista em anos anteriores.

Após estes primeiros anos de muito trabalho a banda sai em turnê passando por territórios nacionais e internacionais, sendo a primeira banda de Doom Metal a se apresentar no NRW DEATH na Alemanha junto ao Krypts e Hexer. Na capital Berlin, o Jupiterian ainda conseguiu a façanha de lotar uma casa de shows, deixando grande parte do público para fora ávidos por conferir a apresentação.

E é em setembro de 2020 ,que na minha humilde opinião o melhor álbum do ano, Protosapien foi lançado. Um verdadeiro petardo de seis faixas que exalam ainda mais todos os sentimentos fétidos e abissais que descrevi no início deste texto. Destacar uma única faixa desse trabalho é quase um sacrilégio, mas fico com Capricorn e Mere Humans A excelente e etérea capa foi assinada pelo artista Marlusz Lewandowski que já trabalhou com outros grupos como Bell Witch e Eremit.  

                  

E concluo essa minha participação nesta coluna d’o Subsolo afirmando que o Jupiterian é uma excelente banda que temos o orgulho de chamar de nossa e que se faz viva uma das mais famosas frases do filósofo Frederick Nietzsche:

“Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”

Aprecie!

Nascido no interior de São Paulo, jornalista e antigo vocalista da Sacramentia. Autor do livro O Teatro Mágico - O Tudo É Uma Coisa Só. Fanático por biografias,colecionismo e Palmeiras.