O Brasil viveu um momento esplendoroso quando o assunto é Heavy Metal no final dos anos 1990 e início do novo milênio. Em especial, bandas de Power e Prog ascenderam e ganharam muita visibilidade aqui e até mesmo internacionalmente. Uma das bandas que participou desse movimento foi a porto-alegrense Hangar, capitaneada pelo baterista Aquiles Priester, e sendo acompanhado de músico de alta estirpe para presentear fãs e admiradores com músicas rápidas, intensas, pesadas e técnicas.




Aproveitando que a Pisca Produtora está promovendo a passagem da banda por nossa região, em vigor da turnê do álbum Stronger Than Ever, tivemos a oportunidade de entrevistar o Hangar e saber mais sobre o momento atual da banda. Confira!

Depois do DVD gravado ao vivo em Brusque, que foi um marco para a banda após o lançamento de “Stronger Than Ever”, qual a sensação de retornar a SC?

Aquiles Priester: A gente tá muito feliz em poder voltar a Santa Catarina, sempre foi um estado que acolheu bem o Hangar. Também acho que na verdade essa turnê está sendo muito especial pra gente, porque é a primeira vez que a gente planejou uma turnê com quatro meses de antecedência, pudemos fazer um roteiro. Infelizmente, o Nordeste ficou de fora, já que precisávamos ter certeza de que a turnê iria funcionar neste formato que a gente tá fazendo agora, mas em 2019 pretendemos incluir o Nordeste. Ainda temos que ver a agenda certa pra fazer isso, mas a ideia é fazer esses shows que temos marcados até dezembro, que estão tendo um resultado muito bom, mas após fecharmos as contas, ver os resultados, e termos certeza de que a turnê chegou na expectativa que a gente queria.

E qual foi o motivo de terem escolhido a cidade catarinense para receber as gravações daquele show?

Aquiles Priester: Na verdade não exatamente escolhemos a cidade, né. O secretário da cultura de lá, Marcos Fumagali, que é meu amigo, queria a muito tempo levar o Hangar pra cidade, e foi ele que possibilitou muitos fatores que viabilizaram o show: uma estrutura que seria caríssima em qualquer outra cidade, por exemplo, sendo que ela já estava pronta lá. Só tivemos que cuidar da captação e tratamento do som e imagem. Foi uma oportunidade que apareceu, e queríamos lançar esse DVD elétrico do Hangar, pois já tínhamos um acústico, que inclusive ainda é o best seller da banda, junto com o CD do mesmo. Queríamos muito fazer um registro ao vivo de nosso show, pra mostrar nossa brutalidade em palco. Mas o que me estranha é que mesmo dois anos após o lançamento ainda não superou os discos acústicos, mesmo com nossas músicas rápidas, com bumbo duplos, riffs legais nas guitarras e vozes altas.

Como que a banda tem lidado com os projetos paralelos dos músicos? Isso tem ajudado a criar ainda mais expectativa para estarem juntos nessa turnê e estarem aproveitando mais cada momento?

Cristiano Wortmann: Cria sim bastante expectativa para voltarmos a tocar juntos, já que todos da banda tem projetos paralelos, mas a química que o Hangar tem, de 21 anos de banda, é bem diferente quando a gente se junta. Então, ficar um tempo sem tocar cria toda essa expectativa sim na hora de voltar pros ensaios, de voltar pros shows. A cada show a gente se supera, vamos melhorando, aumentando entrosamento. Então é fantástico estar nessa tour, que é a maior que o Hangar já fez, então estamos extremamente felizes.

Aquiles Priester: O legal dessa turnê é que a gente criou um hiato, mas não porque a gente quis, mas sim por situação do mercado. Quando a gente anunciou a turnê, muita gente não tinha visto a banda ainda, então mesmo com o mercado passando por um momento instável, com pouco investimento nas bandas, temos conseguido um retorno bem positivo, com os contratantes falando que a média de ingressos está superando o que eles estão acostumados a ver. Então esse negócio de fazer as coisas mais organizadas, de marcarmos as datas com antecedência, é melhor que ficarmos esperando ligações. Vimos que isso funciona muito melhor e é a melhor forma de fazer, já que concentra mais atenção da mídia e do público, pois são vários eventos que fazem parte de uma mesma ideia. Nosso set-list é o mesmo em todos os shows e foi feito junto com fãs. Então, termos reunidos as datas gera ainda mais expectativa e gera mais espaço pra banda na mídia.

O álbum “Stronger Than Ever” foi lançado em 2016, e ainda está gerando frutos pra banda. Depois da longa espera desde o último disco de inéditas antes dele, o “Infallible” de 2009, vocês enxergam que o disco foi exatamente o que vocês e os fãs esperavam?

Aquiles Priester: O disco Stronger Than Ever não era pra ter existido, na verdade. Já tínhamos concordado entre nós, que nas condições que estávamos, não tinha mais sentido de estarmos indo aos palcos. Mas, na verdade aconteceu uma falha de agenda, abriu um buraco de 80 dias, e então resolvemos, mesmo sem a menor expectativa do que ia acontecer, fazer o disco. E foi aí que vimos que o disco tinha potencial conforme íamos trabalhando nele. Daí fomos mordidos pelo bichinho do Heavy Metal, e sabe como é, aí resolvemos investir de verdade, pra gravar o disco, gravar o DVD, fazer os video-clipes, e tudo isso foi mais de R$75 mil. E de 2016 pra cá fui fazendo workshops e eventos com outras bandas, e levando sempre o merchandising do Hangar junto, o que ajudou a liquidar o investimento um pouco antes de começar essa nossa turnê. Como a gente não tava tocando juntos, mas eu estava levando as músicas do disco pros workshop, as pessoas começaram a se empolgar e ver a qualidade do disco. E as pessoas sabem dessa qualidade assim que ouvem. Até desafio os fãs a comprarem o disco e procurarem um trabalho com mixagem superior, se acharem é pra me mandarem que eu devolvo o valor que ele pagou no nosso disco em dobro, ainda. Poucas bandas tem na sua discografia um disco com tanta qualidade em termos de mixagem como esse, que é esplêndida. E o disco tá rendendo frutos ainda porque agora que estamos fazendo os shows dele. Fizemos o show do DVD e só agora houve demanda para divulgar ele na estrada. Fizemos parcerias com produtores, que acreditam no nosso trabalho tanto quanto nós. Estamos ganhando por bilheteria, nada de cachê fixo. Acreditamos muito na movimentação de nossos fãs, e se virmos que não haverá lucro pro Hangar, não terá mais porque seguirmos fazendo isso. Então, se for pra ser a última turnê do Hangar, que seja em grande estilo.

E já existe algumas pretensões para lançamento de um novo disco dentro do próximo ano? Ou podemos esperar que a banda aproveite mais a estrada e depois, com mais tempo, volte a estúdio?

Aquiles Priester: Não temos pretensões sobre um novo disco, não, possivelmente vamos seguir na turnê deste álbum, talvez até vamos repetir alguns locais que estamos fazendo agora, junto com as datas que queremos fazer no Nordeste. Tem muita gente que não viu o Hangar ao vivo ainda, e essa turnê é a primeira que a gente tá dando a atenção que a banda merecia. Quando eu estava morando aqui no Brasil, a gente tava sempre tocando, mas agora que as atividades da banda estão atreladas a eu estar aqui ou não, acaba gerando mais atenção do fã a oportunidade de ver o Hangar ao vivo. Uma das coisas que nos orgulhamos é de nosso show, e pro cara entender só indo e vendo a gente em cima do palco mesmo. O Hangar cresce muito no palco, e essas músicas novas agora estão mais “amaciadas”, estamos mais a vontade com elas, e temos um set list muito brutal, são poucos que conseguiram dar conta de fazer um show assim em três ou quatro dias da semana, com viagem, carregando dois mil kilos de equipamento de palco… são coisas assim que constroem a ideia que o Hangar sempre teve, fazendo as coisas que a gente acredita, coisas que constroem o legado e mensagem que o Hangar quer deixar.

Desde o primeiro vocalista da banda, Pedro Campos é o que está a mais tempo com o grupo. Quais diferenciais que ele ofereceu que fez com que ele ganhasse o espaço que tem hoje no Hangar?

Aquiles Priester: O fato do Pedro Campos estar na banda a tanto tempo, estando a seis anos, acho que é por que a gente realmente não tocou tanto nos últimos tempos, pra ser bem sincero (risos). Porque, esse negócio de estar na estrada, a convivência, os números baixos, essa decepção de você querer um resultado e não alcançar foi o que afastou os vocalistas. Todo mundo achava que os caras estavam entrando na banda que tinha o Aquiles Priester e teriam vida fácil. O Pedro ele entrou na banda em um momento que a banda estava meio que estacionando, e esperamos a hora certa de fazer o disco e fazer uma turnê. Na verdade, posso te afirmar que o convívio está muito bom. Todos nós estamos curtindo de mais esse momento, ainda mais com os resultados sendo bons, o que ajuda a lidar com mais facilidade quanto as coisas. Estamos com onibus novo, com uma estrutura que a banda sempre mereceu, com uma equipe multifuncional, dando conta de todo trabalho que a banda dá, não só no palco mas no backstage também. Então, tudo isso facilita a harmonia do negócio. E nesse ponto, o Pedro é uma pessoa muito fácil de lidar, ele é fã da banda, realmente se emociona de estar conosco, e ficamos gratos de termos encontrado um garoto como ele, tão novo e tão talentoso, que tá se dedicando bastante para poder fazer uma turnê como essa.

Inclusive, desde 2013 que a banda segue com a mesma formação. Acreditam que este é um forte motivo para ela estar “mais forte do que nunca” ou existem outros fatores que ajudam no fortalecimento do Hangar como grupo?

Aquiles Priester: O Hangar nunca tirou alguém da banda, as pessoas que saíram, que cansaram da proposta, cansaram do mercado, de não ter resultados… a formação que tá desde 2013 tá sim forte, e mostramos isso no palco, nos shows, quem está acompanhando a turnê está vendo isso. As redes sociais aproximaram muito a banda aos fãs, que podem ver a banda diariamente na estrada e podem ver que o clima está muito bom. E enquanto as coisas estiverem indo bem, a possibilidade disso continuar dessa forma é muito grande. A gente está feliz com o momento que a banda está passando agora, tudo convergindo pra mesma energia. Nas outras épocas da banda, até as pessoas que estavam a mais tempo no Hangar, não estavam mais tão dentro da banda. Então esse fato de termos ficado tanto tempo fora dos palcos e voltar agora aproximou bastante os integrantes mais antigos.

Esse ano de 2018 foi marcante por ter o retorno de diversos nomes que tiveram muita força no passado do Metal Melódico brasileiro, e obviamente vocês fazem parte disso e estão com essa turnê mostrando a força da banda. Como vocês enxergam todas as mudanças que ocorreram desde lá o começo desse movimento aqui no Brasil, que ganhou força na segunda parte dos anos 90 e começo dos anos 2000, até agora em que estes nomes estão vindo com tudo novamente?

Nando Mello: Fazer Metal no Brasil é bem complicado. Tivemos esse período áureo do inicio dos anos 2000, mas atravessamos por problemas em tudo, economia, politica, e isso causou também um grande problema de renovação, pois temos pouca renovação no mercado. Esse buraco de renovação acabou deixando espaço para que essas bandas mais antigas retornem ou se mantenham em ativa, mesmo com essas adversidades. Essa volta que teve de algumas bandas que estavam paradas, e voltaram a tocar ou gravar é positivo, ainda mais com o momento que vivemos de economia, mercado e etc. Isso tá sendo sentido pelas bandas e artistas novos, que estão com trabalhos novos, que estão tentando aparecer. Acho que 2019 vai ser um momento até melhor, em materia de continuidade de trabalhos antigos e de renovação desse mercado.

Hangar, por hora é isto. Agradeço em nome de toda a equipe O SubSolo pela atenção, e gostaria de pedir que deixassem um recado especial para os fãs da banda e que acompanham nosso portal.

Aquiles Priester: Muito obrigado pessoal do O SubSolo. Nós do Hangar estamos muito ansiosos para tocar em Santa Catarina, temos dois shiows por aí, estaremos em Floripa (30/11) e em Criciúma (03/12). Lembrando que esse show de Floripa foi a galera que esteve no meu workshop por lá em maio que pediu esse show do Hangar, então estamos atendendo esse pedido e queremos ver todos lá para verem a força que o Hangar tem ao vivo. Valeu, obrigado!
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Em especial, nós do O SubSolo agradecemos o nosso grande amigo, apoiador e parceiro Eduardo Pisca, responsável por trazer estas bandas gigantes para o Sul do país, proporcionar experiências únicas ao headbangers locais e por ter aberto a oportunidade desta entrevista ocorrer.
Onde há espaço para escrever, tenha certeza que irei deixar minhas palavras. Foi assim que me tornei letrista, escritor e roteirista, ainda transformando minha paixão por música em uma atividade para a vida. Nos palcos, sou baixista da Dark New Farm, e fora deles, redator graduado em Publicidade e Propaganda para o que surgir pela frente.