No meio musical é comum artistas sentirem-se na necessidade de expor suas ideias individuais. Muitas vezes essas ideias não se encaixam nas bandas que integram e podem ser descartadas para o sempre e/ou engavetadas. Outra alternativa é investir num projeto paralelo, produzir e lançar esse material.

Foi o que fez Ivader, baterista da banda de Black Metal Lusferus, ao criar o Anthe. No projeto, o multi-instrumentista aproveitou material que ele viu que não se encaixava nas bandas do qual fez e faz parte e lançou o EP de estreia Afterthought, em 2024, depois de alguns anos matutando a empreitada.

Como ele conta:

“Ao mesmo tempo que sentia uma responsabilidade grande por ser um projeto solo, eu me sentia paralelamente desprendido por conseguir expressar genuinamente a minha musicalidade. As ideias para as músicas vieram em tempos distintos. A faixa “Ava: Session 7”, por exemplo, havia sido escrita (mesmo que com outro arranjo) inicialmente para uma banda que fiz parte em 2016, a Kroaton, ou seja, três anos antes do Anthe ser viabilizado de fato. Outra faixa que que não foi gerada para o Anthe a princípio, foi a Pura Existentia Ex Machina, que comecei compondo-a para a Lusferus, mas quando, em um lapso de consciência, entendi que ela não cairia bem lá e decidi arquivá-la para o futuro. As outras faixas foram compostas quando o projeto já tinha sido definido.”

Fato é que em seu novo projeto, Ivader apresenta uma sonoridade mais abrangente, com o Black Metal se fundindo ao Death Metal, além de flertes claros com Doom e Post Metal, contando com boas doses de melodia, mostrando que o Anthe mantém seu leque aberto.

“Exatamente isso! A verdade é que eu não queria um “leque fechado”, mas sim, um mundo aberto de possibilidades para que eu pudesse explorar toda a sonoridade que habita em mim. Minha trajetória na música foi definida em cima dos dois gêneros citados e, justamente por isso, gostaria que aqueles tantos outros gêneros ocultos em minha formação musical, como Thrash, Prog e até mesmo o Jazz, pudessem ser revelados ao público”, afirma o músico.

Os temas trazem uma conotação dentro do sci-fi, mas o trabalho não chega a ser conceitual, apesar de leves ligações entre as faixas. E com uma sincronia impressionante, as letras casam perfeitamente com a sonoridade.

“Existem conexões paralelas e outras mais diretas. Sempre gostei muito de sci-fi e duas obras mais recentes, por assim dizer, me prenderam muito: “Arrival” (no Brasil “A Chegada”, do diretor Denis Villeneuve, de 2016) e “Ex Machina: Instinto Artificial”, de Alex Garland, lançado em 2014. Tendo base nesses contextos, montei temáticas que relatam um pouco dessas histórias, mas com um pouco de fanfic, para que eu pudesse explorar a filosofia em comum entre essas obras. Posso dizer que me orgulho muito do resultado lírico desse EP, pois considero uma homenagem ao meu falecido pai que me introduziu ao mundo filmes e livros do gênero com “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, lançado em 1968”, conclui Ivader.

As gravações do EP de estreia,Afterthought, foram iniciadas em 2019 no Under Studio, na terra natal de Ivader, em Ribeirão Preto,São Paulo. Com produção de Romulo Felício (Necrofobia), elas foram finalizadas apenas em 2023. O EP já está disponível nas principais plataformas digitais.