Ninguém mais do que eu esperava por este lançamento, acompanhei alguns detalhes, desde saída de membros com a gravação em andamento até o sucesso que tem conquistado hoje. Melanie Klain foi a primeira banda nos procurar e além de virarmos grandes amigos, pude presenciar músicos sedentos por fazer boa música, inteligentíssimos na questão de marketing e com uma visão crucial sobre o que queriam para o futuro.
O álbum abre com a introdução, que faço questão de citar um trecho “Desrespeitável público, bem vindos ao show de horrores chamado Brasil, um país de escravos carentes de justiça um povo que finge não saber os seus problemas e na maioria das vezes se acha no direito de criticar outras nações“. De fato, já iniciamos com um soco na cara!




Abrindo as portas musicalmente falando, a minha favorita dos caras, não poderia deixar de falar um pouco dela já que foi a primeira que ouvi. “Abençoado por Deus” o que me lembra muito System of a Down, desde a primeira vez em que ouvi sempre os disse, pelos fraseados do vocal e também pelo timbre de voz de Duzinho semelhante ao de Serj. A música se desenrola até um breakingdown impressionante e assustador, que enquanto o vocal fala algumas frases, eis que surge um solo de guitarra para arrepiar dos pés a cabeça, até voltar a porradaria e mais ódio para aqueles que são cegos por um cristianismo, mas não pense que a banda prega isso, na verdade a música consiste em dizer que “tudo o que é de mais, faz mal”.

E o álbum é assim do começo ao fim, lotado de surpresas boas e de composições muito bem pensadas a cada segundo, detalhes que passariam despercebidos por qualquer um, menos para Melanie Klain. Muitas bandas que utilizam da arte procuram atacar o governo brasileiro, este que nos trouxe a esta crise em que vivemos, porém, o grupo não direciona seu ódio apenas a politica, como por exemplo nas faixas, “Rede Social”, “Cartas de um Suicida” e “Fé Cega”, que falam abertamente sobre como o público ultimamente utiliza da internet, de como uma “mente suicida” pensa, age ou se sente, e como a fé cega muitos que seguem uma religião especifica e fica cego sem olhar aos horizontes, explicações estas respectivamente as músicas citadas.


As músicas tem uma convicção tão forte que lhe molda a forma de ver o que acontece ao nosso arredor, não que quem ouve seja alienado, mas sim pela forma como expõem suas músicas, com a força do vocal e os instrumentais bem elaborados dando ênfase aos vocais, fazia um certo tempo em que não ouvia refrões tão sérios e bem pregados. A voz de Duzinho é tão suave e ao mesmo tempo tão agressiva, que alternam entre explicações e razões, a clareza exposta em todas as letras dão a entender a inteligência pregada pela banda na forma de compor, principalmente para a surreal, “Carta de um Suicida” que abre os olhos de como devemos ajudar as pessoas que pensam nesta barbaridade.


Mesmo que de certa forma seja notório diversas influências, a Melanie Klain não se rotula e consegue mesclar diversos estilos durante a trajetória do disco, do Thrash Metal ao Heavy Metal clássico, do Hardcore ao Rock ‘n Roll pegado e cru, uma mistura que só tem a agregar e tornando assim suas composições um prato cheio e interessante. A originalidade da banda sempre está em destaque, seja em suas composições ou sem seu marketing, os paulistas se preocuparam desde a composição de suas músicas até os mínimos detalhes do encarte do CD (destalhado no final deste).


Quando o termo “a banda para dar certo, deve ser comandada como uma empresa” entra em vigor, não tem como a banda não dar certo. O grupo é muito profissional e tem uma visão ampla sobre sua carreira, investem pesado e não estão para brincadeira. Pelo talento, o instrumental durante o álbum podemos notar diversas mudanças, de cadenciado a riffs mais rápidos, de pesado e furioso, desce para calmo e harmônico, todas as mudanças repentinas são dentro de uma única composição, enquanto vocal arrepia dos pés a cabeça, seja com seus agudos, seus vocais rasgados ou sua voz suave na citação de frases.






Os solos de guitarra são obras de arte muito bem planejadas e compostas. Uma sacada de um grande guitarrista, que ainda vai deixar sua marca no nome do Heavy Metal nacional. A cozinha da banda se desenvolve pelas doces mãos de Vick no baixo, que assumiu o cargo de baixista no meio das gravações e deu conta do recado. A bateria muito bem tocada e com grooves encaixados no momento certo, dão a certeza que temos aqui uma banda completa, não é atoa que a banda e suas composições ganharam o carinho de Caio MacBeserra do Project 46, aonde rasgou elogios ao grupo de Mococa/SP.


Não consigo falar de uma única coisa da banda e dar ênfase só a ela, tudo aqui me chama a atenção, foi uma das primeiras bandas que comecei a analisar quando começamos o blog e é indescritível o orgulho que tenho de ter recebido o físico dos caras. Mesmo em uma cena lotada de boas bandas, Melanie Klain sempre se destacará, seja pelo profissionalismo, pela inteligência ou por se doarem de corpo e alma para que suas composições toquem outras pessoas, assim como me tocou e me conquistou como um fã e amigo.



Sobre o Encarte

A capa já atrai na primeira vista, aparentemente uma pessoa dentro de um carro de luxo com celulares, relógios e roupas de grife, enquanto pessoas o olham pelo para-brisa com a vista de uma cidade em caos e claro, o seu terço religioso no espelho retrovisor. Mas há algo que chamou a atenção, existe uma pasta em cima do banco do carona escrito “Análise do Caos”, muitos dirão que “o nome do álbum tem que estar em algum lugar” já eu digo que não, talvez o encarte seja a continuidade desta pasta.


03 – Diálogo


Diálogo é uma música que defere palavras contra o sistema e para enfatizar a parte do encarte a banda fez um código binário logo abaixo da letra, escrito: 01001110 11100011 01101111 00100000 01110011 01100101 01101010 01100001 00100000 01110101 01101101 00100000 01100110 01101001 0110110 01101000 01101111 00100000 01100100 01100001 00100000 01110000 01110101 01110100 01100001 que significa : “NÃO SEJA UM FILHO DA PUTA”.


04 – Fé Cega


A faixa que fala que a fé cega seus seguidores, também tem coisas que impressionam no encarte, como por exemplo citações bíblicas descritas no encarte com os salmos na bíblia. Mas o que chama a atenção é no canto do encarte, que está descrito “XXº XXVIII’nIV”S XLVIIº nn’ XVII”W”, que no caso se substituir os “n” por “0”, você terá a latitude e longitude da cidade natal da banda, Mococa/SP.


05 – Guerra


A música fala um pouco sobre como seria uma guerra, aonde um soldado precisa de reforços e conta um pouco da politicagem dentro de uma guerra. E logo abaixo tem algo que me chamou a atenção, um código morse que descobri que traduzido diz “Mas se não há justiça, não pode haver lei”, ao questionar os integrantes, descobri que é trecho de uma música nova, acho que teremos novidades em breve.


06 – Marcas do Abandono


É uma música forte que lhe faz engolir um seco e suar frio. Você sente na pele como é a mente de uma pessoa que sofreu abandono, com frases “Rejeição, somente o que estou pra mim, solidão” e no encarte tem uma frase escrita ao contrário que se localiza em baixo de onde fica a letra que é “Eu morri amando cada um de vocês”, no minimo isto é arrepiante!


08 – Carta de um Suicida


Para mim uma das músicas mais geniais do álbum. Quem já teve suicídio na família ou no ciclo de amizade, sabe o quanto é doloroso perder alguém que quis que optar pelo fim da vida. A música além de muito bem escrita, trás esta ideia brilhante ao encarte, a letra é imposta no encarte como literalmente uma carta.












10 – Rede Social


Uma banda que quis complicar o encarte e prender o pessoal a ler e procurar saber o que é o que. Rede social trás o o QR Code, que se abrir com o celular você será direcionado ao facebook da banda e também trás a foto dos integrantes com códigos criptografados, que quer dizer o nome e a data de nascimento de cada um. 




11 – Análise do Caos


A faixa que leva o nome do álbum é uma das mais fortes do grupo paulista, talvez a cantada com mais raiva e prazer. Como o encarte na minha concepção é uma continuidade do arquivo/pasta que esta no banco do carro na capa do álbum, o encarte desta música trás a ultima estrofe apagada como se alguém tivesse tentado apagar, mas uma folha de caderno colada como a segunda parte da música que foi encontrada pelo dono do arquivo, outra sacada de mestre.






12 – Reflexão


A unica que não está no encarte. Ai que você está enganado, ela está espalhada por todo o encarte com trechos colados em todas as outras músicas, de trecho em trecho que vai montando a letra da música. Mais uma sacada genial, por essa eu não esperava.










Muitas bandas não vem dando tanta atenção para seus encartes, geralmente encartes com as letras de músicas e algumas fotos, o que não deixa de ser bacana, mas este encarte da Melanie Klain é genial, um toque de mestre que prende a pessoa que adquirir o álbum a olhar e querer decifrar tudo que se encontra no encarte, que foi o meu caso. Gosto muito da sonoridade da banda, gostei da inteligência pregada nas composições e como conseguiram me prender no encarte por horas e horas.


O encarte ficou sob a responsabilidade do artista, Paulo Junior Lucis. Já a capa com a artista, Carol Navarro. Ambos são pessoas do ciclo de amigos da Melanie Klain, artistas que provaram que as bandas podem confiar em artistas locais. O encarte é essencial, sim!




FORMAÇÃO
Duzinho – vocal
Chapolim – voz – guitarra
Viola – guitarra
Vick – baixo
Pedro – bateria

TRACKLIST
01 – Introdução
02 – Abençoados por Deus
03 – Diálogo
04 – Fé Cega
05 – Guerra
06 – Marcas do Abandono
07 – Lavagem Cerebral
08 – Cartas de Um Suicida
09 – Cólera/Nação
10 – Rede Social
11 – Análise do Caos
12 – Reflexão

Material recebido pela Roadie Metal.
Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.