Compor músicas instrumentais tem sido algo cada vez mais raro, visto o apelo forte que a presença da voz -e do vocalista, possui em uma música. Mas, quando musicistas se arriscam a calcar seus trabalhos em obras totalmente instrumentais, é certamente para mostrar seu virtuosismo e todo seu talento. É exatamente isso que encontramos no álbum “Evanescent“, do compositor e guitarrista Eduardo Lira.

As peças deste trabalho são obras oriundas de grandes inspirações clássicas e também de artistas renomados do Metal Neoclássico e também de suas vertentes Melódicas. Não a toa, foram recrutados para este disco os baixistas Mike LePond (SymphonyX) e Paul Nuernberg (Katharsiis) e os tecladistas Samuel Cruz, Cristiano Amaral e Jonathas Cherem, tendo o próprio Eduardo Lira gravado as guitarras e baterias.
O álbum é o terceiro trabalho de estúdio de Eduardo Lira, e possui dez faixas, sendo a primeira delas um tributo a Johann Sebastian Bach, compositor alemão da peça “Come, Sweet Death“, que abre o disco.
Se a faixa “Kaleidoscope” não me convenceu, por conta do uso excessivo de tappings e outras demonstrações de virtuosismo, foi na seguinte, “Infinity Level” que tive esperanças no que estava por vir. As belas melodias inclinadas para baladas deram bom tom somadas aos solos de Lira. “Electric Sense” manteve o nível da primeira trilha, mas já com momentos mais fluídos e envolventes e solos mais firmes e pegados, enquanto “Inner Fullness” foi muito mais surpreendente e cativante, com riffs interessantes e chamam a atenção, com solos e frases impressionantes no decorrer da música, mas com outros que incomodam e chegam a ser monótonos de tão repetidos dentro da técnica apresentada.
Os pontos mais fortes são encontrados daqui em diante, quando o guitarrista abre mão de explorar sua técnica exuberante e velocidade e constrói frases marcantes e convidativas, como em “Innocence“, que puxa uma bela balada, sendo, para mim, os momentos de mais cativantes do trabalho apresentado por Eduardo. A sexta faixa do álbum é talvez uma das menos complexas e mais gostosas de se ouvir, realmente remetendo a ideia de “inocência”. Uma música pura, limpa, com todos os instrumentos leves e soando de maneira harmônica, e com solos carregados de frases sentimentais e pouco experimentais. Ponto alto do disco por sua simplicidade.
Sei como é chato fazer comparações, mas a sequência com “Spiritual Consciousness” me remeteu diretamente a “escola Angra de composições”. Imagino que Eduardo seja um apreciador dos trabalhos de Rafael Bittencourt e por isso essa faixa possui exatamente a mesma dose de poder e impacto que as músicas mais speed do Angra, me lembrando demais momentos do disco “Omni” da banda, que é uma de minhas favoritas. Então, não espero que leve a mal esta comparação, pois é exatamente esta faixa uma de minhas prediletas em “Evanescent“. O baixo de Paul Nuernberg rouba a cena e tem grande destaque, mesmo ao fundo. As guitarras apresentam riffs maravilhosos e memoráveis, enquanto os solos são inspirados. A velocidade e virtuosismo aqui são aplicados em doses perfeitas, encaixando na música e na proposta da trilha.
“Friends” conta com três convidados e é uma faixa alegre e motivadora, como sem dúvidas seu conceito inicial sugeria. O destaque fica totalmente pelos solos e pela sensação de positivismo que a música transmite. “Right and Wrong” traz grandes surpresas em suas passagens, mas cativa pelo feeling imposto nos seus solos. Mais uma faixa que conversa bastante com o ouvinte, tendo uma atmosfera inspiradora e reconfortante.
A faixa final é apoteótica, climática e épica. “Evanescent“, que dá nome ao disco, começa triste, imersiva e tocante. Sua orquestração é maestral, dando todas as notas necessárias para um clima de despedida, mas ainda assim, com uma crescente sensação de conclusão, de conquista, como uma jornada que se encerra de forma gloriosa, recapitulando os grandes e preciosos momentos deste trabalho de Eduardo Lira.

Em suma, “Evanescent” é um disco fruto de muita dedicação e criatividade, mas se perde no excesso de virtuosismo em alguns momentos -especialmente no início. Após engatar e cativar a atenção do ouvinte, Eduardo Lira passa a apresentar belas peças mais motivacionais e melódicas e ganha pontos em sua obra, que termina em alto nível e deixando uma boa sensação de trabalho feito. É um disco para se ouvir mais de uma vez para tirar as devidas conclusões, e se acostumar com o direcionamento das composições do guitarrista. Mas, a certeza que fica desde os primeiros minutos é que Eduardo Lira é um grande guitarrista e dono de influências ricas e que ficam evidentes neste bom trabalho assinado por ele.