Amanheceu em Laguna, e após um dia montando barracas na chuva e uma noite de muito frio (literalmente sentido na pele) e exclamado com ênfase por muitas bandas que não são do sul, o domingo começou com sol, e era possível esperar um dia estável e tranquilo, para curtir todas as bandas e não se preocupar com o acampamento.

Acampamento este, diga-se de passagem muito bem aproveitado pelos presentes. Como sempre, muitos se unem em pequenas aldeias, mantendo maior contato, e unindo recursos para fazer aquele churrasco, que no final acabou sobrando até para os simpáticos cachorros e gatos que circulavam pelo local.

 

The Bender’s

Infelizmente por motivos de saúde de um dos integrantes, a banda não pode se apresentar, ficando a primeira apresentação do dia com a próxima banda, porém, seguindo o cronograma oficial divulgado anteriormente.

Eternia

A banda de heavy metal Eternia, que tem suas raízes em Santa Catarina, foi a responsável pela primeira pedrada no domingo. Trazendo para o palco do festival um excelente repertório de clássicos do Heavy Metal, incluindo temas como: Unsung, Sad But True, Children of the Grave e, claro, mais um pouquinho de Iron Maiden com Fear of the Dark.

Com um vocalista extremamente animado e a todo vapor, os headbangers tentavam reviver após uma longa noite de frio. Parte do público assistia o show com café em mãos, enquanto outra parte já havia acordado com cerveja, cada um fazendo seu ‘bom dia’ ao seu estilo.

Review: Karla Sweden
Fotos: Nathaly Julian, Sidney Oss Emer

Circo Elétrico

Com um variado repertório de clássicos, a banda explorou muitas ramificações do rock e metal para animar a manhã do Agosto Negro, trazendo covers de bandas como Creedance, Scorpions, Twisted Sisters, Ozzy Osbourne, Motörhead, entre outras. E mesmo nas músicas mais clássicas, pudemos ver uma adaptação rápida e animada, deixando claro que a proposta da banda é fazer a galera chacoalhar os esqueletos.

Para quem acompanhou o evento nas redes sociais, deve ter visto a divulgação do cronograma como Mr. Jack, porém quem se apresentou foi outra banda, cujos membros são praticamente os mesmos, e devido a algumas mudanças, optaram por se apresentar com a Circo Elétrico, sendo este o primeiro show com a nova formação, e sem ensaio, segundo relato da própria banda para um de nossos correspondentes. Surpreendendo (mas não decepcionando) a todos, inclusive a organização.

Donos de uma irreverência e carisma ímpar, os músicos não paravam um segundo no palco, transmitindo toda a energia que sentiam ao tocar as músicas que seguiram relembrando grandes nomes do rock e metal principalmente dos anos 80 e 90.

Review: Sidney Oss Emer
Fotos: Nathaly Julian, Sidney Oss Emer

Terceira Guerra

Existe uma famosa frase cuja autoria é atribuída a Ludwig van Beethoven, que circula o mundo musical: “Tocar uma nota errada é insignificante. Tocar sem paixão é imperdoável”. Obviamente não estou aqui para falar de notas erradas. Meu foco está justamente na segunda parte da frase. Pois, quem conhece o trabalho d’O SubSolo, sabe que enaltecemos a paixão pela música (que é o que também nos move, afinal de contas). E, indubitavelmente, Terceira Guerra possui isso em seu DNA.

O Hardcore por si só, já é um estilo que tem como uma das principais características, transmitir uma mensagem por meio da música. E o que a banda fez no palco do Agosto Negro, foi introduzir o contexto de várias das suas faixas, deixando sua mensagem ainda mais clara.

Com letras em português, as músicas fazem críticas à corrupção, falsidade e um apelo para que as pessoas façam uma autorreflexão enquanto membros de uma sociedade. Sua sonoridade é rápida e pesada, mas que conta com várias nuances de grooves e breakdowns de respeito para fazer aquela “cara de mau” enquanto olha para o palco.

Os pontos marcantes da apresentação, foram a música Ninguém é Por Você, que contou até mesmo com o áudio original da sonoplastia de estúdio. Logo após a execução desta música, o vocalista Beto fez um grande discurso lembrando as raízes do metal brasileiro, como as bandas conterrâneas Sarcófago e Sepultura, bem como a importância do respeito e união dentro do Underground, e justificando o parágrafo que dá início a este bloco.

Tivemos também a estreia do mais novo membro da banda, Daniel Costa, que quebrou tudo na bateria e mostrou que ser novo membro não é sinônimo de novo músico, pois a porradaria comeu solta, juntamente com os colegas Liniker Moura no baixo e Thiago Tom na guitarra.

Encaminhando-se para o final do show, tivemos até Wall of Death para destruir os corpos que ainda restavam em pé, e a última música da setlist Fortaleza, com direito à participação do público no refrão.

Review: Sidney Oss Emer
Fotos: Nathaly Julian, Sidney Oss Emer

Hollow

A banda Hollow, formada em 2006 no Rio Grande do Sul, trouxe seu Thrash Metal Old School e chegou para detonar no evento com um show insano. A temática da banda tem como foco principal problemas sociais, como guerras, conflitos políticos e outros relacionados à situação atual do mundo. A sinergia entre seus integrantes, assim como os elementos clássicos presentes no Heavy Metal, os vocais agressivos e os riffs pesados, tornam suas qualidades musicais únicas e diferenciadas.

A banda tomou alguns minutos para agradecer e elogiar a organização do evento e aproveitou o momento para parabenizar o vocalista Lucas Lussani, que havia comemorado seu aniversário no dia anterior. Eles também anunciaram a saída do baterista Maurício Steffani, que fez seu último show com a banda em grande estilo.

Review: Karla Sweden
Fotos: Nathaly Julian

Carcinosi

Chegando ao final do segundo dia, temos a presença da banda Carcinosi, uma banda diretamente do Rio Grande do Sul, possuem uma longa jornada onde disseminaram o Death Metal além das terras gaúchas.

Com bastante propriedade neste assunto, a banda com a sua recém formação, trouxe ao público do Agosto Negro uma apresentação técnica recheada de elementos clássicos deste estilo e isso foi reconhecido facilmente pelos presentes que apreciaram atentamente cada música tocada.

Durante alguns momentos da apresentação o vocalista da banda, Tiago Vargas, deixou claro a sua felicidade com o retorno da banda e consequente o convite para tocar no festival. Ao final da apresentação da banda o vocalista executou um solo que arrancou muitas palmas do público e logo finalizaram a sua apresentação com muitos agradecimentos.

Review: Gustavo Martin
Fotos: Nathaly Julian

Flesh Grinder

A banda vem surpreendendo o cenário underground desde 1993, sem economizar esforços para isso. Mesmo com a ausência de um baixista, a banda não só manteve a pegada, como entregou uma performance brutal. Mantendo as características da banda, Fábio, demonstrou versatilidade ao alternar entre dois microfones, em função das distorções nos vocais,  criando um ambiente que preservou os vocais icônicos da banda. Daniel, (Zoombie Cookbook), agora assumindo uma das guitarras, trouxe ainda mais peso e agressividade à formação.

A atmosfera do evento foi simplesmente sombria. Tanto dentro quanto fora do pavilhão, o público parecia imerso em uma espécie de ritual macabro, com o som avassalador ecoando e os vocais demoníacos dominando o ambiente. A intensidade e a presença sonora faziam com que cada instante se tornasse um mergulho nas profundezas do metal extremo, transformando o local em um verdadeiro portal para o submundo.

Review: Bárbara Braz
Fotos: Nathaly Julian

Worst

Uma das atrações mais esperadas pelo público foi a banda Worst, a banda paulista com o dever de “fechar” o festival com chave de ouro, precisavam contar com a empolgação e energia do público que durante dois dias vivenciaram: frio, chuva, rajadas de vento, sol, muitos chopps, ressaca, dezenove shows e todo o rolê de acampar.

E por que listei todos esses fatos? Porque de nada impediu os presentes, em conjunto com a banda, de criarem uma atmosfera intensa para bater cabeça conforme o nosso bom e velho Hardcore espera.

Foram incontáveis moshs, muitas das vezes contínuos, participantes subiram no palco, cantaram alguns trechos com o vocalista, foi uma apresentação digna de encerramento. Destaco aqui também a interação do vocalista, Thiago Monstrinho, que por várias vezes chamou o público para participar durante todo o show.

O Vocalista por sua vez agradeceu a todos os presentes que apreciaram, aplaudiram e interagiram durante a apresentação da banda. Esse agradecimento foi principalmente pela questão logística que enfrentaram para chegar e entregar tudo que podiam na tarde de domingo.

E falando em tarde, assim foi terminando o segundo dia do festival, e consequentemente o fim do festival, alguns já desmontavam os acampamentos, outros ainda tomavam a famosa saideira e alguns já questionavam entre os amigos aquela velha pergunta… Quando será o próximo?

E assim foi a 10ª Edição do Agosto Negro, um festival que reuniu público e bandas de estados diferentes em dias de muita chuva, frio e bastante sol, e mesmo assim mas não faltou qualidade e variedade dos estilos de metal que o público catarinense aprecia e claro, amigos curtindo juntos e apoiando a cena. Fica aqui meu agradecimento pessoal ao Danniel Bala, organizador do evento.

Review: Gustavo Martin
Fotos: Nathaly Julian

 

 

ANÉLISE TÉCNICA

Estrutura: O Clube de Campo Laguna, já é um ponto conhecido pelos headbangers, tanto pelo Agosto Negro, quanto outros eventos sob as produções do Bala, pois se se trata de um local agradável e com amplo espaço para acampamento. A área mais próxima ao salão de eventos é restrita apenas para barracas, mantendo o ambiente organizado e evitando que carros e outros itens, atrapalhem a experiência e circulação dos presentes.

Devido ao não conhecimento de muitos sobre a existência de uma área de banheiros no lado externo, os banheiros internos acabaram por ser muito mais utilizados, e consequentemente, sobrecarregando a equipe de limpeza que teve bastante trabalho para manter tudo organizado o tempo todo, sobretudo na noite de sábado (pico da audiência).

Som e Luz: Sempre contando com a qualidade da Bravado Eventos, 19 bandas passaram pelo lineup do evento sem nenhum problema. Mesmo a variedade de estilos (o que geralmente dificulta o trabalho da equipe técnica) não foi empecilho para uma entrega de qualidade, digna do que as bandas e o público merecem. O mesmo para a iluminação, que conseguiu equilibrar muito bem a ambientação, tanto nas outras áreas, quanto em frente ao palco, o que também facilita o trabalho dos fotógrafos.

Horários: Todas as bandas se apresentaram em seus respectivos horários, respeitando os colegas, equipe técnica e público.

Cast: Muitos headbangers não precisam mais do que um batuque e uns berros aleatórios para se divertir. Mas o lineup dividiu opiniões do público. Enquanto algumas pessoas elogiaram a escolha das bandas como um todo, houve quem reclamasse da quantidade de bandas cover, principalmente por se tratar de gêneros parecidos.

Da mesma forma que outras pessoas se queixaram da ausência de outros gêneros, que não são muito explorados nos festivais. E por outro lado, houve quem comemorasse um cast com tantas bandas de Thrash e Detah Metal. Enfim, sabemos que agradar a todos é sempre um grande desafio e sempre haverá divergências. Mas no final, todo mundo acaba se divertindo.

Bar e Cozinha: Opções de cerveja em combo (OPA) para dar uma barateada, além de Heineken com e sem álcool e destilados como vodka e whisky. Além do bar, a Bender Cervejaria esteve presente para fornecer um chopp geladinho (onde mesmo no auge do frio) desceram lisas, as opções pilsen e IPA que o povo tanto ama.

A alimentação ficou por conta do Rota Gamboa, que ofereceu hambúrgueres tradicional e smash, com opção de ingredientes adicionais. Tendo que enfrentar somente o dilema de agradar a gregos e troianios, quando o assunto é alimentação especial. Embora algumas pessoas tenham falado sobre a ausência de pratos veganos, em outras edições a organização já nos havia informado que é algo com pouca saída, o que às vezes torna inviável para a cozinha manter.

 

Durante o intervalo entre as bandas Hollow e Carcinosi, o organizador Danniel Bala, chamou o público para fazer um breve discurso, relembrando um (nem tão) pouco da sua história como organizador, e os diversos eventos que trouxe para a região nos mais de 15 anos desta estrada, como o próprio Agosto Negro, Storm of the Century, Laguna Metal Fest e Tubarão Metal Fest.

Foto por Sidney Oss Emer

Voltando ao discurso, Bala destacou o quanto é difícil se manter na cena Underground de verdade, devido às dificuldades em geral, mas especialmente por ser tudo feito com as próprias mãos e sem muito apoio financeiro. Foi repetidamente enfático ao afirmar que quem está aqui, está por amor, e faz acontecer. Não é como nas panelinhas que vemos, onde o dinheiro compra tudo, mas nada é genuíno.

Por outro lado, elogiou o público que sempre acompanha e comparece, as bandas que muitas vezes atravessam o país para receber somente o valor do transporte, e às mídias que propagam esta mensagem. Ao final, chamou os técnicos de som Gabriel e China, da Bravado Eventos, reconhecendo o seu trabalho que há anos vem sendo uma parceria com os eventos das produções Agosto Negro, ressaltando o que foi dito no começo, sobre o altruísmo que é ser Underground. Após alguns segundos de uma emocionada pausa, recebeu fortemente os aplausos e ovações do público que faz parte desta engrenagem que faz o Underground girar.

Nós d’O SubSolo também já mencionamos isso, inúmeras vezes, nos mais diversos meios de comunicação. Temos profundo respeito, admiração e gratidão por essa pessoa que fez tanto pelo Underground. Na parte 1 desta cobertura, falamos um pouco mais sobre essa história.

Especialista em cybersegurança, acordeonista e tecladista. Entusiasta de fotografia, já foi fotógrafo e redator nos projetos Virus Rock e Opus Creat. Não limitado a um subgênero do metal, tem como preferências: folk metal, doom/sinfônico, death metal, black metal, heavy metal. Gaúcho de coração, valoriza a cultura tradicionalista gaudéria, a qual inspira suas composições nas bandas em que toca. Interesses globais: Música, ciência, tecnologia, história e pão de alho.