Em um universo com tanta variedade e inventividade como o do Rock/Metal, é natural que a música alcance níveis de profundidade incríveis, com uma reciprocidade entre o público que anseia por composições com significados relevantes e filosóficos, questionando e reconstruindo os próprios conceitos e ideias, e as bandas, que elevam o gênero ao que tanto gostamos, através de músicas cada vez mais bem trabalhadas, letras cada vez mais profundas e questionamentos que envolvem a própria natureza como seres humanos.
Mas a maior representação dessa grandiosidade provavelmente vem nos álbuns conceituais, algo que poucas pessoas não ouviram falar ainda, mas muito menos experienciaram e menos ainda entenderam a experiência como um todo. É um trabalho longo, requer ouvir várias vezes com muita atenção, mas com certeza vale muito à pena.
Pela definição, um álbum conceitual “[…]é um álbum em que todas as músicas contribuem para o mesmo efeito final ou para uma história única. Enquanto normalmente, na música, um álbum de um artista ou de um grupo consiste simplesmente numa série de músicas que o artista ou os membros do grupo escreveram ou escolheram para o integrar”. Mas essa definição é falha, pois define um álbum conceitual mais pelo que ele não é do que pelo que ele é, portanto, permita-me dar minha definição.
Um álbum conceitual primeiramente tem uma história ou uma ideia central, a qual todas as músicas orbitam, o chamado “conceito”, as músicas podem parecer irem muito distantes as vezes, mas faz parte da exploração, segundamente, o álbum é feito pra ser escutado em uma sequência específica, como atos de um teatro, essa sequência é tanto “narrativa” quanto melódica, pois o instrumental também é extremamente atrelado à evolução da ideia e muitas vezes tem significado próprio.
Tendo essa matéria como a primeira de uma série sobre ábuns conceituais, gostaria de apresentar alguns dos meus favoritos, alguns que ganharão matérias próprias:
Metropolis Part 2: Scenes from a Memory – Dream Theater
Talvez o álbum mais profundo no sentido, uma obra prima. O álbum conta uma história sobre um homem que frequentemente sonha com uma mulher, que foi sua encarnação passada, porém mistérios não resolvidos sobre o assassinato dela a mantém presa a esse plano. Não existe um segundo desse álbum que não seja carregado de significado, o instrumental fala tanto quanto as letras.
The Circus of Tattered and Torn – Daydream XI
Uma representação nacional, e que representação. O álbum aborda os conflitos pessoais de todos nós em uma estrutura arquitetada com maestria, cada ato representando ao mesmo tempo uma evolução e degeneração, tudo arquitetado em volta de um tema circense que encaixa perfeitamente com a metáfora. Será o primeiro álbum que iremos mergulhar profundamente na próxima coluna sobre o tema.
From Mars to Sirius – Gojira
Outro álbum que dispensa apresentações, representa tudo que há de melhor no quarteto francês através de uma história nada linear. Esotérico ao extremo, o álbum tem um tema cósmico fortíssimo, contado uma história que vai desde a criação do ser humano a nossa infeliz queda por não termos respeitado o próprio planeta, mas não se engane, o álbum é mais que brutal.
A Future in Whose Eyes? – SikTh
Bizarro, insano, degenerado, repugnante, são as primeiras palavras que me vem à cabeça quando lembro desse álbum. A maioria esmagadora que escutar esse álbum pela primeira vez com certeza vai odiá-lo, eu mesmo não gostei, mas se a segunda ouvida lhe chamar atenção, sinto muito, não tem mais volta. O álbum representa de uma forma absolutamente insana um “futuro” distópico, enquanto questiona nossos rumos e conflitos como indivíduo. Esse álbum vai roubar um pouco da sua sanidade mental após você entende-lo, certamente roubou da minha.
Essas recomendações já são o suficiente para mergulhar nesse universo, lembrando que os álbuns requerem ser escutados em sequência com a devida atenção para serem entendidos, é um passo a mais, requer mais dedicação, mas a recompensa vale o esforço.